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quarta-feira, 2 de junho de 2010

"O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder

"Querida Hilde,Se o cerébro humano fosse tão simples ao ponto de podermos entendê-lo, nós seríamos tão idiotas que não conseguiríamos entendê-lo.     Um abraço,                                                                                               Papai"O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder


Editado pela primeira vez em 1991, “O Mundo de Sofia” (cujo título original é Sofies verden), de Jostein Gaarder, não é apenas um livro sobre filosofia, nem tampouco um mero romance fictício. É um inteligentíssimo artifício utilizado pelo apaixonado autor para encantar o público leigo com relação à filosofia.
O Mundo de Sofia faz um paralelo entre a história de Sofia Amundsen, uma menina de 14 anos, que vive na Noruega no ano de 1990, e a história da busca da humanidade pela sabedoria (sophia, em grego). O próprio título da obra é, portanto, uma metáfora, que enfatiza sua duplicidade.
Próximo a seu aniversário de 15 anos, a garota começa a receber cartões postais, vindos do Líbano, de um major misterioso para uma tal de Hilde Muller. Concomitantemente, um filósofo desconhecido começa a lhe mandar um curso de filosofia pelo correio. Cada momento da vida de Sofia, a partir de então, se entrelaça com os conhecimentos adquiridos no curso de uma maneira criativa e instigante. Sofia começa a questionar o mundo em que vive e descobre, por fim, que tudo que está a sua volta nada mais é que um fruto da imaginação do mesmo homem que lhe manda cartões postais, impressa em um livro que este escreveu para dar de presente a filha dele no aniversário de 15 anos dela.
O best-seller, que foi traduzido para mais de 40 idiomas, atravessa a história da filosofia desde os filósofos naturalistas, passando por grandes nomes como Sócrates, Descartes e Freud, até os filósofos contemporâneos. Porém, o que mais me encantou na obra foi a capacidade do autor de conseguir apresentar as respostas que cada filósofo encontrou para os mistérios da vida e, ao mesmo tempo, dar margem para o leitor construir sua  própria linha de pensamento. O livro nos faz "sair da proteção dos pêlos do coelho" e nos mostra a importância dos questionamentos filosóficos nas nossas vidas e na evolução de toda a ciência. Perguntas simples como "quem somos", "de onde viemos" e "existe verdadeiramente um Deus" tomam conotações completamente diferentes através da visão do autor e dos filósofos de outrora. O fascínio da obra, no entanto, está no fato de que ela não nos dá as respostas, mas nos incita a fazer as perguntas, para, assim, chegarmos a nossas próprias conclusões ou, pelo menos, iniciar o processo de questionamento sobre a vida, o mundo e a natureza.
"Penso, logo existo", disse Descartes. Precisamos, portanto, aprender a pensar filosoficamente e analisar as coisas que estão a nossa volta e dentro de nós para, assim, concretizar nossa existência como indivíduos singulares, naturais e como cidadãos. Ou seja, só seremos seres reais para nós mesmos, para o meio em que vivemos e para as pessoas com quem convivemos quando sairmos da alienação do cotidiano e começarmos a tentar desvendar nossa existência, através de questionamentos que poderão ou não nos dar as respostas que almejamos. O livro nos ajuda a fugir da ignorância rotineira e perceber que há algo muito maior acima, em meio e dentro de nós, que só precisamos prestar um pouco mais de atenção para conseguir enxergar.
Finalizadas as divagações, espero ter conseguido apresentar a tamanha riqueza e beleza do livro, que vai muito além da própria literatura. Para os leigos em filosofia, como eu, é o livro ideal para compreender um pouco melhor a história da humanidade, que é a nossa própria história, e a busca pela sabedoria. Apesar de ser um pouco longo e, por vezes, cansativo, acredito que essa leitura é um ganho não apenas literário, mas principalmente humano, afinal:

"Quem, de três milênios, não é capaz de se dar conta, vive na ignorância, na sombra, à mercê dos dias, do tempo"Johaan Goethe


Video-curiosidades:

Em 1999, o livro foi adaptado para um filme norueguês que não foi, porém, muito divulgado para além da Noruega.
Na Austrália, a obra foi apresentada em uma minissérie.

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