Páginas

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Contos dos Irmãos Grimm", Dra. Clarissa Pinkola Estés

Era uma vez uma linda menininha de lábios vermelhos como sangue e pele branca como a neve. Ou, salvo engano, talvez fossem dois irmãos, um menino e uma menina, que, perdidos na floresta, encontraram uma linda casinha feita de doces e guloseimas. Uma menina do chapéu vermelho que saíra para entregar doces à sua vovozinha...
Essas pequenas histórias que fazem brilhar os olhos e fascinar o coração dos pequenos, ao passo que trazem reflexão e ânimo para a alma dos "já não tão pequenos", são os encantadores contos de fadas.
A publicação do livro "Tales of the Brothers Grimm" data de 1999, mas a rica coleção de contos, cuidadosamente selecionada pela Dra. Clarissa Pinkola Estés possui uma tradição de séculos e pode ser considerada como um patrimônio da cultura mundial.
Os irmãos Grimm não são os contadores de tradição oral, ou seja, que transmitem a história através da fala. Nos períodos onde era esta a maneira de contar histórias que vigorava, podemos afirmar que a infinidade de contos que havia talvez não fosse capaz de se condensar para caber em livros. Aos poucos, muitas histórias foram esquecidas e acredito, inclusive, que muitas foram desprezadas. Também não é pequena a quantidade de pessoas que resolveu colocá-las na forma escrita. Exopo tem crédito por algumas fábulas com grandes ensinamentos para crianças e adultos. Há também os "autores" de contos roubados - e assim os defino pelo fato de que, apesar de tê-los enriquecido e abrilhantado, não podemos dar o mérito completo das histórias a esses ilustres "escrivães" -, como os irmãos Grimm, dos quais tratamos aqui, que tem seus contos, até hoje, como base para inúmeras outras histórias e adaptações de ordem secundária (ou terciária, ou quaternária).
Não. Contos de fadas não são "coisas de criança". Muito pelo contrário. Eles são capazes de modificar a vida e o espírito de todas as pessoas que os lêem. Uma coisa muito marcante desta específica coleção é o prefácio da sábia autora, que consegue abrir nossos olhos para as pequenas e, no entanto, extremamente grandes lições de vida que provêm das histórias que embalaram nossa infância, mas que para alguns, ou muitos, de nós teve seu aprendizado despercebido, quando o que nos interessava era a aventura e as emoções.
"Embora os contos de fadas terminem logo depois da décima página, o mesmo não acontece com a nossa vida. Somos coleções com vários volumes. Em nossa vida, ainda que um episódio possa terminar mal, sempre há outro à nossa espera e, depois desse, mais outro. Sempre há novas oportunidades para consertar o estrago, para moldar nossa vida da forma que emocionalmente merecemos. Não perca tempo odiando o insucesso. O insucesso é um mestre melhor do que o sucesso. Escute. Aprenda. Continue. Essa é a essência de todo conto. Quando prestamos atenção à essas mensagens do passado, aprendemos que há padrões desastrosos, mas também aprendemos a prosseguir com a energia de quem percebe armadilhas, jaulas e iscas antes de nos depararmos com elas ou de sermos nelas ou por elas capturados."
É com essas palavras que Clarissa introduz a magia dos contos de fadas: essas pequenas histórias que evocam idéias infinitamente sábias que durante séculos se recusaram a se deixar mutilar.
"Quer entendamos um conto de fadas cultural, cognitiva ou espiritualmente - ou de outras maneiras, como quero crer -, resta uma certeza: eles sobreviveram à agressão e opressão políticas, à ascensão e queda de civilizações, aos massacres de gerações e a vastas migrações por terra e mar. Sobreviveram a argumentos, ampliações e fragmentações. Essas jóias multifacetadas têm realmente a dureza de um diamante, e talvez nisso resida o seu maior mistério e milagre."
 
Mas, finalmente, o que será que concedeu aos contos esse aspecto de resistência a eras, lugares e acima de tudo, pontos de vista? Os contos tem a mesma atemporalidade dos sentimentos grandes e profundos nele gravados, capazes de afetar até as almas que parecem inatingíveis.
Incitam emoções e aprendizados profundos, registrados em um lugar longínquo do nosso ser, que são por nós conhecidos, mas que parecem saídos de uma outra vida, sendo magicamente evocados quando mais parecia que ficariam intocados no nosso subconsciente. Muitos contos trazem, subliminarmente ou diretamente, uma moral ou ensinamento - é o caso, por exemplo, das fábulas de Exopo. Outros, porém, dependendo do período e da situação histórica em que foram escritos, apresentam conceitos lastimáveis: preconceito e degradação do homem (muitos dos contos dos irmãos Grimm, por exemplo. Nenhum deles, no entanto, figura nesta coleção). Em todo caso, os contos atualmente difundidos são aqueles repletos de louvor por sua maneira mágica e interessante de nos indicar a maneira certa de agir, respeitando a si mesmo e ao próximo.
O ensinamento de valores como a indulgência, a compaixão, a justiça, a temperança, a prudência e, até mesmo, os limites é uma das diversas características dessas narrativas fantásticas. E, se a princípio, as crianças são o principal alvo das morais das histórias, são os adultos os que mais precisam conhecê-las ou relembrá-las. É por isso que os contos, de uma maneira geral, e esta excelente seleção, em específico, são tão notáveis e especiais, indicados para todas as idades, nações e eras, sem restrição.




Vídeo-curiosidades:

Mais uma vez, até por sua longevidade, é inumerável a quantidade de adaptações no teatro, no cinema e na televisão da magia dos contos. Apontarei, no entanto, alguns de meus preferidos.

A primeira indicação, com algumas concessões, como já era de se esperar da minha parte são os desenhos da Disney. Obviamente, apenas alguns são baseados em contos e não necessariamente da mesma forma que foi escrita pelos Irmãos Grimm. Até porque, se a base eram os contos deles, há uma deturpação gigantesca na maneira de contar a história. No entanto, muitas das famosas histórias ganharam vida no coração das crianças (e no meu) através da interpretação de Walt Disney, como é o caso de "Branca de Neve e os sete anões"(o primeiro longa metragem da produtora) e "Cinderella"(cujo título original seria "A Gata Borralheira", como já era de se esperar). "A Princesa e o sapo" foi, recentemente, lançada, mas eu confesso que não tenho as melhores opiniões sobre o filme, que apresenta conceitos distorcidos e, na minha concepção, é bastante assustador para crianças. Mas, buscando nos clássicos, o que se encontra é muita beleza e finais felizes.
Há algum tempo atrás, uma sequência de filmes baseada nos Irmãos Grimm foi lançada, sendo o mais famoso deles "Branca de Neve e os sete anões", que é realmente um filme muito interessante (o qual eu assisti mil vezes quando criança e algumas depois de grande). Confesso que não me lembro muito bem dos outros, mas acredito que devem também ser de qualidade. A produtora chamava-se "Cannon Movie Tales".
Em 2005, estrelando Matt Damon, foi lançado um filme extremamente interessante chamado "Os Irmãos Grimm", que, ao passo que relatava (meio que mentirosamente) como os autores "criaram" as histórias, misturava suas criações à vida real, tornando tudo uma coisa meio mágica, meio sinistra, meio maluca, mas bem divertida.
Recentemente, a ABC lançou uma série chamada "Once Upon a Time", que entrelaça os contos dos irmãos Grimm e, de alguma maneira, os traz para a vida real. Não é uma série infantil, tampouco banal. Até agora, está muito interessante.
Finalmente, dirigido por Tarsem Sign e estrelando Julia Roberts como a rainha má, foi lançado, neste ano, o filme "Espelho, espelho meu" (Mirror, mirror), o qual eu ainda não tive a oportunidade de assistir, mas farei isso logo, logo, pois meu encanto por essas histórias não me permite esperar muito.

Também, ainda este ano, com Charlize Theron e Kristen Stwart (da qual eu tenho um péssimo conceito muito bem fundamentado), será lançado "Snow white and the Huntsman". O produtos é o mesmo de "Alice no país das maravilhas". Apesar de não preferir a atriz que representa esta nova Branca de Neve, acredito que o filme será bom. Também ainda a ser visto.