tag:blogger.com,1999:blog-4225848571030989562024-03-05T08:59:09.134-03:00Literatura para a sobremesaResumo, crítica, reflexão e análise de obras da literatura nacional e internacional. Desmistificando a boa literatura: os bons livros não são tão densos ou incompreensíveis quanto imaginamos.Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.comBlogger43125tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-3010590377240116452016-04-26T18:44:00.000-03:002018-05-29T17:11:35.548-03:00"O diário de Anne Frank"<div style="text-align: justify;">
<span style="text-align: justify;">No ano de 1947, a primeira versão de "O diário de Anne Frank", intitulada "O anexo: notas do diário", foi publicada em sua língua original, o holandês. No entanto, somente quando traduzido para o inglês, em 1952, o livro conquista a crítica mundial e a atenção de leitores de diversos países. Existem três versões do diário: a versão A é a original, mantida desde o momento em que Anne recebe o diário até a última carta escrita; a versão B é a edição iniciada por ela mesma, quando, ao ouvir o pedido do ministro Bolkenstein na </span><i style="text-align: justify;">Radio Oranje </i><span style="text-align: justify;">para que refugiados lhe entregassem diários e anotações pessoais, ela decide publicá-lo após a guerra; e a versão C, uma reedição feita pelo pai de Anne Frank. </span></div>
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<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhRDfUMel58TPdcb80cnqZ8rHtpkDaOaGeXNryICZJA6YFW6W6fPSYV_9Rla0ulv43-kkRJao1pnldzRkT-bgd1jvwyAeKzwaOudHwoWeBsne1t2KJ0Ohv08e-OnwUflqm2QuN4uBEPckOo-opBCW99FcA_cfoVzcq9LnSsr-RCEad524c9tVYDntR3Cwsdrf32ruzem9U81OzLQmmH0QsS=" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img alt="Ver imagem original" border="0" src="http://images.mentalfloss.com/sites/default/files/styles/article_640x430/public/anne_writing.jpg" height="215" width="320" /></a>A coletânea de trechos do diário foi muito bem elaborada no sentido de escolher as partes que fazem do livro uma obra literária, por vezes séria, mas por vezes adolescente. Há, inclusive, momentos de suspense, onde as famílias estão para serem descobertas, mas não o são, algo que poderia-se esperar de uma história fictícia, tornando o livro ainda mais interessante.</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">O livro não carrega a atmosfera pesada da Segunda Guerra Mundial. Muitos acontecimentos se dão rapidamente e de maneira prática, o que faz sentindo por não ser uma história romantizada, como "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2011/06/menina-que-roubava-livros-markus-zusak.html">A Menina que Roubava Livros</a>", mas verídica, permitindo, inclusive, que o leitor se veja capaz de lidar com essa situação, que, de tão aterrorizante, parece irreal, e, no entanto, é totalmente possível.</span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Annelies Marie Frank, ou simplesmente Anne
Frank, nasceu no dia 12 de junho de 1929 em Frankfort, na Alemanha. Seus pais,
Otto Frank e Edith Holländer, alemães de origem judia, possuíam também uma
outra filha mais velha, chamada Margot. Até o ano de 1933, a família Frank
vive em Frankfort, onde o pai, Otto, era diretor de um banco. Porém, como
consequência da crise econômica e do crescente antissemitismo, eles decidem se
mudar para Amsterdã, nos Países Baixos. Hitler acabara de chegar ao poder,
glorificando a raça ariana. Ele instaura um regime de terror, banindo os judeus
da sociedade.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Ao chegar aos países baixos, Otto cria sua
própria empresa, enquanto suas filhas aprendem holandês, língua na qual Anne
viria a escrever seu diário. No entanto, em 1940, os Países Baixos são
invadidos pela Alemanha e severas medidas contra os judeus são impostas,
proibindo Otto de exercer seu trabalho. Ele, então, pede a seus associados,
Kleiman e Kugler, que emprestem seus nomes à empresa para que ele não fique
registrado como proprietário. Assim que Margot recebe uma convocação da SS
(Schutzstaffel, uma organização paramilitar ligada ao partido nazista), a
família decide se refugiar no "anexo", que é o antigo posto de
trabalho da usina de Otto, escondido por uma porta giratória em formato de
biblioteca. Anne tem 13 anos quando começa a viver em esconderijo e é a partir
de então que ela escreve a maior parte de seu diário. Com ela, vivem mais sete
pessoas durante dois anos, supridas em alimentos, vestimentas e livros pela
secretária e amiga de Otto, Miep Gies, seu marido Jan, outra secretária, Bep
Voskuyl e os associados de Otto. Os habitantes do anexo são Otto, Edith, Anne e
Margot Frank; Augusta, Hermann e Peter Van Pels (de codinome Van Daan no
diário) e o dentista Fritz Pfeffer (de codinome Albert Dussel). Finalmente, em
1944, os habitantes do anexo são descobertos pelo serviço de espionagem da SS,
bem como Kleiman e Kugler. Não nos é dito quem os havia denunciado. Não há
suspeitas sob Bep e Miep, que consegue guardar o diário de Anne. Ela tenta, em
vão, evitar a deportação da menina. Segundo dados recolhidos pela cruz vermelha
holandesa, Anne foi deportada para o campo de Westerbork, perto da fronteira
alemã, e, em seguida, foi transferida, junto a sua família, em direção à
Auschwitz. Finalmente, é deslocada, com sua irmã, à Bergen-Belsen, onde
provavelmente morreu de tifo em março de 1945.</span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<a href="http://sanderlei.com.br/img/Anne/Anne-Frank-09.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img alt="Ver imagem original" border="0" src="http://sanderlei.com.br/img/Anne/Anne-Frank-09.jpg" height="177" width="320" /></a><span style="font-family: inherit;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">No diário, Anne encontra um amigo e
confidente, que ela instintivamente personifica para diminuir a solidão do
abrigo. Dessa forma, seus escritos tomam o formato de carta e não são
simplesmente monólogos, uma vez que ela dá também a palavra à Kitty, nome pelo
qual ela apelidou o diário. Diversas vezes, ela refere-se a si mesma na
terceira pessoa, como se quisesse analisar as situações de fora, diferenciando
as duas "Annes" que ela diz representar: em sociedade, uma Anne
insolente e impulsiva, que, indiferente, dá de ombros quando o assunto não lhe
agrada, mas, em seu interior, uma menina doce, sonhadora, inteligente e
preocupada. Nosso primeiro impulso, ao vê-la apresentando-se assim, é, talvez, o
de desqualificar esse aparente autoconhecimento como a ingenuidade de uma
adolescente que, mesmo revoltada e impaciente com o mundo à sua volta, se
conhece sempre superior ao que os outros imaginam. No entanto, os mais sensatos
e eloquentes adultos se vêem tantas vezes incompreendidos e mal interpretados,
pois, ao passo que somos falhos ao colocar em palavras nossos verdadeiros
pensamentos e sentimentos, são também os outros falhos em os decifrar, seja por
ignorância ou dissimulação. Além disso, a vivência faz com que, voluntária ou
involuntariamente, resguardemos nossos sentimentos por segurança, na tentativa
de mascararmos nossas fraquezas e evitarmos o julgamento alheio. Esse
comportamento pode ser equivocado, pois, para os que, como Rousseau, acreditam
que o homem é genuinamente bom e é a sociedade o transforma, há muita
bondade a ser encontrada no íntimo de cada pessoa. Sem mais divagações, assim
também, acredito que Anne era, de fato, emocionalmente superior àqueles à sua
volta, ainda que com sua falta de moderação.</span></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Nos escritos, encontramos uma
menina em plena descoberta da vida: seus amigos, sua escola, seus primeiros
amores. Sua alegria de viver é genuína e, apesar das drásticas mudanças que ela
vivencia, dificilmente demonstra ódio ou tristeza. Ela não tece muitos
comentários sobre o momento político e econômico - também não poderia se
esperar isso de uma pré-adolescente -, mas somente explica um pouco sobre as
novas leis e restrições aos judeus e como isso afetaria a vida de sua família. Durante
muito tempo, as novas limitações não parecem lhe incomodar, mas, somente quando
sua irmã é convocada pela SS e ela compreende a necessidade de entrar na
clandestinidade, ela toma consciência da gravidade da situação. Assim, lhe é
requerido um amadurecimento mais rápido que o previsto, ao que ela corresponde
revelando seu espírito forte e sólido. Ela evita se lamentar, apesar da
angústia trazida pela clandestinidade e busca sempre um olhar positivo, algo
possível talvez pelo fato de ela não se interessar tanto pela guerra e mesmo
pelo destino dos judeus. Por mais cruel que essa suposição possa parecer com a
própria Anne – a de um desinteresse pelo próprio fado - há de se considerar
primeiro a pouca idade de nossa escritora e, depois, o fato de que muitas vezes
a ignorância, e não o conhecimento, leva à felicidade, ainda que esta não seja
autêntica. </span>Anne tem muitas resoluções e discernimentos de um adulto e, por isso, considera Peter, apenas um pouco mais velho que ela, um fraco por suas dúvidas e carências. A realidade é dura para uma adolescente que tem que conviver com a perseguição, mas Anne encontra meios de sobreviver a isso, seja fantasiando ou escrevendo. <span style="font-family: inherit;">A segurança emocional da menina fica ainda mais evidente quando
comparada às reações dos outros, como, por exemplo, o fato da sra. Van Daan, em
desespero, falar em bala na cabeça, prisão, enforcamento e suicídio. Além
disso, tanto Margot quanto Peter dizem constantemente à Anne: "Ah se eu
tivesse sua força e coragem, se eu perseguisse meus objetivos com tanta vontade
quanto você, se eu tivesse tanta energia e perseverança...". </span>A história de Anne é, portanto, também uma história de esperança e felicidade,
pois, apesar de tantos fatores externos, políticos e sociais, se contraporem à
alegria e paz da menina, ela não se deixa atingir e permanece firme em seus ideais, sem sinais de depressão e desistência. Talvez, inclusive, gere mais comoção e reflexão nas pessoas que diversos livros de auto-ajuda por seu caráter verossímil e exemplificativo.</div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Apesar de todos os esforços para sempre ver as coisas pelo lado
bom, ela nos relata alguns fatos inquietantes sobre essa vida em
clandestinidade. Por exemplo, sempre que um apito estridente é ouvido, todos
ficam apavorados. Há ainda toda uma organização a ser levada em conta e uma grande
engenhosidade da família Frank e seus protetores ao inventar histórias para
evitar que os alemães os procurem. Para que tudo corra bem no anexo, é
necessário seguir um rigoroso regulamento que inclui silêncio e discrição. Os
habitantes no anexo também não podem sair, o que acaba levando a uma grande
dificuldade de convivência. Anne tem vários problemas de relacionamento,
principalmente com a mãe, mas também com diversos outros moradores. A única
pessoa que ela realmente ela ama e admira é seu pai. Assim, contrariando a
hipótese mais direta de que o fato de estar escondida, vivendo em uma guerra e
procurada pelos alemães fortaleceria os laços familiares de Anne, a convivência diária e exaustiva, sem a liberdade de ir e vir, faz com que as
angústias se amontoem, aumentando as tensões. É quando ela acha em Peter uma distração através do romance, mais uma ferramenta que a cabeça dela usa, inconscientemente, para não adoecer ou esmorecer. Mas isso é uma percepção que apenas o leitor, vendo tudo de fora, pode ter. Para Anne esse amor é bem real. </span>E, nesse ponto, o livro tangencia, por vezes, um romance pré-adolescente, ate mesmo no sentido do amor fantasioso, ou seja, imaginar no amado um ser encantador e, geralmente, bem superior ao que ele de fato é. A isso se deve também a decepção de Anne ao perceber as fraquezas de caráter de Peter.</div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Com a guerra e, principalmente, com suas
leituras no anexo, Anne levanta diversos questionamentos sobre a vida e as
pessoas.<i> "Você saberia me dizer por
que as pessoas escondem, com tanto cuidado, suas personalidades?"</i>, <i>"por que confiam tão pouco uns nos
outros"</i>. Sua evolução intelectual é perceptível até pela própria Anne.
<i>"Estou muito contente de ter
aprofundado meus conhecimentos na espécie humana"</i>. De fato, ela sente
que amadureceu. Essa maturidade a leva a constantes alterações de humor e de opinião,
chegando a parecer contraditória. Por exemplo, após duras críticas à sua irmã
Margot, um belo dia ela muda completamente sua visão, apontando Margot como
"tão gentil, muito mudada, tornando-se uma verdadeira amiga". E, no
entanto, não temos como saber se quem mudou foi Margot ou os olhos de Anne. O ser
humano que não é capaz de ceder e mudar de visão, é incapaz de evoluir.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<a href="https://janeaustensworld.files.wordpress.com/2010/04/anne-frank-real.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img alt="Ver imagem original" border="0" src="https://janeaustensworld.files.wordpress.com/2010/04/anne-frank-real.jpg" /></a><span style="font-family: inherit;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">A última carta de Anne, que finaliza o
diário, se termina com seu desejo de que a família conseguisse enxergar o lado
dela que, aparentemente, não é notado. Anne é uma jovem adolescente em busca de
autoconhecimento que não compreende por que a guerra existe e por que as pessoas
se machucam com tanta frequência, tanto em termos bélicos, quanto em termos
pessoais. Tudo o que ela gostaria era de aproveitar a natureza, conquistar seus
sonhos e mostrar o papel da mulher moderna - sendo assim diferente da sua mãe.</span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;">O sonho de Anne é ser jornalista e, no futuro,
uma célebre escrivã. Ela tinha a pretensão de publicar um livro ao final da
guerra, baseando-se no diário. Mas, apesar de sua triste história, não realizou
Anne seus maiores desejos? Afinal, "O diário de Anne Frank" é um dos
mais famosos e divulgados relatos verídicos sobre a segunda guerra mundial em
formato de livro autobiográfico.</span></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;">O anexo da casa onde Anne Frank ficou escondida com sua família, em Amsterdã, na Holanda, pode ser visitado até os dias de hoje. Tive a oportunidade de conhecê-la em maio de 2018*.</span></span><br />
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;">Para mais informações sobre a história de Anne, clique <a href="http://www.annefrank.org/">aqui</a>.</span></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;"><i>Videocuriosidades:</i></span></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;">Em 1959, após grande repercussão da versão em inglês, uma adaptação cinematográfica do filme foi dirigida por George Stevens. O filme ganhou três Oscars<i> </i>em 1960.</span></span></div>
</div>
<div style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-align: justify;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;">Desde então, diversas outras adaptações de diversas nacionalidades, inclusive televisivas, foram criadas, incluindo a francesa de 1999, dirigida por Julian Wolff, um documentário americano de 1995, dirigido por Jon Blair ("Anne Frank Remembered") e, mais recentemente, um filme alemão, lançado em janeiro de 2016, dirigido por Hans Steinbichler.</span></span><br />
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span>
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span>
<span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: inherit;">*Post atualizado.</span></span></div>
</div>
<!-- Blogger automated replacement: "https://images-blogger-opensocial.googleusercontent.com/gadgets/proxy?url=http%3A%2F%2Fimages.mentalfloss.com%2Fsites%2Fdefault%2Ffiles%2Fstyles%2Farticle_640x430%2Fpublic%2Fanne_writing.jpg&container=blogger&gadget=a&rewriteMime=image%2F*" with "https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhRDfUMel58TPdcb80cnqZ8rHtpkDaOaGeXNryICZJA6YFW6W6fPSYV_9Rla0ulv43-kkRJao1pnldzRkT-bgd1jvwyAeKzwaOudHwoWeBsne1t2KJ0Ohv08e-OnwUflqm2QuN4uBEPckOo-opBCW99FcA_cfoVzcq9LnSsr-RCEad524c9tVYDntR3Cwsdrf32ruzem9U81OzLQmmH0QsS=" -->Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-69985931303864810752016-02-24T18:05:00.005-03:002016-04-20T08:30:38.393-03:00"Persuasão", Jane Austen<div style="text-align: justify;">
<div style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;">
<img alt="Ver imagem original" border="0" src="http://austenonly.files.wordpress.com/2010/02/persuasion1.jpg" height="269" width="320" /></div>
<a href="http://austenonly.files.wordpress.com/2010/02/persuasion1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a>Último romance escrito por Jane Austen, "<i>Persuasion</i>" (em português, "<i>Persuasão</i>") foi finalizado em 1816 e publicado <i>postmortem</i>, em 1818. Posterior à "<i><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2011/11/emma-jane-austen.html">Emma</a></i>", a obra tem um toque de sobriedade não encontrado em seus precessores, se contrapondo à vivacidade de "<i><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2010/07/orgulho-e-preconceito-jane-austen.html">Pride and Prejudice</a></i>" e a indulgência satírica de "<i><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2014/09/northanger-abbey-jane-austen.html">Northanger Abbey</a></i>". Enquanto títulos como "<i><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2011/04/razao-e-sensibilidade-jane-austen.html">Sense and sensibility</a></i>" indicam um conflito de valores discordantes, "<i>Persuasion</i>" é exclusivo em sua temática e, ainda assim, amplamente ambíguo. As obras citadas, associadas a "<i><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2013/06/mansfield-park-jane-austen.html">Mansfield Park</a></i>", completam o conjunto de romances longos publicados pela autora, e, portanto, com esta resenha, o blog finalmente possui uma análise para cada uma das obras mais relevantes de Austen.</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;">
</div>
<div style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;">
</div>
<div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;">
Anne Elliot, a segunda filha do barão Walter Elliot, é uma mulher de 28 anos tranquila e solitária. Ela carrega consigo uma seriedade melancólica. Seu único arrependimento na vida é de não haver se casado com Frederic Wentworth oito anos antes, quando ele havia proposto. Seu pai era contra a união e sua grande amiga, a sra. Russel, lhe havia persuadido de que esta era uma união desfavorável, pois Frederic não tinha relações sociais ou poder financeiro, mas apenas o futuro incerto de um oficial da Marinha em início de carreira. Após todos esses anos, no entanto, Frederic retorna rico e com o título de capitão, após adquirir grande prestígio por seu sucesso nas guerras napoleônicas. Ele guarda ainda uma grande amargura por Anne e, diante de uma mulher que foi tão facilmente manipulada, está convicto de que a ela falta caráter e firmeza de espírito. Muitas são suas pretendentes, incluindo as outras irmãs de Anne, a qual ele parece ignorar. Pelo menos, a princípio.</div>
"<i>Persuasion</i>" é intrigantemente moderna na forma como nos apresenta a vida íntima de Anne. Nenhuma outra personagem parece familiarizada com seus sentimentos. Somente o leitor conhece suas verdadeiras emoções. Tímida e reservada, a modéstia de Anne chega a ser dolorosa. Ela toca piano muito bem, mas sente que, ao fazê-lo, está "satisfazendo somente a si mesma". Essa introversão da protagonista afeta a textura do romance, que, mais que qualquer outro de Austen, exige uma atenção especial aos detalhes. Da mesma forma que Anne está sempre atenta às mais leves nuances na fala de cada interlocutor, também o leitor precisa estar. Por exemplo, ao longo da obra, as palavras "persuadir", "persuasão" e "persuadível" aparecem por volta de 30 vezes, enfatizando a importância das escolhas pessoais e levantando um questionamento sobre qual é o melhor valor: a conviccção ou a flexibilidade. Afinal, se por um lado a flexibilidade é tantas vezes indispensável para promover a compreensão, incitar o diálogo e alimentar a empatia, por outro, a convicção nos ajuda a lidar com nossas próprias escolhas. Somente quando acreditamos nos caminhos que definimos para nós mesmos, conseguimos seguir sem remorso e arrependimento. A convicção nos dá clareza, ainda que tudo dê errado, por nos oferecer a certeza de trilharmos nossa própria estrada e sermos donos de nossa história. Mas, ao passo que a flexibilidade exacerbada pode nos tornar facilmente sugestionáveis, há uma linha muito tênue entre uma forte convicção e a arrogância. Determinação beira à teimosia e verdades absolutas constantemente nos conduzem a situações lamentáveis.<br />
<br />
<a href="http://images2.fanpop.com/image/photos/14600000/Persuasion-jane-austen-14651726-400-265.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Ver imagem original" border="0" src="http://images2.fanpop.com/image/photos/14600000/Persuasion-jane-austen-14651726-400-265.jpg" height="212" width="320" /></a>Ao mesmo tempo, o livro apresenta interesse em problemas de maior âmbito social, como a mudança dos papéis do homem e da mulher na sociedade, refletida na alteração das expectativas, valores e conduta de cada um. Há uma contraposição direta entre dois grupos da sociedade na obra: os nobres de berço, representados por Sir Walter e os que, por mérito, conquistaram riqueza e patentes, onde se encontram Fréderic e seu irmão, o almirante Croft.<br />
Logo no início, encontramos o Sr. Walter Elliot lendo seu livro preferido - um livro sobre aristocracia - cuja parte que mais lhe agrada é a que se trata dele mesmo. Seu notável narcisismo é o principal e único ponto que constitui seu caráter. Ele acredita que a aparência física é a melhor medida de valor de uma pessoa e esse seu superficial orgulho próprio é apoiado e compartilhado por outras personagens. Ele chega, em um momento, a afirmar que o sucesso naval nada mais é que uma forma de alavancar pessoas de berço inferior à uma distinção indevida. Por isso, quando descobre que o almirante Croft será seu inquilino, fica satisfeito não pelos méritos navais deste último, mas por achá-lo muito apresentável em termos de beleza, tão grande é sua futilidade.<br />
<br />
No entanto, assim que o almirante chega à casa, logo se livra dos imensos espelhos do quarto do Sr. Walter, já que não não compartilha de seu pomposo egocentrismo. Além disso, é notável a diferença de relacionamento que o sr. Walter tem com sua mulher, quando comparado a de outros personagens. Ambos participam ativamente das atividades do outro: tanto a Sra. Croft conhece amplamente o ofício de seu marido, quanto o sr. Croft colabora bastante com as atividades domésticas. Eles também se dividem na hora de dirigir. Ou seja, levando em conta essas e outras características, pode-se afirmar que esse é o ideal de Austen de um casal moderno. A representação que Austen faz da Marinha carrega a ideia de uma sociedade aberta e meritocrática, na qual a autora acredita. Sua admiração por esta instituição pode ser também associada ao fato de dois de seus irmãos terem servido na guerras francesas, sendo que um deles tornou-se também almirante.<br />
<br />
<a href="http://images1.fanpop.com/images/image_uploads/Persuasion-2007-jane-austen-993754_1024_576.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img alt="Ver imagem original" border="0" src="http://images1.fanpop.com/images/image_uploads/Persuasion-2007-jane-austen-993754_1024_576.jpg" height="180" width="320" /></a>Outro ponto de contraste que podemos notar entre esses personagens é sua atitude com relação aos sentimentos. Enquanto o Sr. Walter é emocionalmente incapacitado, os Croft parecem possuir um autoconhecimento completo. Assim, "<i>Persuasion</i>" é também um romance sobre aprender a sentir. Apesar de iniciar-se no verão, a maior parte da história se passa no outono e no inverno e, assim, a atmosfera do livro é maculada pelo declínio. Nos é dito que Anne "foi uma bela menina, mas logo seu brilho devanesceu". Agora, aos 27 anos, ela está "velha demais" para ser ainda solteira.<br />
A história do crescimento de Anne é também a história do desencadeamento de suas emoções. Logo no início, ela não é ninguém para o Sr. Walter e Elizabeth: sua palavra não tem peso, seu conforto sempre dá lugar ao dos outros. Ela chega a afirmar que "um forte senso de dever não é algo ruim para uma mulher" e, no entanto, seus sentimentos com relação a essa obrigação para com os outros precisam constantemente ser suplementados pela crença que ela possui em si mesma. Na verdade, ainda muito jovem, nossa protagonista havia sido forçada à prudência e somente aprendeu sobre romance quando já estava mais velha, uma sequela natural de sua infância incomum. Assim, com o passar do livro, suas emoções naturais vão sendo revitalizadas.<br />
<a href="http://images1.fanpop.com/images/image_uploads/Persuasion-2007-jane-austen-995614_1024_576.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Ver imagem original" border="0" src="http://images1.fanpop.com/images/image_uploads/Persuasion-2007-jane-austen-995614_1024_576.jpg" height="180" width="320" /></a>Ao mesmo tempo, essas reais emoções precisam ser divulgadas discretamente. Por isso, o capitão Wentworth revela seus sentimentos por Anne numa carta. Este é um padrão no trabalho de Austen: as cartas permitem às personagens articular seus sentimentos de uma forma que, em público, seria inapropriada. No final, Frederic e Anne se reencontram no amor, agora de uma forma mais madura, consciente e, portanto, mais sólida. Mas, ainda assim, as incertezas sobre o futuro de Wentworth na Marinha, como a possibilidade de futuras guerras, ameaçam a felicidade de Anne. Nossa personagem parece, portanto, sempre fadada à melancolia.<br />
<br />
<br />
<u><i>Videocuriosidades:</i></u><br />
<br />
Em sua maioria, as adaptações cinematográficas mais conhecidas - e nem tão conhecidas assim - de <i>Persuasion </i>estrearam na TV.<br />
A rede BBC fez duas minisséries, uma em 1960 - com Daphne Slater e Paul Daneman - e outra em 1971 - com Anne Firbank e Bryan Marshall.<br />
Em 1995, uma adaptação com Amanda Root e Cláran Hinds estrou na televisão.<br />
Finalmente, outro filme televisivo estrou em 2007 com Sally Hawkins e Rupert Penry-Jones. Este último, que eu assisti, não é dos melhores e fica longe de adaptações como as de <i>Emma </i> e <i>Pride and Prejudice</i>, mas se mantem fiel ao livro, nos ajudando a captar sua atmosfera melancólica e, talvez, por isso mesmo, não seja um filme tão atraente. </div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-65663775965330632992015-02-12T11:20:00.003-03:002016-02-24T18:18:40.864-03:00"Little Women", Louisa May Alcott<div style="text-align: justify;">
<div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; margin-top: 0in;">
<a href="http://www.themarysue.com/wp-content/uploads/2014/11/littlewomen.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://www.themarysue.com/wp-content/uploads/2014/11/littlewomen.jpg" height="180" style="cursor: move;" width="320" /></a><span lang="PT-BR">Publicado em 1868, "<i>Little
Women</i>" (traduzida para o português como "<i>Mulherzinhas</i>"
ou <i>“Pequenas Mulheres”</i>ambos títulos
com os quais não me identifiquei), de Louisa May Alcott, é reconhecido como um
dos mais amados clássicos da literatura infantil de todos os tempos. Atemporal
em sua evocação do ideal de harmonia familiar e convívio fraterno, foi
originalmente escrito como uma história "para meninas", mas logo
transcendeu os limites de tempo e idade, tornando-se tão popular entre os
adultos quanto entre as crianças.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">É difícil identificar-se apenas com
um dos personagens. Seja a linda e doce Meg ou a independente e original Jo; a
delicada e amável Beth ou a bela e precose Amy, o bebê da família. Desde a
primeira página do clássico sobre mocidade, mergulhamos no círculo familiar dos
March, onde somos convidados a presenciar uma tipicamente animada discussão
entre as garotas. O laço de intimidade e empatia estabelecido entre leitor e
personagens é firme e imediato, extinguindo-se após o fim da última página, ou
ainda perdurando na reflexão pós-literal.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">Escrito a partir da sugestão de seu
editor, que queria uma "história para meninas", o livro oferece uma
caracterização tão ricamente imaginativa e visualmente viva que sentimo-nos, ao
final do livro, como se estivéssemos dando um adeus de despedida a velhos
amigos. Apesar da modéstia de Alcott com relação ao livro, o grande sucesso da
obra assegurou que mais uma vez as cortinas se abririam para o drama doméstico
da família March em<span class="apple-converted-space"> </span><i>"Good
Wives"</i>, que foi publicado no ano seguinte<i>.</i><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">Lido
por muitos, enquanto crianças, uma vez que o livro foi originalmente escrito
para esse público, tornou-se, indiscutivelmente, um livro também para adultos.
Seu atrativo ao leitor infantil, preferencialmente feminino, é bastante óbvio.
A excentricidade de Jo e seu jeito "de menino", os dramas e as
crises, o estilo de prosa lúcido e despretencioso: tudo isso torna a leitura
deliciosamente agradável. Mas qual é o encanto para adultos? É exatamente nesse
sentido que um aspecto ainda mais interessante é ressaltado. Enquanto<span class="apple-converted-space"> </span><i>Little Women<span class="apple-converted-space"> </span></i>pode ser um livro charmosamente
simples, retratando um mundo relativamente inocente, está longe de ser um livro
ingênuo. Em sua essência está a mensagem de que, na vida, a experiência é a
melhor professora, e que as melhores lições são aprendidas a partir da
adversidade.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><a href="http://doctormacro.com/Images/Leigh,%20Janet/Annex/Annex%20-%20Leigh,%20Janet%20(Little%20Women)_01.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Ver imagem original" border="0" height="320" src="http://doctormacro.com/Images/Leigh,%20Janet/Annex/Annex%20-%20Leigh,%20Janet%20(Little%20Women)_01.jpg" width="237" /></a>O livro
de Alcott, conscientemente, ecoa a obra "<i>The Pilgrim's Progress</i>",
de John Bunyan. Este é o livro que<span class="apple-converted-space"> </span><i>Marmee
-</i> afetuoso apelido com o qual as filhas chamam a mãe - dá a cada
uma das filhas, como um guia instrutivo para ajudá-las na jornada da vida. Elas
são encorajadas a consultar a história regularmente, na esperança de que o
conto de Bunyan reenforce as lições de moral que a mãe tenta transmitir através
de sua sabedoria prática, além de consolá-las em tempos de dificuldade. Isso as
assegura que não estão sozinhas em suas lutas, reconfortando-as. Assim, a obra
exerce um poderoso encanto nos leitores adultos, lembrando-os da alegria
inocente da infância e dos obstáculos a superar na juventude, os quais não
aparentam mais ser um problema na vida adulta. Mostra o sofrimento como uma
parte necessária da experiência humana, mas confirma que essa experiência pode
também ser muito positiva. Da experiência, surge a sabedoria.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">De
fato,<span class="apple-converted-space"> </span><i>Little Women<span class="apple-converted-space"> </span></i>possui diversos contos que
exemplificam, com um humor fascinante, várias lições de moral.<span class="apple-converted-space"> </span><i>Marmee</i> acredita firmemente
na virtude do auto-aperfeiçoamento, uma convicção que, indubitavelmente, ecoa
os valores do pai da autora, que era conhecido por suas visões não-ortodoxas de
educação, de que os estudantes deveriam estar ativamente envolvidos no processo
de aprendizagem. Por sua vez, cada menina se depara com diversos testes de sua
força de caráter ou desafios de fraquezas pessoais. Assim, Jo aprende a
importância do perdão e de controlar seu gênio quando sua irmã Amy quase se
afoga em um rio congelado; e Meg aprende o valor da modéstia e de ficar feliz
com o que tem quando ela se humilha na festa dos Morffats. As meninas também
enfrentam desafios coletivos, os quais elas precisam negociar em grupo, como
quando<span class="apple-converted-space"> </span><i>marmee<span class="apple-converted-space"> </span></i>pergunta se elas estariam
dispostas a sacrificar o café-da-manhã de Natal - um raro e ansiado regalo em
tempos austeros - para ajudar a pobre família Hummel. Essas vívidas lições
ilustram o fato de que há outras pessoas em situações bem piores que os March.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<div style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;">
<span lang="PT-BR">Este
triste episódio é compensado pela comédia do experimento do "descanso e
brincadeira": um grande fracasso, mesmo com a determinação das garotas de
aproveitar sua libertação das tarefas diárias. Mais uma vez, as meninas chegam
a conclusão de que<span class="apple-converted-space"> </span><i>marmee<span class="apple-converted-space"> </span></i>sabe o que é melhor para elas. Sem
a estrutura oferecida pelas responsabilidades domésticas, as meninas se vêem
sem rumo. Esta é uma casa que prospera na tranquilizadora regularidade da
rotina e tradição, com refeições familiares e certezas diárias, além de uma
insistência puritana no valor do trabalho duro. Estrutura e previsibilidade
fornecem conforto, gerando harmonia doméstica e enfatizando as alegrias do
companheirismo.<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<a href="http://static.guim.co.uk/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2015/4/10/1428663059962/March-girls-little-women-007.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img alt="Ver imagem original" border="0" height="192" src="http://static.guim.co.uk/sys-images/Guardian/Pix/pictures/2015/4/10/1428663059962/March-girls-little-women-007.jpg" width="320" /></a><span lang="PT-BR">Em
diversas maneiras, o sucesso dos contos de Alcott pode ser atribuído à sensação
de bem estar que eles transmitem, que vem de seu constante, e nada ingênuo,
otimismo. É um otimismo baseado na fé cristã -<span class="apple-converted-space"> </span><i>Little Women<span class="apple-converted-space"> </span></i>enaltece valores como abnegação,
amor e tolerância - e na crença de que o bem e a justiça prevalecem. Mesmo que
cada personagem sofra, em pequenas e grandes instâncias, no fim, a aflição é
superada. Beth sobrevive de seu surto de febre escalarte, sempre com a
paciência de uma santa, e o pai, de quem elas são separadas logo no início do
livro, consegue voltar da guerra. O sofrimento é parte da vida e é nossa
atitude com relação a ele que define nossa experiência. Enquanto Beth parece
ter nascido preparada para as provas da vida, as outras garotas tem um longo
caminho a percorrer no desenvolvimento da paciência e tolerância.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">Ao
mesmo tempo que acalma e tranquiliza, a obra é extremamente divertida e, por
vezes, hilária. Seus reservados prazeres e dramas são muitos. A narrativa é
caracterizada pela leveza no toque, perfeita no humor gentil que põe graça aos
defeitos das garotas. Vemos a impetuosa Joe lutando contra sua língua afiada,<span class="apple-converted-space"> </span><i>"pensando que manter seu
temperamento em casa é uma tarefa mais difícil que enfrentar um ou dois
rebeldes"</i>, e rir afetuosamente da precoce Amy que poderia<span class="apple-converted-space"> </span><i>"tocar doze notas, fazer
crochê e ler francês sem errar a pronúncia de mais de dois terços de
palavras".</i> Certamente, a mimada Amy, a clássica caçula, é
frequentemente o foco dos gracejos humorísticos da narradora: sua vaidade, amor
pelas coisas bonitas e modismos passageiros fazem dela o alvo perfeito.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">Porém,
nem todo o humor do livro é de variedade gentil. A fantástica descrição mordaz
da frívola e superficial Sra. Moffat tem um genuíno ferrão em sua cauda. A
cultura dos Moffat de vaidosa superficialidade, como testemunhado pela
impessionável Meg, é fortemente reprovada por desencorajar todos os valores
cultivados por<span class="apple-converted-space"> </span><i>marmee.</i><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">O livro
agrada não somente pela admirável criatividade com que as garotas se entretêm -
os sóbrios e zombeteiros rituais adultos do clube Pickwick, o divertimento das
esnobes crianças com o jogo de "autores" de Jo -, como também a forma
como a linguagem descritiva é usada. Enquanto mantêm um infalível foco na
claridade de expressão, a prosa de Alcott irradia vitalidade e bom humor.
Algumas palavras cuidadosamente escolhidas falam muito sobre seus personagens e
definem os aspectos positivos de qualquer situação ou circunstância. A ênfase
está sempre na alegria que a vida pode oferecer: todos os ricos prazeres das
coisas estão sempre disponíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">Outro
elemento descritivo que encanta é o uso frequente das imagens retiradas da
natureza. Os pássaros são uma preferência particular: Beth se refere as meninas
como pássaros em seu pequeno ninho e Jo é descrita como uma ovelha sem lã em um
dia de inverno quando ela vende seus cabelos para mandar dinheiro para o
tratamento do pai - uma das mais belas cenas do livro -, dentre outras
referências. Essas imagens, finalmente, acabam por enfatizar o ideal cristão de
harmonia com o mundo de Deus.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Ver imagem original" height="240" src="http://www.doctormacro.com/Images/Hepburn,%20Katharine/Annex/NRFPT/Annex%20-%20Hepburn,%20Katharine%20(Little%20Women)_NRFPT_03.jpg" width="320" /></span><br />
<span lang="PT-BR">Enquanto
muitas alegrias são divididas, cada menina aproveita a vida em seu modo
particular. No fim do primeiro cápitulo, o leitor já possui um senso bem
definido da personalidade de cada garota, que é seguido por diferenças também
físicas e de indumentária. Em algumas ocasiões, Alcott aplica uma técnica, frequentemente
com efeito cômico, onde ela dá a cada garota uma resposta diferente à mesma situação.
Em uma acalorada ocasião,<span class="apple-converted-space"> </span><i>"Jo
riu, Meg censurou, Beth implorou e Amy lamentou-se".<span class="apple-converted-space"> </span></i>Essa nítida descrição tanto define
a atitude de cada garota diante da vida, quanto enfatiza suas diferenças
coletivas.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">Ainda
que as garotas sejam as grandes protagonistas da narrativa,<span class="apple-converted-space"> </span><i>marmee<span class="apple-converted-space"> </span></i> é o Sol ao redor do qual
elas orbitam e que fornece a dinâmica organizacional do livro. Quando ela está
longe, a casa se atrofia e as meninas sentem-se muito perdidas. Ao aparecer
esporadicamente através do livro, sua influência permeia em cada página. Este é
um livro definido pelo amor de mãe e o desejo materno de criar bem suas filhas
e prepará-las para suas futuras vidas.<span class="apple-converted-space"> </span><i>Little
Women<span class="apple-converted-space"> </span></i> dramatiza a
educação dos filhos de forma que a mãe enfrenta diferentes dilemas com cada garota,
uma experiência extendida pelo fato de que ela é, efetivamente, uma "mãe
sozinha", uma vez que o pai nem sempre está presente.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">O trato
de Alcott com os papéis da maternidade e seus desafios torna-se ainda mais
impressionante pelo fato de que ela nunca foi mãe. Por outro lado, talvez seja
esse mesmo o motivo pelo qual sua voz narrativa é definida por esse papel
maternal, como vemos com a família March, para a qual demonstra querer sempre o
melhor, mas sem a timidez de oferecer uma palavra gentil de crítica
construtiva. É, assim, irrefutável, que o livro é definido pela influência
matriarcal, tanto da própria<span class="apple-converted-space"> </span><i>marmee</i>,
quanto da prrsença maternal da narradora.Ainda assim, não é um livro só para
garotas. A ausência do Sr. March cria um vazio no coração da narrativa e da
vida familiar que é somente preenchido com seu retorno. <i>Little Women<span class="apple-converted-space"> </span></i>é um livro para a vida e para
uma variedade de leitores muito além da imaginação de sua modesta autora.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR"><i><u>Videocuriosidades:</u></i></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR"><i><u><br /></u></i></span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
<span lang="PT-BR">Em 1949, surgiu a primeira adaptação cinematográfica da obra, dirigida por Mervyn Leroy e traduzida para o português como "Quatro destinos". Estrelaram June Allyson, Peter Lawford e Margaret O'Brien.</span></div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
Uma nova adaptação foi realizada em 1994 com um incrível elenco: Susan Sarandon, Winona Ryder, Kirsten Dust e Christian Bale. O filme, traduzido como "Adoráveis Mulheres", é excelente, com ótimas atuações - como era de se esperar - e uma compressão bem feita da história.</div>
<div style="margin: 0in 0in 0.0001pt;">
Ambos os longas vão além da história de "Little Women", incluindo também sua sequência "Good Wives".</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-87982840341901586672014-09-01T11:50:00.001-03:002014-09-11T11:01:21.851-03:00"Northanger Abbey", Jane Austen<div style="text-align: justify;">
<div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;">
</div>
<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzllu0S_5X1d58vZVfQ30vxMahO_oNxQJ7JeLrg_FLmYtxwx5jZAsleBLPA9GZbc90mV8wegxkguGatwA_YAtONuf9tp3IjI7aBlBcn9BBt8AYhRW5Zmla4Ze1YQqa4vzwgIf22-2z14M/s1600/na1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzllu0S_5X1d58vZVfQ30vxMahO_oNxQJ7JeLrg_FLmYtxwx5jZAsleBLPA9GZbc90mV8wegxkguGatwA_YAtONuf9tp3IjI7aBlBcn9BBt8AYhRW5Zmla4Ze1YQqa4vzwgIf22-2z14M/s1600/na1.jpg" height="179" width="320" /></a><i>"Northanger Abbey"</i> é uma das primeiras e mais variadas obras de Jane Austen, que contém percepções fascinantes, tanto de sua vida como escritora, quanto como autora. A obra começou a ser escrita <i> </i>por volta de 1798, quando romances góticos eram abundantes e Austen possuía 23 anos. No entanto, quando a obra foi finalmente publicada, em 1818, ela já havia falecido e muita coisa havia mudado no contexto literário. Nesse mesmo ano, o livro pós-gótico de Mary Shelley, "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com.br/2012/08/frankenstein-mary-shelley.html"><i>Frankenstein</i></a>", foi também publicado. Estava claro que os dias de glória de doces heroínas e castelos medievais haviam acabado. Dessa forma, o livro habita em um lugar estranho perante os trabalhos de Austen (como os já aqui analisados <a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com.br/2013/06/mansfield-park-jane-austen.html">"</a><i><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com.br/2013/06/mansfield-park-jane-austen.html">Mansfield Park"</a>, "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com.br/2011/11/emma-jane-austen.html">Emma</a>", "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com.br/2010/07/orgulho-e-preconceito-jane-austen.html">Orgulho e Preconceito</a>"</i> e "<i><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com.br/2011/04/razao-e-sensibilidade-jane-austen.html">Razão e Sensibilidade</a>"</i>), uma vez que ocupa a posição de primeiro ou último trabalho, dependendo do ponto de vista. Mas o aspecto que, talvez, mais diferencia esse trabalho dos outros é seu toque de jovialidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Pode-se dizer que Austen fez algumas revisões na sua obra original, mas é impossível saber quantas. Se seu desempenho técnico em termos de escrita e seus <i>"insights"</i> no mundo de uma mente inocente e imaginativa são fruto da jovem Austen, ou se foram manipulados pelas revisões de uma autora madura é, assim, um mistério.</div>
<div style="text-align: justify;">
Muitos julgam que a obra não é tão satisfatória quanto os outros escritos da autora. Ela se estabelece como uma adolescente precoce e ligeiramente desalinhada ao lado da elegante <i>"Emma" </i> ou da conceituada <i>"Mansfield Park", </i>mas, ainda assim, é mais desenvolvida que suas histórias anteriores. No entanto, o leitor que toma a decisão de dar uma chande a "<i>Northanger Abbey" </i>encontrará muito não somente a se admirar, como também a se apreciar nas descobertas de sua protagonista<br />
"Northanger Abbey" ou "A Abadia de Northanger" é a história de Catherine Morland, uma garota entusiasta, porém inocente, que pretende tornar-se uma heroína como a dos romances que tanto lhe agradam. Em busca de aventuras dignas de seus livros de ficção preferidos, ela acaba por se colocar num emaranhado de manipulações, ganâncias e deslealdades, típicas da vida real. Catherine demonstra uma grande dificuldade em discernir em quem e em o que deve confiar em um mundo onde amigos desapontam, livros distorcem, a mente se corrompe e aqueles que deveriam mantê-la no caminho certo estão mais interessados nos vestidos da moda.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiolWnnJu_K829oVgp6ZPzLGehdP6tlgh-IzSd30DhClTSGtP1miGNwNkIQVkt9Erkzeg3SMDJ7BBwKwn1Hrh_Vpaf10ScZDlUXv0w3KXk0vWXOCNtNhLENlSTX-UemP4BTvAVHIV5Hu5s/s1600/na2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiolWnnJu_K829oVgp6ZPzLGehdP6tlgh-IzSd30DhClTSGtP1miGNwNkIQVkt9Erkzeg3SMDJ7BBwKwn1Hrh_Vpaf10ScZDlUXv0w3KXk0vWXOCNtNhLENlSTX-UemP4BTvAVHIV5Hu5s/s1600/na2.jpg" height="176" width="320" /></a>Catherine cresce numa família bem estruturada que possui bens suficientes para ter uma boa qualidade de vida. É uma garota comum e demasiadamente inocente que ama romances e detesta livros de história. Um belo dia, a Sra. Allen, vizinha da família, parte de férias para a animada e jovial cidade de Bath e pede à família de Catherine para levá-la. Assim, a menina parte para um mundo bem diferente de sua vida pacata e bucólica no campo. Por sua falta de experiência com outras sociedades, ela sente dificuldade de ser natural e perceber a inaturalidade das pessoas em sua volta. Em um dos bailes rotineiros ao qual ela vai, conhece Isabella Thorpe, uma bela garota da cidade que se torna sua melhor amiga em questão de segundos. A família Thorpe é um pouco menos abastada que os Morland, mas procura, com vestimentas e relações pessoais, manter os ares de "alta sociedade". Mas essa "amizade" tão rapidamente criada não é em vão. O irmão de Catherine e o de Isabella estudam juntos e são muito amigos, de maneira que Isabella havia conhecido o irmão de Catherine e, aparentemente, se apaixonado por ele. Ela então dá sinais constantes dessa paixão à nossa heroína, que, por falta de experiência em ler nas entrelinhas, não é capaz de perceber as insinuações. Até que um dia, Isabella anuncia a Catherine que está noiva do irmão dela e esta, por sua vez, fica imensamente feliz. Em meio a isso tudo, enquanto cortejada pelo irmão de Isabella, Catherine conhece Henry Tilney e se apaixona por ele. Algumas semanas depois, é também apresentada à irmã dele, Eleanor, e com ela constrói uma amizade verdadeira. General Tilney, o pai de Eleanor e Henry, é também apresentado a Catherine pelo irmão de Isabella, que, buscando manter seu status social, induz o general a pensar que os Morlands são extremamente ricos e poderosos. Ele, então, decide juntar a menina a seu filho, Henry, e a convida para passar uns dias com Eleanor em sua casa. Lá, Catherine recebe uma carta de seu irmão, dizendo que seu casamento com Isabella estava acabado, pois ela o havia desprezado, pensando que tinha encontrado partido melhor. Catherine fica arrasada por não ter percebido antes as más intenções de sua falsa amiga, que havia dado sinais de seus interesses financeiros, quando achou o pai de Catherine pouco generoso com a quantia que escolheu oferecer em razão do casamento. Enquanto isso, o general descobre que os Morlands não são tão ricos quanto ele pensava e praticamente expulsa Catherine de sua casa de um dia para o outro. Envergonhado pela atitude de seu pai e após ter criado certa aproximação com nossa protagonista, Henry decide ir atrás dela e pede sua mão em casamento, com a permissão de seu pai de <i>"ser um tolo se assim ele quisesse".</i></div>
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A primeira parte do livro não é diferente das outras famosas obras. Testemunhamos as famílias educadas, onde cada rapaz parece em busca de uma bela companhia e cada moça procura uma parceira de confidências. Há também a típica personagem de Austin, desta vez nomeada Sra. Allen: uma bem-intencionada tola da sociedade que não tem nada a acrescentar, a não ser seus recorrentes comentários simplórios e fúteis.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ6sypOUXiQZd6Fs5U39bOJFkDM_WRf4XjnrF9i5SblUOIfA53_nUm049_lCqA7HqFPvtB7suBslm4I6K_8iWH50UIab6ZpGPjIu1Sijf0YmWmCtomn4BVpRHo6MgSnQXXMi_EVX0XuIQ/s1600/na3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJ6sypOUXiQZd6Fs5U39bOJFkDM_WRf4XjnrF9i5SblUOIfA53_nUm049_lCqA7HqFPvtB7suBslm4I6K_8iWH50UIab6ZpGPjIu1Sijf0YmWmCtomn4BVpRHo6MgSnQXXMi_EVX0XuIQ/s1600/na3.jpg" height="179" width="320" /></a>Apesar da grande vontade de Catherine de se tornar uma protagonista, somos relembrados a todo momento o quão banal é nossa heroína. Ela cresce uma criança que passa de feia para não tão feia assim, e se dá por satisfeita com isso. Não possui nenhum talento nato, como desenho ou canto, e se vê em inúmeras situações embaraçosas, nas quais uma heroína de verdade jamais se colocaria.<br />
Se deixar enganar pela falsa amabilidade de Isabella é de uma ingenuidade sem tamanho. A Isabella egocêntrica e estúpida, cujos comentários exalam ostentação e interesse próprio, é percebida pelo leitor atento desde o primeiro momento em que é apresentada. Ela é um dos personagens do romance cujos discursos nunca conseguem encobrir seu verdadeiro significado, junto a seu irmão, John e à Sra. Allen. Mas resumir os instintos de Catherine pelo seu relacionamento com Isabella é injusto. Catherine é exposta a muito mais emoções que outras heroínas de Austen, ainda que sejam emoções criadas por sua própria imaginação. Ela vive em busca de significado para sua vida e esse impulso constante acaba desnorteando-a. Assim que ela se depara com Henry, por exemplo, o vê como um possível romance e ele passa a ser seu assunto constante. A princípio, podemos achar essa constatação ridícula, mas seus instintos se provam astutos, tanto nesse caso, como na primeira impressão que ela tem do general Tilney. Henry é exatamente o que aparenta ser e Catherine não é uma má juíza de caráter. Ela não consegue aguentar John Thorpe, com sua vaidade e ambição cansativas, desde o primeiro momento. É realmente no caso de Isabella que ela se equivoca, o que se mostra um sério descuido, pois Isabella explora a inocência de Catherine em benefício próprio. A lição de Austen é, talvez, que uma mente aguçada, porém acrítica, pode ser mais perigosa que mente nenhuma.<br />
Mas o mais marcante traço de Catherine é sua inabilidade em ler as atitudes de outras pessoas: ela não percebe o relacionamento de Isabella com o irmão mais velho de Henry, James; permite, acidentalmente, que John Thorpe se apaixone por ela; e se deixa amedrontar pelas histórias escabrosas de Henry sobre a abadia. Ela é o tipo de pessoa que quer acreditar em tudo que lhe pareça fascinante e fora do comum. No entanto, o que importa realmente não é quem você é hoje, mas o que você pode se tornar através das experiências que tem. O problema é que é impossível acreditar que a família Thorpe pode se tornar alguma coisa que não seja pior.<br />
Mas talvez um dos aspectos mais interessantes do livro é o <i>marketing</i>, negativo em sua sátira<i>,</i> que ele faz de outro livro. O romance gótico "<i>Os mistérios de Udolpho</i>", escrito pot Ann Radcliff e publicado em 1974, é tão referenciado no livro que quase torna-se um personagem e, como qualquer coisa que se leve demasiado a sério aos olhos de Austen, é ridicularizado. Muitos críticos chegaram à conclusão que o romance de Austen, com sua fama, manteve <i>Udolpho </i>vivo, quando ele deveria ter desaparecido sem deixar traços. Uma coisa é certa: os dois livros são indivisíveis.</div>
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<a href="http://i133.photobucket.com/albums/q80/trungcang/7sins-north-abbey-2007-1080p.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://i133.photobucket.com/albums/q80/trungcang/7sins-north-abbey-2007-1080p.png" height="180" width="320" /></a>Com os comentários autodepreciativos do narrador, a autora encoraja o leitor a ver <i>Northanger Abbey </i>como um romance imperfeito com uma heroína insatisfatória. Sobretudo, é importante perceber que o objetivo da obra não é ser levada a sério, mas satirizar outros autores e membros da sociedade. Este é um livro que fala de livros, escrito por uma amante da ficção, por isso uma certa humildade por parte dela foi inevitável. O romance, porém, pode ser visto pelos mais capciosos como mais que uma bela brincadeira: é o conto juvenil que antecedeu grandes sucessos, é um dos precursores da literatura pós-moderna. Austen apresenta mais que simplesmente sua antipatia trivial por <i>Udolpho. </i>Ela cria uma heroína amável exatamente por sua personalidade anti-heróica. Catherine reflete o inevitável problema que todos os que são leitores desde a infância (e me incluo neste grupo), ou simplesmente todos os jovens imaginativos, tiveram que enfrentar: desapegar-se da ficção e adentrar o mundo real, sujo e genuinamente sinistro da avareza adulta. Talvez <i>Northanger Abbey </i>busque educar seus leitores para que eles abandonem o sensacionalismo para conseguir desfrutar do realismo de romances mais maduros. Independente de seu propósito, a obra é divertida, ainda que absurda.<br />
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<u>Vídeo-curiosidades:</u><br />
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Por não ter alcançado a fama de seus sucessores e apesar das muitas peças teatrais, só há duas adaptações cinematográficas da obra: em 1986, na direção de Giles Foster e em 2007, um filme de televisão, um filme de Jon Jones.</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-49171426730883455132014-07-29T00:13:00.001-03:002014-08-22T10:56:17.755-03:00"As Aventuras de Sherlock Holmes", Arthur Conan Doyle<div style="text-align: justify;">
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<img src="http://blogs.smithsonianmag.com/design/files/2012/07/sherlock-holmes-glass_550.jpg" height="240" width="320" /></div>
Entre julho de 1891 e junho de 1892, <i>The Strand Magazine</i> publicou doze contos que viriam a se tornar a coleção de histórias de detetive mais influente de todos os tempos. Reunidos em outubro de 1892, as narrativas de sir Arthur Conan Doyle passaram a compor "As Aventuras de Sherlock Holmes" (<i>The Adventures of Sherlock Holmes</i>). De forma geral, o romance policial clássico, ao qual a obra pertence, se estrutura com a presença de um crime, da investigação e, ao final, da revelação do malfeitor. Por fornecer todos os elementos básicos de composição deste tipo de romance, a obra foi tomada como "modelo padrão" por outros escritores, que adaptavam a seu próprio estilo os fundamentos previamente estabelecidos. De Agatha Christie a Colin Dexter, de Raymond Chandler a J. K. Rowling, podemos perceber as influências penetrantes da obra no gênero, muitas vezes oculto por estar aliado ou ser complementar a outros. </div>
<div>
O livro é uma coleção de variados e fascinantes mistérios, que vão do bizarro ao emocionante, sempre recheado de hipérboles. Porém, no centro de todos os cenários, há dois personagens que deliberadamente atraem o expectador. Essa característica é o divisor de águas entre a obra de Doyle e livros de mistério previamente publicados: não somente o leitor é a traído pela natureza do caso investigado, mas também pelas ações de Holmes e Watson que são, individualmente, personagens interessnates.</div>
<div>
Watson é o observador, o indivíduo comum, mas com paciência e tenacidade notáveis. Como narrador, possui tal maneira de colocar uma frase ou cenário que, de forma singular, chama a atenção do leitor.</div>
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<div style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;">
<img src="http://www.basilrathbone.net/gallery/sherlockholmes/sh06.jpg" height="320" width="260" /></div>
Sherlock Holmes é a voz da razão. Doyle cria Holmes com a intenção evidente de fornecer à literatura um detetive que não chega a seus resultados por acaso, por sorte ou mesmo por descuido do criminoso. Sua pretensão é de que Holmes demonstre claramente os métodos pelos quais ele chegou à sua conclusão. No intuito de enfatizar esse objetivo, ou seja, demonstrar a abordagem científica de seu detetive, ele apresenta seu protagonista como um indivíduo impassível e insensível, mas não no sentido de cruel. Isso é firmemente estabelecido logo no primeiro conto da coleção, "Escândalo em Boêmia".</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>"Ele era, na minha opinião, a mais perfeita e observadora máquina de raciocinar que o mundo já viu; como amante, porém, teria metido os pés pelas mãos. Nunca falou das paixões mais ternas senão com certa zombaria e um sorriso de desdém. Esses sentimentos eram admiráveis para o observador - excelentes para revelar os motivos e as ações dos homens. Para o homem de raciocínio treinado, porém, admitir tais interferências em seu temperamento sensível, sutilmente equilibrado, era introduzir um fator de perturbação capaz de abalar todos os seus julgamentos. Areia num instrumento sensível, ou uma rachadura em suas potentes lupas, não causaria mais estorvo que uma emoção forte numa natureza como a sua."</i></blockquote>
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No entanto, como personagem, Holmes é um misto de contradições. Apesar de zombar da ideia do amor romântico, ele não é um ser sem paixões. Em "Um caso de identidade", por exemplo, sua ira pela forma como Windinbank tratava sua enteada faz seu rosto enrubescer e ele quase dá umas boas chicotadas no homem. Essas inconsistências com a natureza de um homem racionalmente frio e imparcial elevam a fascinação do leitor.</div>
</div>
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<div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;">
<img height="212" src="https://clubdatelevisao.files.wordpress.com/2012/05/2009_sherlock_holmes_010.jpg" width="320" /></div>
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Outro aspecto interessante desta coleção que ajuda a ilustrar algumas das qualidades únicas que o autor trouxe a suas histórias, é que, mesmo demonstrando suas brilhantes habilidades de detetive nas tramas, Holmes é despistado por uma mulher em "Escândalo em Boêmia", e falha ao tentar evitar a morte de seu cliente em "As Cinco Sementes de Laranja". Essa falibilidade humana e o elemento da imprevisibilidade do enredo ajudam essas histótias a saírem da rotina e as tornam mais excitantes. Outra característica que amplia a popularidade da obra é sua natureza incomum e, por vezes, excêntrica. Quase todos os mistérios, uma vez que nem todos eles são crimes, possuem um elemento surreal: o homem de negócios que, aparentemente, desaparece no ar ("O Homem da Boca Torta"); a mulher moribunda que, em seu último suspiro, faz uma estranha referência à faixa malhada ("A Aventura da Faixa Malhada"); a misteriosa ameaça de morte representada por algumas sementes de laranja ("As Cinco Sementes de Laranja"); e a governanta que foi obrigada a sentar em uma determinada cadeira, enquanto seu patrão lhe contava histórias engraçadas para fazê-la rir ("As faias cor-de-cobre").</div>
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No entanto, é necessário saber que muitos críticos dos contos sobre Holmes acreditam que a verdadeira genialidade vem da personalidade de Watson. É através de seus olhos que observamos os eventos e é através de suas palavras que construímos uma imagem detalhada do excêntrico e carismático Sherlock Holmes. Watson não somente faz seu amigo ficar interessante, mas também, de maneira hábil, apesar de seu comportamento antissocial e hábitos estranhos, o faz encantador.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i></i><br />
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<i><i>"Enquanto isso, Holmes, que detestava </i><i>toda forma de sociedade, com sua alma inteiramente boê</i><i>mia, continuava lá, em nossos aposentos em Baker Street, </i><i>enterrado entre seus livros antigos, e alternando, semana a </i><i>semana, a cocaína com a ambição, o torpor da droga com a </i><i>energia impetuosa de sua personalidade intensa. Continuava, </i><i>como sempre, profundamente atraído pelo estudo do crime e </i><i>dedicava suas portentosas faculdades e seus extraordinários </i><i>poderes de observação a seguir pistas e desvendar mistérios </i><i>abandonados como insolúveis pela polícia oficial.</i><i> [...] Seus aposentos estavam iluminados, e, ao </i><i>olhar para cima, cheguei a ver sua figura alta, esguia, passar </i><i>duas vezes numa silhueta escura contra a cortina. Ele andava </i><i>de um lado para outro da sala, rápida e ansiosamente, a cabeça </i><i>caída sobre o peito, as mãos cerradas às costas. Para mim, que </i><i>conhecia todos os seus hábitos e suas disposições de ânimo, </i><i>aquela atitude e maneira falavam por si mesmas. Ele voltara </i><i>a trabalhar. Despertara de seus sonhos induzidos pela droga </i><i>e farejava algum problema novo.</i><i>"</i></i></div>
<i>
</i></blockquote>
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Quem, ao ouvir tal descrição, não gostaria de conhecer esse curioso indivíduo? E Watson, com seu maravilhoso jeito com as palavras, nos permite fazer exatamente isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Se Doyle sabia exatamente o que ele estava fazendo nesses primeiros contos, se ele tinha conhecimento de como estava manipulando o formato de histórias de detetive para se adequar a seu conceito incomum e único ou se o processo surgiu naturalmente para ele, é difícil supor. Planejadamente ou por acidente, ele criou um personagem que era tão interessante quanto os mistérios que se dispunha a resolver. Na verdade, pode-se inclusive dizer que essas não eram histórias de detetive, mas sim histórias sobre um detetive. E, ainda se a trama for fraca, ainda temos a compensação de ler sobre Holmes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Afirmar que "As Aventuras de Sherlock Holmes" é a maior coleção de pequenas histórias que realçam um detetive é uma reivindicação irrefutável. Arthur Conan Doyle é o escritor mágico que, fazendo de sua pena uma varinha de condão, evoca o meio real vitoriano como plano de fundo para paisagens e personagens fantásticos, em cujo centro está Sherlock Holmes, que ultrapassou a fama de seu criador para tornar-se um dos maiores ícones da cultura popular.</div>
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<u>Videocuriosidades:</u></div>
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São muitas as adaptações, séries, peças, filmes, sem contar as histórias e personagens inspirados na obra. O Guiness book listou Holmes como o personagem mais retratado de todos os tempos, com mais de 70 atores atuando como tal em quase 200 filmes. Além disso, o acervo virtual existente sobre Holmes e suas histórias é muito extenso e inclui até museus online. </div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira adaptação, realizada em cinema mudo em 1900, foi Sherlock Holmes Baffled, dirigido por Arthur Marvin.</div>
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O primeiro filme com som foi realizado em 1929, estrelando Clive Brook em "O retorno de Sherlock Holmes".</div>
<div style="text-align: justify;">
Entre 1939 e 1946, Basil Rathbourne, junto a Nigel Bruce como Watson, atuou em 14 filmes da Universal Pictures.</div>
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Em 2009, Robert Downey Jr. estrelou como Holmes no filme de Guy Ritchie.</div>
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Duas séries atuais, <i>Sherlock</i> de Steven Moffat e <i>Elementary, </i>com Jonny Lee Miller como Holmes, apresentam novamente o tão retratado Sherlock.</div>
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Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-31660695928377486542014-05-03T16:53:00.002-03:002014-05-07T15:07:38.578-03:00A irmã de Ana Bolena<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;">
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<span style="text-align: justify;"></span><br />
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"The other Boleyn girl", escrito em 2001 por Philippa Gregory, retrata a história do casamento de Anne Boleyn e o rei Henrique VIII (responsável pela separação das igrejas anglicana e católica) pelos olhos de Mary Boleyn. A irmã de Anne Boleyn, para alguns, não passa de uma ilustre desconhecida de relevância ínfima para o decorrer da história de uma maneira geral. A inserção da personagem, porém, é essencial para tornar realísticos os acontecimentos, aos olhos de quem não os presenciou. Com a entrada da irmã de Anne Boleyn, os personagens saem dos livros de história e ganham vida. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjmMqhmCOIyLnRePTvyiFLCwiep8u2eQTw97bAzQ4ATcL7p6pj3T9fskPeMawQ2Z8DFdqGITfJl_BfEl5MK1D5rFANEtJlGRJNFCW2stkvBXDWj_2bggkEHbu-vcfxqjN1uZIUHmcVgRAXhGtCJZNKlztHfbQMMQF7u_8YVluX0HYPvrEKmz7TcIxcEyx2r3O-LWHzejPdTK7jOE9znFAEoTJBNr5isXGDGdbtTfw=" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="http://kpbs.media.clients.ellingtoncms.com/uploads/Boleyn02_t600.jpg?4326734cdb8e39baa3579048ef63ad7b451e7676" height="212" width="320" /></a>Passada no século XVI, quando nossa história se inicia, o rei Henrique é casado com Catarina de Aragão, princesa da Espanha. As famílias nobres inglesas, como a Boleyn/Howard e a Seymour vislumbram nas moças da família uma possibilidade de atrair a atenção do rei e adquirir privilégios. Neste contexto, Mary Boleyn, nossa narradora, é designada pelo tio e pais para atrair a atenção do rei e virar sua amante. Com seu temperamento obediente, dócil e abnegado, ela o faz sem questionamentos. Enquanto isso, sua irmã Anne Boleyn, de temperamento explosivo e determinado, casa-se escondido com um nobre e consuma o casamento. Ambas as famílias, dele e dela, rejeitam o matrimônio e ela é afastada, voltando à França, onde havia sido criada. Quando seu "exílio" acaba e ela retorna à Inglaterra, sua irmã está grávida do rei e ela aproveita a situação para conquistar Henrique, mas sem ceder da maneira como Mary havia feito, deixando o rei cada vez mais interessado. A rivalidade entre as irmãs é uma constante no livro. Aos poucos, Anne Boleyn convence o rei de que ela é a esposa certa para ele, tendo em vista que Catarina não tinha lhe dado nenhum filho homem, e que ele tinha a possibilidade de anular seu casamento com a rainha. Mal sabia ela que mostrar ao rei a extensão de seus poderes seria sua maior ruína. Assim, o rei se divorcia de maneira dramática de Catarina de Aragão e casa-se com Anne Boleyn, uma rainha que é rejeitada pelo povo desde o primeiro momento. </div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhO27fY4we_-zjd8JxWv9EMn6uh_metFj9_tjTU_AfGGfgl2aw4QAnDDUIc6xCtbTMYKHX3oFcmGXQiaHP8Viq_Grzv5ng4HPdtPZz7mKa8XEz1cKvRJqwKc0elKj1XhwKRu4xuCL4oCQP8Ld8aJQS84whDRUaC0hcIsWY86uLv2f4sqrvQByXFkjwEMzlDOtzxNPHYzbUMYL-zKFh6pcXjT56497JIryfxiWjhnLD4NpoYIF9vxg=" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: justify;"><img border="0" src="http://www.swotti.com/tmp/swotti/cacheDGHLIG90AGVYIGJVBGV5BIBNAXJSIG1VDMLL/imgThe%20Other%20Boleyn%20Girl%20Movie4.jpg" height="320" width="212" /></a></div>
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O que Anne não esperava era que não conseguiria dar ao rei um filho homem, coisa que sua irmã, Mary, havia conseguido, ainda como amante do rei. O casamento, então, é marcado pela constante agonia de Anne e diversas tentativas quase macabras e, no mínimo, anti-éticas, de engravidar. Diante de diversos atos indevidos, incluindo a suposição do envenenamento da antiga rainha Catarina, ela acaba sendo julgada em tribunal, acusada e tem sua cabeça decepada por ordem do rei, que perde o interesse e começa a visar Jane Seymour, sua próxima esposa, que consegue encantá-lo quase que com o mesmo jogo de sedução de Catarina.</div>
<div style="text-align: justify;">
No livro, o rei Henrique é retratado como um rei inicialmente carismático, jovem, e de certa beleza peculiar, mas também altamente influenciável. Um rei com ares de bobo da corte, uma vez que as famílias parecem jogá-lo de um lado a outro, cegando-o com o encanto de suas jovens. No entanto, ensinado por Anne Boleyn que seu poder estava acima até da igreja católica, ele é apresentado quase que como um rei louco ao, pela segunda vez, conseguir desvencilhar-se de um casamento.</div>
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A rivalidade constante entre as duas irmãs é um dos aspectos mais importantes do livro. Anne possui uma personalidade determinada, explosiva e extremamente egoísta. Ela deseja ser o centro do mundo e o é, enquanto vive. Enquanto Mary possui uma personalidade dócil, passiva, abnegada, mas nem por isso para de sentir inveja da irmã, que sente prazer em esfregar seus triunfos em sua cara. No entanto, a meiguice e altruísmo de Mary acabam por ser sua salvação. Por causa da afeição que o rei sente por sua personalidade oposta à de Anne , ela não é condenada com a mesma, ainda que tenha participado de alguns dos eventos ardilosos da rainha.</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEiQbKViAOB3FWwqgdbYVlKZE54ILxwju8OL-8IbeBKLp4t4shcAE520CEtomZ9AuJqCdY5F5brL4JirvC1TwODnwaakXm-6nBRBca0DzcTamKtSpn8_-VWagtQ7qOfJ5mXP_PcQXQ1X4bLnGzX32eI3OORboUQlAfKZi_PDkQERR-nT7u8=" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://graphics8.nytimes.com/images/2008/02/28/arts/29boleyn-600.jpg" height="176" width="320" /></a><i>"'Diga a Anne', eu parei. Era muito a dizer em uma só mensagem. Eram longos anos de rivalidade e união forçada, sempre e eternamente, sustentando nosso amor uma pela outra, nosso sentimento de que a outra tinha de ser derrotada. Como eu poderia enviá-la uma palavra que significaria tudo isso, e ainda dizer que eu a amo, que eu era feliz por ter sido sua irmã, mesmo sabendo que ela havia se levado a esse ponto e George também? Que, mesmo que eu nunca a perdoasse pelo que ela havia feito com todos nós, eu total e completamente compreendia?"</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
George é o primogênito da casa dos Howard e até agora não havia sido comentado nesse texto, apesar de ter uma participação crucial principalmente no que diz respeito à condenação da irmã. Sua presença nos momentos de Anne e Mary é constante. Ele tem por elas uma grande afeição e a demonstra de maneira a beirar o incesto. Ao mesmo tempo, é apaixonado pelo nobre Francis, enquanto rejeita sua esposa Jane, que posteriormente auxilia na condenação dos Howard. Com suas tendências homossexuais e incestuosas, é um personagem um pouco enigmático. Seu relacionamento, principalmente com Anne , é tão forte que ele é acusado de ter um caso com ela. O livro não afirma nem rejeita essa suposição, embora impute vários acontecimentos que afirmam a hipótese. Mas, em todo caso, de todas as personagens, George parece ser o único que Anne realmente ama.</div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente, a família Howard ou Boleyn, agora referindo-se aos cabeças de todas as equações, é composta de personalidades extremamente reprováveis. Em primeiro lugar, o tio, que usa as sobrinhas enquanto lhe são úteis e as abandona completamente quando acusadas para se beneficiar. Depois os pais, ambos covardes. Embora ressentida com a situação, a mãe não faz absolutamente nada para ajudar os filhos, enquanto que o pai ri pelo fato de ter de escolher entre se prejudicar ao estender a mão para auxiliá-los ou permanecer quieto para não ser também colocado em xeque. A decisão é óbvia.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEi-54HpX_VhWU7FHfdUUFTiRr7e7fGDUNpJfwRmoVKLT9mtqIcaZvwe-ZWcX9SkgtYzSSTr6Dli2Z5VHpWXmpUl7rBKVzinX0yOalgDKKxnvOeSgC9ruLIP0ooNjC5Vn8cyeUCf9ljcLF9QLNCIYhyphenhyphenn-EUVl7BnUrehMvpJ4xh_mEcOcZ26VPUBeA=" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://content.internetvideoarchive.com/content/photos/1189/04994936_.jpg" height="240" width="320" /></a>Por fim, no entanto, Anne Boleyn, como pintada pela autora, parecia mesmo merecer um fim trágico, embora a morte tenha sido exagero. Sempre egoísta, capaz de qualquer coisa em benefício próprio, por diversas vezes prejudicando a irmã, com quem criamos um vínculo especial, só para sentir o gosto do poder, Anne tem um comportamento vil e quase psicopático. Anne rouba Henrique de Mary e a provoca por isso; toma o filho da irmã sem sua permissão; trata ambos os irmãos como escravos; possivelmente envenena o bispo Fisher e seus hóspedes, bem como o cardeal Wolsey, a princesa Mary e Catarina de Aragão; ela é vingativa quando Mary anuncia seu casamento com o desconhecido Will Stafford e sua gravidez, dizendo que contará a seu filho que a mãe dele está morta; e ela amaldiçoa Jane Seymour, dizendo: <i>"Se ela colocar a mão em minha coroa e sentar no meu trono, eu espero que seja sua morte. Espero que ela morra jovem. Espero que ela morra no parto, no exato momento de dar a ele um menino. E espero que o menino morra também."</i>.</div>
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Os livros de Philippa Gregory são, em geral, baseados em intensa pesquisa histórica, mas apresentam também uma boa pitada de criatividade, por isso são muitas vezes condenados por historiadores de renome. Particularmente e analisando somente o aspecto literário, não condeno. Ela traz, em uma linguagem simples e interessante, diversos eventos e personagens, com a dose certa de veracidade, para que o leitor não ignore fatos relevantes da história inglesa. A autora parece ter um interesse especial na dinastia Tudor, que dominou a Inglaterra entre os séculos XV e XVI, embora apresente as histórias de uma perspectiva diferente das dos livros anteriormente escritos sobre o assunto. De qualquer forma, é importante não considerar seus livros para pesquisas de fatos verídicos, pois a discussão sobre em que ponto acaba a história e inicia a imaginação da autora é extensa e, no fim das contas, a maioria das coisas não pode ser afirmada ou rejeitada, tendo em vista que adentram detalhes da vida em corte que não estão em nenhum livro de história, mas que são interessantíssimos de se imaginar.</div>
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<u>Videocuriosidades</u>:</div>
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Em 2008, dirigido por Justin Chadwick, a obra ganhou vida com Natalie Portman como Anne, Scarlett Johansson como Mary e Eric Bana como o rei Henrique no filme "A Outra". Embora muito bom, se o livro diverge da realidade, o filme diverge da história em diversos aspectos. Mas a própria Philippa Gregory ajudou no roteiro do filme, então vale a pena aproveitar ambos livro e filme, considerando a liberdade artística de adaptação.</div>
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Escrita entre 1811 e 1813, "Mansfield Park" foi a primeira novela nascida da maturidade de Jane Austen. O tempo deixou suas marcas: comparada a seus antecedentes, apresenta um contexto mais amplo e um propósito mais sério, buscando aprofundar-se na maneira como o mundo a sua volta funcionava e no fluxo de energia que impulsiona a atitude das pessoas. São vários os aspectos que classificam a obra como uma das mais sutis e perspicazes do século 19. Alguns críticos, inclusive, consideram-a como o primeiro romance moderno.</div>
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Fanny é filha da mais humilde das três irmãs, ou seja, daquela que conseguiu o "pior" casamento. Sua mãe, já cheia de filhos, resolve permitir que a menina more com sua tia "rica", com o apoio da terceira irmã, que, como vemos no decorrer do livro, pretende única e exclusivamente usar a menina como criada da família. Fanny cresce, então, rodeada de primos que a excluem de seus círculos por considerá-la inferior. Seu status financeiro não permite que ela se coloque em uma situação equivalente e ela acaba crescendo nos cantos da casa, obedecendo a ordens e aprendendo a abaixar a cabeça. Seu primo Edward é o único que se preocupa com ela e lhe dá atenção. Como era de se esperar, aos poucos e sem perceber, ela vai se apaixonando por ele. Isso fica bem claro quando um casal de irmãos vai viver na vizinhança de Mansfield Park. Henry e Mary Crawford são dois filhinhos de papai que moraram muito tempo na cidade grande e detestam a vida no campo. Edward se apaixona por Mary e Henry resolve roubar o coração de Fanny por brincadeira. A convivência deles dois traz um pouco de jovialidade à casa. Talvez até demais. Eles resolvem realizar uma peça dentro de Mansfield Park, o que é altamente desaprovado pelo proprietário, pai de Edward. A única que fica contra todo o ensejo é Fanny, que ganha total suporte do tio que passou a vida toda a negligenciá-la.<br />
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<img height="210" src="http://dianamican.files.wordpress.com/2010/12/mansfield-park-2.jpg" width="320" /></div>
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O conto é cheio de gracejos. Jane Austen se delicia em pegar seus próprios personagens de surpresa, colocando-os em situações embaraçantes, como fazer Mary Crawford, uma menina completamente sem papas na língua, contar a Edmund o que todas as jovens pensam sobre vigários com seus rostos sem expressão, só para descobrir, na página seguinte, que ele mesmo se tornaria um. "Mansfield Park" é uma comédia tradidional, ou seja, um clássico humor do século 19. "Deixe que outras penas se ocupem com culpa e miséria", disse uma vez a autora.</div>
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Como em muitas comédias, no entanto, no decorrer a história, descobrimos quão defeituoso é o mundo e durante um bom tempo, todas as coisas parecem caminhar para o pior. Para compreender "Mansfield Park", é necessário ver o romance como um constante debate entre os méritos da cidade e do campo - ou, colocando de outra maneira, um debate entre a constância e a mudança, a agitação e a tranquilidade. No aparentemente estável mundo de Mansfield Park, os irmãos Mary e Henry Crawford irrompem com sua sofisticação. Mary é pura ação e vivacidade e Henry é igualmente irreverente, divertido e sedutor. É de se esperar que, de uma maneira geral, os leitores se identifiquem mais ainda com eles que com Edmund e Fanny, tendo em vista que eles são mais vivos e divertidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
A intenção da autora é justamente a de mostrar os contrastes: a cidade, com suas fofocas, modas, suas danças sociais frenéticas, é um lugar atrante, de uma maneira diferente da campestre. Quando a ideia de realizar uma peça de teatro surge dentre os jovens presentes na casa que nomeia nossa obra, Mary e Henry são os primeiros a aprovar e incentivar os outros, enquanto Fanny se opõe de todas as maneiras possíveis a ideia e Edmund a aceita de mal grado com o intuito de agradar sua amada Mary.<br />
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<img height="292" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3sfzZzMUZS_45cl6q9MlzVdg9qAMcGUTD15lV7prfrtI3NgeRbdgb_tNhgMsMuXfWQxEc7p3hkNKlBZ-b1AF54RKHzjmnsHfoplDKhHbC5SRhS2DT6nRTiRVaZBe9dpeWhpoL00oopJo/s320/mansfield-oconnor.jpg" width="320" /></div>
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Apesar de seu conservadorismo, Jane Austen sabia que os sistemas sociais não são imutáveis, mas permanecem ou decaem com as pessoas encarregadas de mantê-lo. No fim do romance, a nova geração de Mansfield Park - crescida sem um senso firme sobre deveres e princípios - está praticamente em queda livre. Sendo a natureza humana o que é, o mundo de modas, novidades e caprichos não precisa forçar sua entrada nos vulneráveis Tom, Maria e Júlia. Até mesmo Edmund é tentado. Somente Fanny julga "corretamente" (de acordo com os preceitos do romance) do início ao fim. Isso é bom enquanto simboliza os valores tradicionais que Austen admirava e, possivelmente, acreditava estarem ameaçados. No entanto, o que é Fanny enquanto personagem? Podem os leitores amá-la? Conseguem eles, ao menos, simpatizar com ela?</div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, se durante toda a obra não nos encantamos com a personalidade da protagonista, é no final que nossos sentimentos começam a mudar. Nós, leitores, a vemos crescer em Mansfield Park com todos os seus privilégios, que para ela, são, na realidade, frias privações. Isso é sentido, por exemplo, na passagem onde seus primos lhe oferecem, "generosamente", seus menos amados brinquedos velhos como presente e a deixam sozinha com eles. Queremos estrangular a sra. Norris, que, aparentemente, a enviou à casa para ter alguém de status inferior que ela pudesse oprimir e desprezar o tempo todo. "As pessoas nunca são respeitadas quando saem de sua própria esfera.", diz ela, "Lembre-se, onde você estiver, você deve sempre ser a mais rebaixada e a última".</div>
<div style="text-align: justify;">
É possível notar traços da gata borralheira na história de Fanny, a menina modesta e humilde que fora sempre colocada abaixo dos primos, da própria família. No lugar do príncipe encantado, porém, Fanny encontra Henry, um mauricinho mal acostumado que resolve fazê-la se apaixonar por ele por puro divertimento. Mas Fanny não é tão facilmente enganada pelo pedido de casamento que Henry faz à própria família dela. Para se livrar dessa obrigação, entretanto, ela acaba tendo que se colocar contra seus primos, entregando-os ao tio. É nesse momento, quando Fanny toma uma posição difícil para não se permitir subjugar, que vemos que a heroína é mais forte do que aparenta. A protagonista é então mandada de volta ao seio de sua família em Portsmouth, mas sente-se ainda mais fora de contexto quando percebe a falta de modos e de educação de seus irmãos e de seus próprios pais. Ela começa a olhar para Mansfield park como um lugar de elegância e harmonia, embora tenha sido tão mal tratada. E aqui surge uma reflexão. A mãe a tia de Fanny são ambas extremamente fúteis e vazias de conhecimento, mas o comportamento da mãe reflete uma ignorância e brutalidade jamais vistas na tia. Seria isso efeito da natureza ou fruto da vivência? Da mesma maneira, o fato de Fanny não se sentir confortável junto aos irmãos mal educados não é consequência de uma genética superior, mas da criação diferenciada. O bom estímulo vence a própria natureza.<br />
<div style="text-align: center;">
<img height="212" src="http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQzPNsfrM7hCXpzQ8y3iNh190qRGtHJsNbdnxSE3UeAK_JsOyMZ" width="320" /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Irônica diversas vezes durante a peça, em seu melhor estilo, Jane Austen induz o leitor a tirar as conclusões erradas, estimula-o, por vezes, a pensar que o casamento entre Fanny e Henry é devido ou instiga ideias fúteis e preconceituosas como conceitos verdadeiros e irrefutáveis, quando sabemos que esse não é, de verdade, o pensamento da autora.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dentre suas muitas mensagens, Mansfield Park busca sugerir que a dificuldade ao longo da vida, ainda mais se ela é imposta na juventude, pode trazer frutos positivos e fazer do jovem uma pessoa melhor. Apresentando a hipocrisia, o orgulho e a vaidade dos privilegiados, ela nos conduz à conclusão de que a humildade imposta torna-se a humildade inerente (o que nem sempre é verdade).<br />
Finalmente, o romance pretende mostrar que os princípios e valores da sociedade são essenciais, mas nem sempre são encontrados em quem se espera, e sim onde ninguém imaginaria estar.<br />
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Videocuriosidades:<br />
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O único filme produzido até então com o enredo do romance é uma adaptação inglesa lançada em 1999 na direção de Patrícia Rozema, estrelando Franes O'Connor.<br />
Em 1983 e 1990, a BBC lançou séries que seguiam o contexto de Mansfield Park.<br />
Em 2007, a Company Pictures lançou uma adaptação televisiva do mesmo.</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-34769283083523582822013-04-27T07:13:00.001-03:002013-04-27T07:13:46.078-03:00"O velho e o mar", Ernest Hemingway<div style="text-align: justify;">
Foi em Cuba, no ano de 1951 que o renomado autor americano Ernest Hemingway escreveu um conto de otimismo que emociona em sua simplicidade. "The old man and the sea" é a uma das grandes responsáveis pelo prêmio Nobel da Literatura recebido por seu escritor no ano de 1954.</div>
<div style="text-align: justify;">
"O velho e o mar" é a história da luta entre um velho e experiente pescador contra a maior captura de sua vida. Durante 84 dias, Santiago, um idoso pescador cubano, aventura-se no mar, sempre retornando de mãos vazias. Tão notável é sua falta de sorte que os pais de seu jovem e devotado aprendiz e amigo, Manolin, o obrigam a deixar Santiago a fim de pescar em um barco mais sortudo. No entanto, o garoto continua se preocupando com o ancião e, a cada dia que este volta do mar, à noite, ajuda o velho pescador a empacotar seus equipamentos em sua cabana, já em ruínas; garante sua alimentação noturna; e conversa com ele sobre as novidades do baseball americano, assunto que muito interessava Santiago, em especial no que concernia seu herói no campo, Joe DiMaggio. Apesar do constate azar, o ancião não perde a confiança de que o período improdutivo logo vai passar e, no dia seguinte, decide-se por ir pescar ainda mais longe que o normal.</div>
<div style="text-align: center;">
<img src="http://3.bp.blogspot.com/_YM4pAS_BB2c/THAnNhBCXJI/AAAAAAAAC38/AWa1apHpubg/s1600/the+old+man+and+the+sea3.jpg" /></div>
<div style="text-align: justify;">
No 85º dia de sua jornada de azar, Santiago realiza o que havia prometido, navegando com seu bote pelos mares mais distantes da rasa costa da ilha e se aventurando no córrego do Golfo. Ele prepara suas linhas e joga-as. Ao meio dia, um grande peixe, um espadarte, toma a isca que Santiago havia preparado e, com ela, penetra profundamente as águas do mar. O velho pescador habilmente fisga o peixe, mas não possui forças para colocá-lo para dentro do bote. Em vez disso, é o peixe quem começa a puxar o bote.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por não conseguir amarrar a linha ao bote, temendo que, esticada, o peixe conseguisse partir a linha, o velho segura a tensão da linha com seus ombros, costas e mãos, pronto para folgá-la caso o peixe começasse a nadar mais rápido. O espadarte puxa o barco o dia inteiro, a noite inteira, outro dia inteiro e outra noite inteira. Ele nada no sentido contrário da corrente até que, cansando, em um determinado ponto ele resolve seguir a corrente. Durante todo esse tempo, Santiago suporta uma dor constante da linha de pesca. Cada vez que o peixe mergulha, salta ou esquiva-se na tentativa de escapar, a corda corta gravemente as mãos de Santiago. Muito embora ferido e cansado, o velho pescador sente uma grande empatia e admiração pelo peixe, seu companheiro em sofrimento, força e determinação.</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"É um peixe enorme e tenho de dominá-lo. Não posso deixar que ele compreenda a força que possui, nem o que poderia fazer se aumentasse a velocidade. Seu eu fosse ele, reuniria agora todas as minhas forças e começaria a correr com toda a velocidade até que qualquer coisa partisse. Mas, graças a Deus, não são tão inteligentes quanto nós, nós que os matamos, embora sejam mais nobres e valiosos."</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
É apenas no terceiro dia que o peixe se cansa e Santiago, privado de sono e quase delirante, consegue puxar o peixe para perto e, assim, matá-lo com o golpe de um arpão. Morto ao lado do bote, o espadarte é o maior que Santiago já havia visto. O pescador levanta o mastro e começa sua jornada de volta para casa. Nosso personagem anima-se com o valor financeiro do espadarte no mercado, mas a sua real preocupação é o fato de que as pessoas que comerão o peixe não serão merecedoras de sua grandeza. A firmeza, determinação e o coração forte demonstrado pelo peixe durante toda a luta são raras virtudes na sociedade.</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"[...] por que ele teria saltado? Quase que diria que veio à tona d'água só para mostrar-me como é grande. Agora já sei, seja lá como for. Gostaria de lhe poder mostrar que espécie de homem sou eu. Mas nesse caso, ele veria a cãibra que tenho. É melhor que ele pense que sou mais do que sou e assim o serei. Gostaria de ser aquele peixe, e trocaria de bom grado minha vontade e minha inteligência para ter tudo o que ele tem"</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto Santiago veleja com o peixe, o sangue do espadarte deixe um rastro na água e atrai tubarões. O primeiro a atacar é um grande anequim, o qual Santiago consegue assassinar com o arpão. Na luta, o ancião perde não somente seu arpão, como também metros de uma corda valiosa, o que o deixa vulnerável ao ataque de outros tubarões. O pescador repele os sucessivos perversos predadores o máximo que pode, esfaqueando-os com uma lança que ele cria ao acoplar uma faca a um remo e até surrando-os com o leme de seu barco. Apesar de matar muitos, cada vez mais tubarões surgem e, quando a noite chega, a luta de Santiago contra os carniceiros torna-se inútil. Eles devoram a melhor carne do espadarte, deixando somente o esqueleto, a cabeça e o rabo. Santiago, então, começa a se castigar por ter indo tão longe da costa e por ter sacrificado inutilmente seu grande e digno oponente. Ele chega em casa antes do cair da noite, cambaleia até sua cabana e dorme profundamente.</div>
<div style="text-align: center;">
<img src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/5/51/Oldmansea_petrov.jpg" /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na manhã seguinte, uma multidão de pescadores maravilhados se reúne ao redor da carcaça do peixe, a qual está ainda acoplada ao barco. Nada conhecendo sobre a luta do velho pescador, turistas em um café próximo observam os restos do espadarte gigante e o confundem com um tubarão. Manolin, extremamente preocupado com a ausência de Santiago, não contém as lágrimas de seus olhos quando encontra o velhinho salvo em sua cama. Ele busca um café para ele e os jornais do dia com a pontuação do baseball e depois assiste Santiago enquanto ele dorme. Quando o ancião acorda, ambos concordam de retornar com a parceria de pesca. O pescador volta a dormir e sonha seu<span style="font-family: inherit;"> frequente sonho sobre leões brincando nas praias da África.</span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<em style="background-color: white; line-height: 18px;"><span style="font-family: inherit;">""É bom saber que não tenho de tentar matar as estrelas. Imagine o que seria se um homem tivesse de tentar matar a lua todos os dias", pensou o velho. "A lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de matar o sol. Nascemos com sorte."</span></em></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Não apenas uma história de solidão, nem tampouco mais um conto sobre a constante luta entre o homem e a natureza. A obra vai além. Ela nos traz a sabedoria e experiência de alguém que passou por muito na vida e aprendeu a não desistir. Também nos traz lições intermediárias sobre aparências, superioridade e humildade em palavras que de tão simples nem sequer precisam ser interpretadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
O ancião não tem família e seu único amigo no mundo é Manolin. Mas não é porque ele está sozinho que desiste de percorrer seus objetivos. Nem a idade, nem o cansaço, a falta de força física, ou o desgasto são capazes de fazer o velho pescador desistir. Ele reconhece que seu oponente é mais forte e mais hábil que ele e tudo que ele tem a seu favor é a inteligência, a paciência, a perseverança e a sabedoria de seus anos de pesador e de homem. Ainda assim, ele persevera e acaba por vencer a batalha. Mas quem saiu vitorioso?</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>" 'Mas o homem não foi feito para a derrota,' disse.'Um homem pode ser destruído, mas não derrotado'"</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Ao passo que uma história de determinação, o livro nos apresenta o outro lado da ambição: muitas vezes conseguimos atingir nossos objetivos, mas depois percebemos que eles, simplesmente, não valiam à pena. Antes mesmo dos tubarões destroçarem o peixe, fazendo nosso protagonista arrepender-se profundamente de seu sacrifício de ir mais além e de tirar a vida de seu digno e grandioso amigo, Santiago sente remorso por saber que as pessoas que desfrutarão de sua pesca não são dignas do espadarte. Finalmente, após grande desgasto e arrependimento, Santiago retorna ao ponto em que estava no início: talvez não mais triste, mas tampouco mais feliz. E voltamos à velha controvérsia: será que os fins realmente justificam os meios? Muitas vezes, machucamos pessoas, deixamos os entes queridos de lado, focando em um objetivo com perseverança e determinação, mas percebemos que de nada valeu todo o esforço e sacrifício quando percebemos que, não importa onde estejamos, as coisas de valor serão sempre as mesmas e estarão sempre no mesmo lugar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<div style="text-align: justify;">
<u>Videocuriosidades:</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dirigido por John Sturges e estrelando Spenser Tracy, em 1958, apenas alguns anos após a publicação do livro, surgiu a primeira adaptação da obra.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1990, outro longa foi produzido, dirigido por Jud Taylor e estrelado por Anthonny Quinn.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1999, com a direção de Aleksandr Petrov, um curta de animação foi produzido baseado na obra de Hemingway.</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-76996165075546143812013-03-20T20:02:00.000-03:002013-04-27T09:20:07.012-03:00"Jane Eyre", Charlotte Brontë<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Publicado em 1847, "Jane Eyre" é um livro inteligente de excelente e sutil elaboração. Obra de Charlotte, uma das irmãs Brontë, aqui já citadas em<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2012/12/o-morro-dos-ventos-uivantes-emily-bronte.html"> "O morro dos ventos uivantes"</a>, é uma obra considerada indubitavelmente de alta apreciação, divergindo deste último, por cuja qualificação literária críticos de todas épocas entram em atrito (minha humilde opinião permanecendo com aqueles que glorificam a autenticidade de sua escrita). "Jane Eyre" é um livro formado por livros, um ninho de narrativas. De contos de fadas ou narrativas góticas a escritos da psicologia, a obra inspira, em suas entrelinhas, influências das mais diversas histórias. Incute-nos, pois, a simpatizar com suas perspicazes, porque disfarçadas e "adultificadas", pinceladas de histórias há tempos por nós conhecidas, como "Cinderella" e "A Bela e a Fera".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">Órfã, Jane Eyre é destinada a viver na casa de seu tio, ficando, após o falecimento deste, aos cuidados da esposa dele. Com três filhos, duas meninas e um menino, aproximadamente da idade de Jane, a sra. Reed não se esforça para dissimular a diferença existente entre ela e seus filhos, que ela considera crianças de porte superior. Injustiçada, maltratada e desprezada, Jane inicia um tal processo interno de amargura que chega ao ponto de confrontar sua "tia", ferinamente atentando-lhe para suas falhas de caráter. A senhora começa, então, a ver a menina não somente como uma menina ruim, mas praticamente como uma possuída. Eyre é enviada para o colégio interno de Lowood, onde, após superar os conflitos iniciais causados pelas terríveis referências que a sra. Reed havia fornecido sobre ela, consegue ficar demasiadamente satisfeita com sua vida.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><img height="239" src="http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ3ZCgGU0hzoCY9zZNWTEU4QlZQrErBFzJZZ1EcVR89ZTJTuxO4" width="320" /></span></div>
<span style="font-family: inherit;">Após término dos estudos, Jane passa dois anos dando aulas para as novas pupilas, até que decide-se por aceitar um emprego de tutora de uma menina mais nova e mudar totalmente o rumo de sua vida, indo trabalhar e habitar na casa de outrem, possuindo um patrão específico e outras coisas que ela não havia experienciado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">A casa para qual ela parte pertence ao sr. Rochester e a menina, Adèle, é uma francesa, filha de uma concubina do sr. Rochester que havia falecido. O sr. Rochester não chega a ser o herói perfeito da literatura romântica: lhe falta beleza, apesar de possuir, aos olhos de nossa protagonista, um porte físico interessante, e lhe falta juventude. Nos deparamos, então, com um amor fora do comum entre uma simples criada de 19 anos e seu senhor rico e poderoso, que beira os 40. Mas há ainda maiores mistérios que se colocam como empecilhos a esse romance. Fatos extremamente esquisitos e inexplicáveis acontecem em Thornfield Hall: tentativas de assasinato, gritarias noturnas e risadas assombrosas. Após, enfim, toda a luta travada para que os sentimentos entre o sr. Rochester e Jane Eyre se tornassem públicos e o casamento fosse arranjado, descobre-se, no meio da cerimônia, que os movimentos estranhos em Thornfield são produzidos pela esposa de Edward Rochester, que enlouqueceu com poucos anos de casamento.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Jane sente-se obrigada a fugir da propriedade. Sem aviso prévio, conduz-se ao mais longe possível e, miserável, é acolhida na casa de duas moças e um rapaz, irmãos. O rapaz, St. John Rivers é um pastor na pequena congregação da vila. Muito bonito e jovem, é sempre sério e impenetrável. Um afortunado tio dos três proprietários do lar que abriga Jane morre, mas, diferente do que se poderia imaginar, no lugar de deixar sua fortuna para eles, salvando-os da situação precária na qual estavam se afundando, o herdeiro escolhido é parte do outro lado da família. Por fim, Eyre acaba descobrindo-se a herdeira de uma fortuna e, mais importante e afortunado que isso, descobrindo que possui uma família. Divide, então, sua herança, que é suficiente para garantir o conforto de todos, com os primos e, com essa generosidade, conquista ainda mais o afeto destes. St. Rivers, após analítico estudo do caráter e personalidade de Jane, pede-lhe em casamento, não por fins amorosos, e sim, pois tem a intenção de realizar uma missão de solidariedade na Índia e pretende levar uma mulher consigo, na qual o posto de esposa de um missionário caia bem, o que demanda virtudes como a coragem, a disposição e o prazer no trabalho árduo. Após relutância, ela decide partir com ele. </span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="background-color: white; line-height: 20px; text-align: start;"><i><span style="font-family: inherit;">"Estou, simplesmente, em meu estado original... despido daquele manto manchado de sangue com o qual o cristianismo cobre a deformidade humana... um homem frio, duro, ambicioso. Só a afeição natural, entre todos os sentimentos, tem um poder permanente sobre mim. A razão, e não o sentimento, é o meu guia; minha ambição não tem limites; meu desejo de elevar-me mais alto, fazer mais que os outros, é insaciável. Respeito a resistência, a perseverança, a diligência, o talento; porque esses são os meios pelos quais os homens atingem grandes metas e se erguem à grande eminência. Observo sua carreira com interesse, porque a considero um espécime de mulher diligente, ordenada, enérgica; não porque me compadeça profundamente pelo que sofreu, ou sofrerá ainda."</span></i></span></blockquote>
<span style="font-family: inherit;">No entanto, antes de partir, decide retornar a Thornfield para ter notícias de seu verdadeiro amado. Descobre, então, que a louca esposa dele incendiou e arruinou o lugar e que muitos saíram feridos, mas a única morta foi ela mesma. O maior infortúnio para Jane, porém, é descobrir que Edward saiu cego e com uma mão amputada do acidente. Dirigindo-se ao atual local de morada de seu amado, ela decide lhe falar e percebe que seu lugar é ao lado dele, cuidando como se fosse os olhos e as mãos de Edward. Eles se casam e, com o tempo, Edward ainda consegue adquirir de volta a visão de um dos olhos. E, assim, temos o nosso final feliz.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><img height="320" src="http://novelreaction.com/wp-content/uploads/2010/08/jane-eyre-and-mr-rochester.jpg" width="260" /></span></div>
<span style="font-family: inherit;">Muitos apontaram "Jane Eyre" como um perigoso e sexualmente excitante manifesto feminista. O verdadeiro feminismo virotiano! De fato, presenciamos os novos ventos do pensamento a favor da modificação do posicionamento da mulher na sociedade, que não possuía o direito ao voto, ao divórcio ou aos estudos numa universidade, em diversas linhas de nossa história. Os inimigos da revolução psicológica alegavam que a obra possuía um tom pouco feminino e uma mensagem extremamente incendiária, repudiando sua nudez emocional e seu poder de sedução. A começar pela personalidade da própria protagonista. Ao mesmo tempo que racional e lógica, disposta e de inteligência aguda, Jane tem paixão e segue seus impulsos sem pensar duas vezes. Força de vontade, mente honesta, coração amoroso e personalidade peculiar e fascinante são as qualidades de nossa personagem principal. Seu principal impulso é a raiva e seu temperamento é extremanmen<span style="background-color: white;">te forte. Assim a define St. John: <i>"</i></span><span style="background-color: white; font-style: italic; line-height: 14.545454025268555px; text-align: left;">embora você tenha um vigoroso </span><span style="background-color: white; font-style: italic; line-height: 14.545454025268555px; text-align: left;">cérebro</span><span style="background-color: white; font-style: italic; line-height: 14.545454025268555px; text-align: left;"> de </span><span style="background-color: white; font-style: italic; line-height: 14.545454025268555px; text-align: left;">homem</span><span style="background-color: white; font-style: italic; line-height: 14.545454025268555px; text-align: left;">, tem um </span><span style="background-color: white; font-style: italic; line-height: 14.545454025268555px; text-align: left;">coração de mulher</span><span style="background-color: white;"><i>". </i>Ainda me impressiona o fato de que, no período, a racionalidade e a lógica eram qualidades identificadas apenas com o cérebro masculino.</span></span><br />
<span style="font-family: inherit;">A voz do romance nos fala sobre paixão erótica (revolucionária apenas nos termos da época, mas em níveis mais que naturais para um romance dos dias de hoje, sem apelar para o confronto sexual como forma de atrair a leitura, como fazem tantos), aspirações de uma "casta" inferior e a ira feminina, em uma época onde o radicalismo político ameaçavam os limites da ordem (movimento cartista de meados de 1840). O murmúrio do romance contra o conforto dos ricos e as privações das classes pobres envolve uma asserção orgulhosa e perpétua dos direitos dos homens, para a qual não encontramos autoridade nem na palavra de Deus, nem na providência divina. Jornais denunciaram a obra como com traços de um fundamentalismo não cristão, quando, na realidade, podemos sentir a importância da religião, ainda que questionada como verdade absoluta, no decorrer do livro.</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: white;">"<i>Espera-se que as mulheres sejam calmas. Entretanto, sentem da mesma forma que os homens. Precisam exercitar suas faculdades, assim como precisam de um campo para os seus esforços, tanto quanto seus irmãos. Sofrem de limitações, abnegações, da mesma forma que os homens sofreriam. É uma limitação, por parte de suas companheiras mais privilegiados, achar que devem confinar suas vidas a fazer pudins, coser, tocar piano e bordar. Seria irresponsável condenar aquelas mulheres que procuram fazer mais ou querem aprender mais do que o costume declara necessário ao sexo</i></span>"</span></blockquote>
<span style="font-family: inherit;">Leis do direito do indivíduo estão espalhadas e podem ser encontradas ao longo de todo o romance. As relações econômicas, como entre patrões e empregados, são vastamente questionadas, buscando reafirmar a liberdade dos assalariados diante de seus mestres, apesar do respeito devido, reivindicando talvez não propositalmente, a favor dos trabalhadores cartistas que se autodenomivavam, debochadamente, "escravos brancos".</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Ao passo que revolucionária, obra apresenta também tendências racistas ao demonizar, através da loucura, a esposa do sr. Rochester, que é mestiça ou, como denominada no livro, crioula. Essas passagens poluem a ética da obra, que possui um espírito tão enriquecedor e inovador para o período. Há, nessa e em outras comparações, inúmeras referências à superioridade européia e à selvageria encontrada nos países do "novo mundo". Encontro frequentemente nas melhores obras européias esses traços de racismo e xenofobia, tristes, pois não me permitem admirar com plenitude o romance ou o autor. Quando existem aspectos de luta por direitos do ser humano, encontro-me com ainda mais desprezo por ver que, apesar de sentir-se injustiçado, o escritor não foi capaz de perceber as injúrias que cometeu com uma classe de pessoas pormenorizadas não menos importante que a sua.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">O aspecto mais complexo e contraditório do romance é a maneira como trata o casamento e as relações entre gêneros, de uma maneira geral. Jane chama o sr. Rochester de "seu mestre" com uma afiada satisfação, ao passo que repudia desdenhosamente a autoridade de outros, como St. John Rivers, apesar de sua obediência. A radical autonomia feminista de Jane alterna-se com a ânsia por tornar-se uma das queridas de seu mestre.</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-family: inherit;"><i style="background-color: white;"><span class="emphasis" style="border: 0px; line-height: 18px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: start; vertical-align: baseline;">"Eu</span><span style="line-height: 18px; text-align: start;"> me preocupo comigo. Quanto mais solitária, quanto mais sem amigos, quanto menos apoio eu tiver, mais respeito terei por mim mesma. Vou cumprir a lei dada por Deus; sancionada pelos homens. Vou me fiar nos princípios recebidos por mim quando eu era sã, e não louca - como estou agora. As leis e os princípios não são para os momentos em que não há tentação: são para momentos como este</span></i><span style="background-color: white; line-height: 24px;"><i>, quando corpo e alma se levantam em motim contra o rigor deles; são severos; serão invioláveis. Se, por minha conveniência pessoal, eu os quebrasse, qual seria o valor deles? Têm um valor — sempre acreditei nisso; e se não posso acreditar agora, é porque estou insana, com fogo correndo nas veias e o coração. </i></span><i style="background-color: white;"><span style="line-height: 18px; text-align: start;">As opiniões que formei, as decisões que tomei, isso é tudo que tenho neste instante para me firmar: essa é minha base de apoio."</span></i></span></blockquote>
<span style="font-family: inherit;">No entanto, a atitude despótica do sr. Rochester com relação a Jane no início do livro não a agrada, porém ela consegue afirmar sua posição igualitária (ou mesmo superior) ao seu tão amado mestre, que por sua vez, não apenas assume a igualdade, como também sua inferioridade.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">O casamento igualitário, onde a "pequeninês" da mulher torna-se a mais forte base de apoio para o "tão dominante" homem é o ideal da obra (uma noção ainda atrasada de igualdade, digamos). O fato do sr. Rochester perder os olhos e a mão, precisando do suporte incondicional de Jane, é uma afirmação disso. O amor consagrado em "Jane Eyre" é muito mais humano que divino. Ao recusar a proposta de St. John de um casamento dedicado explicitamente ao Espírito, que abdicaria das paixões carnais, "Jane Eyre" trilha um caminho da ambivalente heresia cristã e do tradicionalismo transgressivo: prefere o símbolo humano do amor, com o casamento, ao amor em si mesmo, na união com Cristo.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Um dos aspectos mais mágicos da obra é sua voz. Pessoal, emocional, fluida, ela infere uma pessoalidade e cria a ilusão de haver uma "pessoa real" por trás do texto, falando diretamente aos leitores. Talvez o fato de possuir influências autobibliográficas tenha colaborado com esse efeito. Paradoxalmente, o romance é densamente alusivo e possui grande riqueza literária, tão extensa que necessitaria de um estudo aprofundado que não posso fornecer em algumas linhas no blog, mesmo porque não tenho propriedade alguma no assunto. Mas textos shakesperianos como <a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2012/04/hamlet-william-shakespeare.html">"Hamlet"</a> e Othello são exemplos de fortes de interessantes alusões.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><img height="244" src="http://1.bp.blogspot.com/-dLXqCG5bP64/UCeXR6cQZlI/AAAAAAAAbsg/S-jWH0vtZFI/s320/JaneEyre1983_4133Pyxurz.jpg" width="320" /></span></div>
<span style="font-family: inherit;">Jane Eyre é uma obra original, vigorosa, edificante e absolutamente interessante. É original em seus personagens, que possuem caráter peculiar, e em seu enredo, por mais simples, ao passo que rico, que o seja. É vigorosa em seu pensamento e, consequentemente, em seu estilo, afirmando ideias enfáticas e revolucionárias que encaixam-se perfeitamente ao contexto do período. É edificante por sua beleza e sinceridade. É, por fim, interessante, pois condensa traços de riqueza literária, forte influência de contexto histórico, pessoalidade e questionamento, nem como asserção, de valores e princípios, em uma narrativa que nos absorve com sua trama singular. "Jane Eyre" tem muito a nos ensinar e fazer refletir.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />
<u>Curiosidade:</u></span><br />
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Ao visitar uma igreja anglicana em Galway, Irlanda, encontrei cravada na parede a homenagem a um poderoso casal da região, falecido muito antes do lançamento de nosso romance. Os nomes na parede? Jane Eyre e Edward Rochester. De família mais rica que o marido, porém, essa Jane Eyre não quis adotar o nome Rochester. Coincidência ou não, achei bastante curioso.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"><br />
<u>Videocuriosidades:</u></span><br />
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Em 2011 foi lançada a mais recente adaptação da obra, do diretor Cary Fukunaga, estrelando Mia Wasikowska e Michael Fassbender.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Mais um de Franco Zeffirelli, em 1996 William Hurt e Charlotte Gainsbourg foram as estrelas do longa. </span><br />
<span style="font-family: inherit;">1983 foi o ano da mini-série com Zelah Clark e Timothy Dalton (que eu aprecio bastante pelo filme que adorei na infância e passava sempre na sessão da tarde: "The Beautician and the beast").</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Em 1970, Delbert Mann dirigiu o longa com George Scott e Susannah York.</span><br />
<span style="font-family: inherit;">Dirigidido por Robert Stevenson, na adaptação de 1944 estrelavam Orson Welles, Joan Fontaine e Margaret O'Brien.</span></div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-84841368559888311162013-02-17T13:24:00.000-03:002013-02-18T18:33:02.997-03:00"Timão de Atenas", William Shakespeare<div style="text-align: justify;">
Publicado em meados de 1623, "Timão de Atenas" é mais uma grande obra de William Shakespeare que evoca e satiriza intensos sentimentos da essência humana. Nessa obra, o autor possui apenas um foco e uma intenção: colocar em análise a ganância humana, apresentada tanto na generosidade pretensiosa de nosso protagonista, quanto nas falsas amizades que ele possui.<br />
Timão é um rico mecenas que patrocina políticos, artistas, filósofos e qualquer um que se diga seu amigo. Bastante generoso, está sempre rodeado de admiradores dispostos a ouvir tudo que ele tem para dizer. Esses "amigos", no entanto, são constituídos por um grupo de pessoas que estão dispostas a ficar por perto até que sua fortuna finalmente se extinga. Timão consegue, com facilidade, encher uma mesa de banquetes ou lotar uma de suas festas com pessoas que, aparentemente, o apreciam muito. Ao mesmo tempo, será que uma quantidade tão absurda de pessoas iria manter-se próxima simplesmente para receber presentes e comer de graça? Apemantus, um personagem que surge para dar contra-peso às idealizações de Timão, parece achar que os amigos deste último não passam de bajuladores baratos, mas também ele permanece por perto, sem desfrutar dos banquetes e presentes.<br />
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="http://www.shakespearepost.com/wp-content/uploads/2011/06/timon1.jpg" width="233" /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
O principal, ou praticamente único, tópico abordado no livro sintetiza-se na seguinte indagação: dinheiro compra amizades? Shakespeare busca, com sua prosa, fazer-nos questionar sobre a ligação que existe (ou não) entre o bem-estar material e os laços de amor e amizade. Que todas as pessoas estão em busca de seus próprios interesses, é irrefutável. Inclusive, absolutamente aceitável quando esse "interesse" é pela boa companhia, o sentimento em si e o relacionamento de uma maneira geral. Afinal, quando vamos buscar lá no fundo, é o interesse pelas coisas e pelas pessoas que move o ser humano. Mas em que ponto podemos começar a desconfiar que o interesse é ou torna-se algo de material, supérfluo, não somente com relação ao dinheiro, mas com relação ao conforto e à praticidade? Como descobrir se esses "laços" são, na verdade, um relacionamento unilateral, onde, enquanto um se doa, o outro apenas usufrui? Essas "amizades" só são mantidas até que aquele que busca precise da ajuda do outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
A riqueza de Timão é única em sua grandeza. Sua generosidade parece ser auxiliada por uma fonte inacabável de recursos, dos quais ele se beneficia incessantemente. No entanto, em determinado momento, essa fonte tem que se esgotar. Logo, Timão hipoteca suas terras para comprar presentes e fazer festas. Ele chega ao ponto de pedir empréstimos aos amigos para poder, em seguida, comprar-lhes presentes.<br />
Todos esses esforços, porém, parecem sem sentido. Alguns podem interpretar o comportamento de Timão como ingênuo ou inocente. Aparentemente, porém, Timão se coloca nessa situação simplesmente, porque precisa da atenção e do agradecimento de seus amigos. Tampouco ele oferece esses presentes esperando retorno material. Ele sente a necessidade de ter prestígio social. Na realidade, ele adquire status através de seus gastos e acredita que sua "generosidade" solidifica sua amizade com os lordes de Atenas que o rodeiam. Assim, apesar de nosso personagem colocar sua confiança em vínculos intangíveis, a máscara da realidade cai para ele quando se coloca na situação de pedir empréstimos. Todos seus amigos se recusam a lhe ajudar quando a única garantia que ele tem para oferecer é a amizade.<br />
Os comentários de Apemantus no decorrer do livro fazem contraste com as crenças idealísticas de Timão. O primeiro acredita que as pessoas são naturalmente gananciosas e perversas, talvez uma inspiração do autor na filosofia desenvolvida no período, intimamente ligada com o trabalho do filósofo e escritor inglês, Thomas Hobbes. Apemantus também acredita que a generosidade não é uma marca da sociabilidade, mas um investimento com o objetivo de influenciar os outros e ganhar o retorno social da admiração, do respeito e da capacidade de manipulação. Assim, tanto as ideias dele quanto as do nosso protagonista se baseiam na questão de quanto a abundância ou carência de bens materiais determina a interação de um indivíduo, tanto na sociedade, quanto na maneira que ele vê a si mesmo.<br />
<div style="text-align: center;">
<img height="192" src="http://newsroom.unl.edu/announce/files/file26026.jpg" width="320" /></div>
As trocas de mercadoria são as únicas transações que acontecem nessa peça. Ou seja, são as permutas financeiras que dominam a obra, onde as mulheres não ocupam nenhum papel de importância. Assim, o câmbio de capital desenvolve um papel perverso e depravado, tomando o lugar de uma possível relação heterossexual romântica que poderia vir a ser um dos focos da narrativa. Da mesma maneira, a história baseia-se no antigo retrato de "usura" como uma maneira depravada de obtenção artificial de lucros.<br />
A reação de Timão à sua queda é bastante curiosa. Como muitos dos personagens das obras de Shakespeare, Timão possui um caráter egoísta e precisa aprender uma lição para crescer como pessoa e prosseguir. Ainda assim, ele fracassa nessa tarefa. A única mudança que percebemos no personagem é a saída de um comportamento extremo para outro. Enquanto, no início, ele se isolava dos outros lordes para conseguir se manter em aparência como um deus de generosidade, inatingível, após perder seu dinheiro, ele se isola na floresta, amaldiçoando a humanidade com o mesmo entusiasmo com o qual ele a louvava anteriormente. Mesmo quando sua crença de que a natureza amigável do homem é inatamente gentil mostra-se falsa, o egocentrismo de Timão permanece imbatível e ele continua achando que deve se manter afastado dos outros por ser melhor que eles. É então que morre sozinho, enterrando a si mesmo em seu próprio epitáfio.<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i><span style="font-family: inherit;"><br /><span style="background-color: white; line-height: 19.1875px; text-align: start;">"<b>TIMÃO</b> - Ah, muralhas de Atenas, vou olhar pra vocês pela última vez. Vocês, que cercam esses lobos, caiam por terra e deixem Atenas ao deus-dará. Mulheres, chafurdem na bacanal. Crianças, não obedeçam mais ao papai. Escravos e idiotas, arranquem do plenário os veneráveis membros murchos do Senado e assumam o poder. Virgenzinhas em flor, convertam-se . Falidos do mundo, "uni-vos" - em vez de pagar as dívidas, puxem da navalha e rasguem a garganta dos credores. Trabalhadores assalariados, roubem - os seus patrões são ladrões de mão grande, que roubam também, mas com o apoio da lei. Empregadas, já pra cama do patrão - a patroa ainda não voltou do bordel. Jovens, ao completar dezesseis anos, arranquem a muleta estofada do seu progenitor aleijado e rachem com ela a cabeça dele. Piedade, temor, religião, paz, justiça, verdade, respeito em casa, noites de folga, boa vizinhança, boa educação, boas maneiras, hierarquias, artes e ofícios, usos, costumes e leis, degenerem até que tudo morra no seu contrário e ainda assim viva o caos. Pestes do mundo, que as suas febres invadam Atenas, pronta pra o abate. Que a fria ciática lese tanto os nossos senadores que os seus membros fiquem tão frouxos quanto os seus costumes. Que a luxúria e a libertinagem penetrem sutilmente na medula dos jovens, pra que eles nadem contra a corrente da virtude e se afoguem na perdição. Que sarnas e pústulas plantem-se fundo nos corações atenienses, e que a colheita seja a lepra geral. Que o hálito infecte o hálito, e que a amizade destile puro veneno. Não levo dessa cidade execrável nada mais que a nudez do corpo. Que ela fique nua também, debaixo de mil maldições. Timão vai pra floresta, onde a fera mais desumana é mais humana que a humanidade. Que os deuses - todos os deuses, estão me ouvindo! -, que os deuses amaldiçoem os atenienses, dentro e fora dessas muralhas. Que a vida de Timão faça o seu ódio ser eterno. Contra todos os homens do mundo, no olimpo e no inferno. Amém.</span></span></i></blockquote>
Timão, no entanto, é uma figura ambígua. Quando ele sai de Atenas, declara que a humanidade pode ser resumida em ganância e nada mais. Mas será que, de fato, podemos concordar com ele? Provavelmente, essa percepção sem propósitos é sua resposta ao desprezo e humilhação que sofreu. Se, no início, ele se mostrava um homem tolo, porém generoso, no fim, ele não passa de um homem furioso que continua tolo. Ele deixa a cidade por causa do comportamento cruel de alguns homens, tomando-os como sinal da podridão da humanidade. No entanto, alguns outros personagens tentam provar o contrário.<br />
<div style="text-align: center;">
<img height="195" src="http://farm4.staticflickr.com/3185/3929059818_2693ac6f95_z.jpg?zz=1" width="320" /></div>
Flavius divide suas provisões financeiras com os serviçais de Timão, provando-se um homem honrado aos olhos deste. Apemantus e Timão, apesar das discussões, apreciam a companhia um do outro. E, por fim, há Alcibiades, que prepara um ataque à cidade para restabelecer a honra de Timão em Atenas. Com tantas pessoas ao lado de Timão, buscando fazê-lo retornar à cidade e lhe dando suporte, a insistência dele sobre a natureza má da humanidade não procede.<br />
De fato, após a morte de Timão, quando Alcibiades chega aos portões de Atenas, os senadores usam um argumento bastante interessante para tentar convencê-lo a não atacar. Eles explicam que aqueles que foram cruéis com Timão (e com o próprio Alcibiades) são apenas uma pequena porção da população e, portanto, poderiam ser facilmente identificados e punidos. A conclusão da peça, assim, recai na sugestão de que a crueldade não é um fenômeno universal, como Timão imaginava, e sim algo aparentemente restrito a seus "amigos" gananciosos.<br />
Por fim, nos é deixada uma mensagem inconsistente. O herói, se assim podemos denominar Timão, toma decisões erradas quando rico (fazer empréstimos para dar presentes) e também quando perde seus bens (deixar a cidade e amaldiçoar os homens). Com esse comportamento extremo, ele acaba por não ter tempo de aprender nada e morre antes de encontrar um sentido na vida, entre suas reações exacerbadas. Afinal, será que os esforços de Timão nos alertam para desconfiar da generosidade, já que vimos que seus destinatários são aduladores ingratos? A peça é, realmente, uma contestação contra a amizade, quando mostra que as amizades de Timão são guiadas pela ganância?<br />
Ao mesmo tempo que podemos responder positivamente a essas questões, encontramos traços que enfatizam o contrário na obra. Mas quando Flavius, um homem de classe baixa, aprecia genuinamente a generosidade de Timão e o oferece sua amizade, devemos interpretar que a maioria das pessoas é, de fato, gentil? Além disso, os números apresentados por Shakespeare não nos levam a uma conclusão: enquanto três homens desprezam Timão, são três os homens que o visitam, tentando conectar-se com ele de várias maneiras. Ainda que Timão tenha acabado indeciso quanto à interpretação dos acontecimentos, a peça, como um todo, poderia, como tantas outras, transmitir uma ideia absoluta aos leitores. Como Timão, porém, a história finaliza-se com ideias amplamente ambíguas. Talvez nem mesmo Shakespeare tivesse ainda conseguido decifrar o enigma das relações sociais e, colocando-nos o tópico em mente, nos convida a tirarmos nós mesmos as conclusões que, suponho, serão parciais e baseadas nas experiências de cada um.<br />
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Video-curiosidades<br />
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A peça raramente saiu dos palcos às telas de cinema e televisão.<br />
Todo o registro que pude encontrar resume-se a uma série criada em 1981 pela BBC, dirigida por Jonathan Miller e a uma adaptação cinematográfica de 2009, dirigida por Michael Shaw Fisher.</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-15435581543516155772012-12-02T19:03:00.000-03:002013-02-18T18:31:20.860-03:00"Um Conto de Natal", Charles Dickens<div style="text-align: justify;">
Poucos personagens, em contos ou em vida, são capazes de suportar a teimosia sem tamanho do velho Scrooge. Não é, portanto, improvável, que o protagonista da história que surgiu em 1843, criação do inglês Charle Dickens, esteja tão vivo na mente dos leitores atuais quanto estivera na dos vitorianos. Foi com essa figura peculiarmente perversa que "A Christmas Carol" tornou-se uma obra amplamente reproduzida e adaptada até os dias de hoje. A óbvia (e abrupta) ciclicidade de seu personagem nos traz uma narrativa não somente comovente, mas, principalmente, interessante, pois, de fato, o ciclo é completado. Diferente de personagens que do mal, vão ao bem e vice-versa, Scrooge passa de um jovem de coração puro a um homem corrompido pela filosofia capitalista e, enfim, novamente retorna aos valores essenciais ao ser humano.</div>
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Ebenezer Scrooge era um homem amargo, ranzinza e mesquinho, que odiava o Natal. Não tinha compaixão, nem piedade. Ele mantinha uma empresa, junto com seu sócio, Marley, que também não era muito maior em espírito que o outro. Marley morre, sozinho, em uma véspera de Natal. Não há quem lamente sua morte ou chore por sua falta, nem mesmo seu grande companheiro de negócios há anos, Scrooge. Sete anos depois, o velho rabugento, protagonista de nossa história, recebe a visita do fantasma de Marley. Acorrentado e sofrendo por todos os males que fez (ou bens que não fez) no mundo dos vivos, ele vem para introduzir a visita de outros três fantasmas que virão no decorrer da noite para, através das imagens do passado, do presente e do futuro, dar mais uma chance de mudança a Scrooge. O fantasma do passado vem para mostrar os momentos felizes, bem como os tristes, do passado de Scrooge: o desprezo do pai, o carinho da irmã, o encontro de um grande amor e sua subsequente perda, quando a mesquinhez começa a penetrar o espírito de Scrooge. O do presente vem mostrar os natais que se passam nas casas das famílias de alguma maneira próximas a Scrooge: o ódio que a esposa de seu empregado sente pela perversidade dele e a carência financeira da família, fruto do baixíssimo salário do pai, que, além de tudo, não tem condições de dar a o atendimento adequado a seu filho deficiente; o Natal na casa de seu antigo amor, que, agora, casada, com filhos lindos e muito feliz, o faz perceber tudo aquilo que poderia ser dele, mas que sua avareza não permitiu; finalmente, o Natal na casa de seu sobrinho, para o qual ele é chamado todos os anos, convite que ele sempre nega, tornando sua rabugice um motivo de piadas dentro da própria família.<br />
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<img height="200" src="http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/foto/0,,32862306,00.jpg" width="320" /></div>
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O fantasma do futuro lhe mostra o dia do seu enterro: ninguém para lamentá-lo, uns ou outros a comentar sobre o que será agora do dinheiro que ele tanto guardou e para nada serviu, muitos querendo se aproveitar da solidão de sua morte para roubar o defunto sem que ninguém perceba. Após todas essas visões, a preocupação de Scrooge é: será que esse futuro é imutável? Ou será que, mudando a atitude, o que virá também pode mudar? É então que ele assume uma postura completamente diferente ds anterior sobre a vida. De repente, torna-se generoso, alegre, cheio de amor. Vai ao Natal na casa do sobrinho, ajuda a família de seu empregado, faz doações... Assim, a visão que muitos possuíam sobre ele vai, aos poucos, mudando. É fato que alguns, espantados com a abrupta modificação, acham que ele enlouqueceu, que está com um parafuso a menos. As más línguas sempre irão existir. Scrooge, porém, não abre mão de aproveitar o pouco de amor que lhe resta para dar e receber por causa das críticas e, assim, conquista pessoas. com muitos a seu redor, não permanece solitário e, cada dia que passa, torna-se mais pleno e feliz.<br />
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<img height="166" src="http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQf0p6N-1PKQr841FaAhhGWfa94EcxlJnQYrHFtoROUK8MBLIWILQ" width="320" /></div>
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Scrooge pode clamar a honra de ser um dos seres mais energéticos e comprometidos dentre os grotescos da literatura inglesa: ninguém saboreia tanto apresentar uma postura sovina quanto ele, que está sempre atento aos menores detalhes, mas é também verdade que ninguém sofre uma transformação tão brusca e dramática. O conto mais aclamado de Dickens é uma história sobre redenção e sobre o potencial de mudança inerente ao homem: ainda que velho, rabugento e avarento, uma última chance é dada ao personagem e ele é salvo antes de morrer sozinho, sem nenhuma lágrima sob seu túmulo.<br />
<blockquote class="tr_bq">
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"<i>– O senhor Marley faleceu há cerca de sete anos. Morreu nesta mesma noite, fará seguramente sete anos.</i> </blockquote>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Não temos a menor dúvida de que a generosidade do sócio sobrevivente seja igual à dele, – disse um dos cavalheiros, apresentando os papéis que o autorizavam a pedir. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>E não se enganava, pois que os dois sócios eram bem dignos um do outro. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>Diante da inquietante palavra generosidade, Scrooge franziu a sobrancelha, sacudiu a cabeça e devolveu os papéis. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Nesta festiva época do ano, senhor Scrooge, – prosseguiu o cavalheiro, tomando uma pena –, parece ainda </i><i>mais oportuno do que em nenhuma outra ocasião, arrecadar algum dinheiro para aliviar os pobres e os deserdados </i><i>da sorte, que sofrem cruelmente os rigores do inverno. A muitos milhares de infelizes falta mesmo o estritamente </i><i>necessário, e muitas outras centenas de milhares não conhecem o mais insignificante conforto </i> </blockquote>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Não há prisões? – perguntou Scrooge. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Prisões não faltam, – disse o cavalheiro, largando a pena. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– E os asilos? Não fazem nada? – perguntou Scrooge.</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Sim, de fato, embora eu preferisse dizer o contrário. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Então, as casas de correção estão em plena atividade? </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Sim, estão em plena atividade, senhor. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Oh! Eu já estava receando, pelo que o senhor me disse há pouco, que alguma coisa tivesse interrompido uma </i><i>atividade tão salutar, – disse Scrooge. Estou satisfeitíssimo por saber que tal não aconteceu. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Persuadidos de que estas organizações não podem proporcionar ao povo o consolo cristão da alma e do corpo, </i><i>de que ele tem tanta necessidade, tornou o cavalheiro, alguns dentre nós resolveram empreender uma coleta, cujo </i><i>produto seria distribuído aos pobres, em forma de alimento, combustível e roupa. Escolhemos esta época do ano </i><i>porque, mais que nenhuma outra, é aquela em que mais cruelmente se faz sentir a penúria e em que o conforto se </i><i>torna mais doce. Quanto posso pôr em seu nome? </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Nada. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Desejaria guardar o anonimato? </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Desejo que me deixem em paz; já que os senhores querem saber, é isso que eu desejo. Eu não faço banquetes </i><i>para mim próprio pelo Natal, vou agora dar banquete aos vagabundos! Já faço muito em dar minha contribuição às </i><i>organizações de que falamos ainda há pouco, e elas não ficam barato! Aqueles que tiverem necessidade que recorram a elas. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Muitos não o podem fazer, outros preferem a morte. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>– Se preferem a morte, – disse Scrooge –, está ótimo! Que morram! Isso virá diminuir o excesso de população. </i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>De resto, queiram desculpar-me, porém não estou bem a par dessa questão."</i></blockquote>
</blockquote>
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<img height="240" src="http://blog.renatachecha.com.br/wp-content/uploads/2013/01/conto-de-natal-tio-patinhas.jpg" width="320" /></div>
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Mas além desta intenção evidente, a obra é uma triunfante afirmação da alegria de viver, amar e compartilhar. Nenhum pensamento, sentimento ou ideologia é saudável, nem compensatória, se nos tira a capacidade de ser feliz, o que está amplamente relacionado à boa convivência e, principalmente, à criação de laços. Uma vez que os três espíritos mostram a Scrooge os erros que ele cometeu, é através de um processo gradual de confrontação, catarse e descongelamento emocional que o personagem se torna o homem mais alegre de toda a cidade. De seu amargo interior, surge um Scrooge <i>"tão leve quanto uma pena... tão feliz quanto um anjo... tão imprevisível quanto um bêbado".</i><br />
Apesar dos terríveis avisos sobre sua catástrofe social que o fantasma do presente vem apresentar a Scrooge, o espírito do livro é positivo e tranquilizador. Ele acaba por levar ao leitor a esperança de que os erros e as más lembranças, apesar de não poderem ser reconstruídos e já haverem afetado o desenrolar da história até o momento presente, podem ser, pouco a pouco, anestesiados por uma mudança de postura frente à vida.<br />
Um dos personagens secundários, cujo contraste com relação a Scrooge é de grande importância, é seu sobrinho Bob. Enquanto um é sempre perverso e miserável, o outro mostra-se generoso e alegre. Por mais que Bob insista em convidá-lo para festejar o Natal, o tio, sempre com a resposta na ponta da língua, afirma que o Natal não é mais que uma desculpa para o consumismo desenfreado, o que se torna uma ironia, tendo em vista que o maior "capitalista" da história é ele mesmo.<br />
É também fato que o que mantêm a comicidade da obra, apesar de seus momentos trágicos, é a escolha das palavras da narrativa. A profusão dos verbos, dos adjetivos, cada um com uma ressonância cômica, é parte e todo da generosidade de bons fluidos em cada cena e no livro, como um todo. A abundância de descrições visuais é grande característica dos livros de Dickens. "Um conto de natal" torna-se, então, uma boa comédia e um documento de críticas sociais. De fato, o livro é uma dramatização cômica dos valores que deprecia. Aquele que no início detesta todos que lhe desejam "Feliz Natal", passa nas ruas a desejar o mesmo aos mais ilustres desconhecidos. Scrooge percebe, finalmente, que virtudes como compreensão e generosidade emergem dos mais comuns relacionamentos ou contratos sociais e, somente depois, difundem-se por mundo afora.<br />
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<img height="240" src="http://pipocamoderna.com.br/wp-content/uploads/2009/11/ChristmasCarol-Poster.jpg" width="320" /></div>
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Dickens adiciona também sua crítica à vida miserável e sofrida dos marginalizados no período, plena revolução industrial, onde, de fato, a situação da maior parte da população era caótica. Podemos dizer que ele faz uma "exposição romântica" do fato verídico para sensibilizar, sem chocar demais o leitor. Ele vai mais longe ao enfatizar a Necessidade e a Ignorância (também adaptados para o português como Fome e Miséria) como duas crianças apresentadas pelo fantasma do presente, antes de se extinguir. Essa torna-se uma realidade, cujo futuro desconhecemos, mas que são frutos do abandono da sociedade.<br />
É da mesma maneira que Scrooge se vê, no futuro, como um cadáver abandonado e abala-se extremamente com a cena. E no espírito de que as melhores lições são as mais difíceis, Scrooge é impulsionado em seu processo de transformação.<br />
"Um conto de Natal" nos inclui e envolve em cada virada de página, desafiando, entretendo e nos encantando até nos momentos mais "pavorosos". Ainda que a narrativa tenha capturado o espírito e a sensibilidade da era vitoriana (diferente de sua contemporâneo singular, <a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2012/12/o-morro-dos-ventos-uivantes-emily-bronte.html">"O morro dos ventos uivantes"</a>), ela permanece atemporal em seu encanto para o leitor da idade moderna, não somente pelos seus valores nostálgicos, mas principalmente porque estes são embasados na mais pura realidade.<br />
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Video-curiosidades:<br />
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O conto não é somente muito famoso por ele mesmo, mas, uma de suas adaptações também conseguiu alcançar um grande sucesso e merece, portanto, destaque: Tio Patinhas (Scrooge Mc Duck), da Disney, teve seu caráter obviamente inspirado em Ebenezer Scrooge, o nosso grande pão-duro. No curta "Mickey's christmas carol", de 1983, McDuck revive Ebenezer.<br />
Em 1988, surge a adaptação, estrelando Bill Muray, "Scrooge."<br />
Os Muppets também tiveram sua parcela na popularização do conto. Em 1992, fizeram o filme "The Muppet Christmas Carol", que, mais uma vez, adaptava a obra de Dickens.<br />
E, como a história infantil que foi criada pra ser, foi adaptado para uma versão feminina pela Barbie no ano de 2008, em "Barbie em uma canção de Natal", que deve passar na sessão da tarde qualquer dia desses.<br />
Em um espírito totalmente diferente, "Minhas adoráveis ex namoradas", de 2009, toma os 3 espíritos de Dickens emprestados para mostrar a um homem os erros que ele cometeu na forma de tratar as mulheres que passaram por sua vida. E, no caso, com Matthew McConaughey, não tem erro. Jennifer Garner também estrela no filme.<br />
E, também em 2009, a Disney lançou um filme em desenho animado, estrelando Jim Carrey e Colin Firth, entre outros, com uma super ideia de adaptação da história de Scrooge, que tinha tudo para dar certo, mas... . Apesar de seguir a obra devidamente, o filme é extremamente monótono e, na minha opinião, um verdadeiro fiasco. Deveriam ter ficado com o curta de tio Patinhas.<br />
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Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-87109366336487326652012-11-04T21:10:00.000-03:002013-02-17T13:40:28.945-03:00"O Morro dos Ventos Uivantes", Emily Brontë<div style="text-align: justify;">
A confusão entre as irmãs escritoras britânicas Anne, Emily e Charlotte Brontë é natural, em primeiro lugar, graças ao sobrenome comum e à relativa simultaneidade de publicação de suas obras. Mas, além disso, em seu período, como era comum às mulheres escritoras reprimidas pela sociedade patriarcal, elas se utilizavam de pseudônimos, o que, obviamente, dificulta a anexação da obra ao verdadeiro autor.</div>
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O livro "Wuthering Heights", publicado em 1847 sob o pseudônimo de Ellis Bell, é o único romance de Emily. Uma história com caracteres únicos e marcantes, se tornou um sucesso não somente pela sua originalidade, mas também pela fantasiosa relação familiar apresentada, que, apesar de buscar a naturalidade, encontra devaneios delirantes, conduzindo a diálogos e confissões inusitadas que beiram o ridículo. Atualmente, é considerado uma das grandes obras da literatura inglesa, não pelo fato de ser um excelente exemplo de um estilo específico de narrativa, e sim por ser o <i>único </i>exemplo<i>. </i>Diferente de outros autores vitorianos que buscaram adicionar o realismo social, diferentes personagens e lições de moral a suas obras, Emily resolveu deixar sua imaginação tomar conta, cedendo ao público um estranho romance, que se mistura a uma violência chocante e a visões oníricas. A intensidade e a individualidade são aspectos que definem a obra.</div>
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<img height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN5O-WjU0CEzDsGzMNjI3mbAOFKzRr7b89VFLopjHmVsl9aABYv-ZtzC6KkNYqi68R2UcCHYDL_L1626XgQ30RzBQDPoy6TBYHoH7RKG72XhBOnnIE9nN2nQR6cpaYg2H3TdUDDaJ49g1z/s320/wuthering-heights+(1).jpg" width="320" /></div>
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O sofrimento do legendário Heathcliff e sua amada Cathy é proveniente quase que completamente de suas ferozes individualidades e da incapacidade que eles tem de aceitar que, às vezes, as coisas não acontecem à nossa maneira e que é preciso aprender a conviver com isso. Essa personalidade de nossos personagens é espelhada na da própria autora: independente em sua maneira de se vestir, em seus hábitos e em seu estilo de vida, chegando ao ponto da arrogância.</div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de incomum, a história de Wuthering Heights é bastante simples. O Sr. Earnshaw, dono da casa no "Morro dos ventos uivantes (Wuthering Heights - não ficou muito interessante essa tradução em português para designar um lugar)" - uma casa isolada numa região do norte da Inglaterra - resolve cuidar de um menino órfão, que ele encontra na estrada, e lhe dá o nome de Heathcliff. A filha do Sr. Earnshaw, Cathy, fica amiga do menino e eles crescem brincando juntos, em plena convivência, que apresenta traços de um jovem romance. Numa casa vizinha, Thrushcross Grange, mora a família Linton, da qual as crianças Edgar e Isabella fazem parte. Após ser atacada pelo cachorro dos Linton em uma de suas aventuras com Heathcliff, Cathy é obrigada a ficar no Grange até se recuperar. Durante esse tempo, em convivência com os educados e mimados Edgar e Isabella, um certo orgulho começa a crescer dentro de Cathy e, ao voltar para casa, ela começa a encontrar defeitos em seu velho amigo Heathcliff, que, em comparação com seus novos amigos, lhe parece imundo e incivilizado.</div>
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Em certo ponto, Cathy casa-se com Edgar, para a fúria de Heathcliff que, então, desaparece por alguns anos, dos quais ele retorna rico, forte e com a aparência de cavalheiro (e, aqui, retomo o sentido da palavra aparência, associando-a com algo de exterior). Sua principal intenção ao voltar é a de <i>causar estragos</i>, se vingar, o que ele começa a realizar através de seu casamento com Isabella. Enquanto trata sua esposa de maneira apavorante, ele tenta destruir financeira e psicologicamente o irmão de Cathy, Hindley, que havia sido extremamente cruel para com ele quando crianças.</div>
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<img height="182" src="http://theviewspaper.net/wp-content/uploads/wuthering-Heights.jpg" width="400" /></div>
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Após a morte de Cathy, sua memória começa a perseguir Heathcliff intensamente, tornando-o ainda mais cruel, pois atormentado. Ele cuida de Hareton, o filho de Hindley, após a morte deste, fazendo o menino tornar-se um bruto, como ele quando jovem. Utilizando-se da filha de Cathy, Catherine, e de seu filho com Isabella, Linton, ele busca criar uma situação igual a que ele mesmo viveu: desprezo, diminuição e incapacidade de ter aquilo que deseja. Vingando-se de Hindley, ele tenta colocar Hareton no seu lugar, levando-o a se apaixonar por Catherine e a obrigando a casar-se com Linton, um menino muito frágil, mimado e, por vezes, intolerável. O menino morre e Catherine continua desprezando seu primo Hareton por sua brutalidade involuntária. Finalmente, após muitos anos de sofrimento, Heathcliff morre literalmente "de fome" causada por uma misteriosa incapacidade de comer, deixando o espaço livre para os primos serem felizes e viverem um romance menos problemático que os outros. A autora deixa em aberto a possibilidade de que as almas de Heathcliff e Cathy estariam passeando juntas pela região e há a aproximação de um final feliz com o casamento de Catherine e Hareron, que une a família uma vez mais.</div>
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Por si só, o conto não passa se uma narrativa estranha e pouco provável. No entanto, Brontë nos relata os fatos através de círculos narrativos concêntricos, que sugerem uma submissão à "monomania" do amor, o que, página após página, nos envolve e nos mescla à insanidade humana dos personagens. Somos arrastados a seus mundos de tristeza e morte em um ambiente claustrofóbico, como Wuthering Heights. A história frusta o nosso eu romântico, quando nos desafia a odiar Heathcliff pelas atrocidades que ele realiza, mesmo sabendo que tudo que ele faz, faz por amor. Há quem afirme que Heathcliff era, mais que louco, um energúmeno, um possuído, por causa de sua maldade sem freios. O amor que ele sente por Cathy é tão misturado com ódio, rancor e vingança que mescla-se a algo abominante. Mas, a despeito de seu comportamento violento e sua crueldade inescrupulosa, ele não passa de um homem derrotado no amor pela única coisa que ele realmente desejava. Há também quem acredite que o único sentimento humano que Heathcliff apresenta não é seu amor por Cathy, e sim um carinho inexplicável por Hareton, o filho do seu irmão e objeto da sua vingança. Talvez por se enxergar no menino, nosso "antagonista" o maltrata muito mais por obrigação com seu próprio objetivo que por vontade e nutre, internamente, o desejo de que ele seja feliz, como se, assim, ele mesmo tivesse uma nova chance.</div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSasdJKDFeSQzsAdLKNWhhV4k05GVg8Llv5lDTfSNNXSbAaKVgN8MCrJGW-" width="267" /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas existe também um tipo de coerência ou lógica por trás do conto. Ninguém age irracionalmente: eles simplesmente agem um pouco além do que a maioria de nós consideraria racional. Para os personagens, tudo depende somente daqueles que eles conhecem e amam. Existem sim, neste livro, como em tantos outros, exemplos de um amor altruísta, como é o caso do sentimento que o Sr. Earnshaw nutre por Heathcliff, maior que o que ele tem por seus próprios filhos, e gratuito. Da mesma maneira, a principal fonte de interesse da obra é o fato de que o amor não é sempre uma força benigna: ele pode levar o homem a uma perversidade e sadismo inconsequentes quando um desejo, como o de Heathcliff e Cathy colocam a razão de lado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 19.200000762939453px; text-align: left;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 19.200000762939453px; text-align: left;"><i>"Meus maiores sofrimentos neste mundo têm sido os sofrimentos de Heathcliff; fui testemunha deles e senti-os todos, desde o começo. Meu maior cuidado na vida é ele. Se tudo desaparecesse e ele ficasse, eu continuaria a existir. E se tudo o mais ficasse, e ele fosse aniquilado, eu ficaria só num mundo estranho, incapaz de ter parte dele. Meu amor por Linton é como folhagem da mata: o tempo há de mudá-lo como o inverno muda as árvores, isso eu sei muito bem. E o meu amor por Heathcliff é como as rochas eternas que ficam debaixo do chão; uma fonte de felicidade quase invisível, mas necessária. Nelly, Eu sou Heathcliff. Sempre, sempre o tenho em meu pensamento. Não como um prazer, porque eu também não sou um prazer para mim própria, mas como o meu próprio ser. Portanto, não fale mais em separação: é impraticável"</i></span></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: inherit; line-height: 19.200000762939453px; text-align: left;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
Em contrapartida, personagens de bom caráter e dignidade, como Edgar, são retratados como seres mundanos e banais. A brutalidade, o ciúme e a inveja entre os personagens é uma constante, cuja solução sempre envolve a morte. </div>
<div style="text-align: justify;">
A reclusão dos personagens da história em uma região isolada de Yorkshire assemelha-se à reclusão em que viviam as próprias irmãs Brontë. Na realidade, podemos associar o estilo narrativo singular da autora e a maneira estranha de convivência de seus personagens à carência de relacionamentos de Emily. Pouco envolvida com e, portanto, influenciada por, outras pessoas, foi capaz de criar sua própria escrita, fazendo escolhas genuínas para seus personagens, sem sucumbir à pressão social.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-family: inherit;"><i>"<span style="background-color: white; line-height: 19.200000762939453px;">O povo daqui vive na verdade mais intensamente, mais dentro de si e menos em superficiais, mutáveis e frívolas exterioridades.</span>"</i></span></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O mundo que Emily nos mosra pode não ser estritamente realista em seus eventos, mas é sentimentalmente bastante realístico e apresenta um poderoso retrato da mais obscura parte da essência humana. Ela nos mostra as possíveis consequências de nosso egoísmo e orgulho, quando levados ao extremo. Assistimos a criação de um vilão, proveniente do sofrimento causado pelo desprezo e vemos que, ainda que pareça haver uma razão, a crueldade nunca poderá ser justificada.</div>
<div style="text-align: center;">
<img height="240" src="http://fontsinuse.com/static/reviews/0/50776097/full/2012-10-img-wuthering-heights1616078191.jpg" width="320" /></div>
<div style="text-align: justify;">
Iniciando-se com sentimentos puros, como amor e generosidade, finaliza-se com vidas arruinadas e perdidas. Ainda assim, os contemporâneos da autora não tiveram a capacidade de enxergar a "lição de moral" lida nas entrelinhas dessa obra particular.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="background-color: white; line-height: 19.200000762939453px; text-align: left;"><i><span style="font-family: inherit;">"E por mais infelizes que nos torne, teremos sempre a desforra de pensar que a sua crueldade deriva da sua desgraça."</span></i></span></blockquote>
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<u>Videocuriosidades:</u></div>
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A primeira adaptação do filme, filmada na Inglaterra em 1920 foi dirigida por A.V. Bramble.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1939, surge a mais famosa adaptação cinematográfica da obra, sob a direção de William Wyler e estrelando Laurence Olivier e Merle Oberon. Essa versão, no entanto, elimina a segunda geração da história (Linton, Catherine e Hareton).</div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira versão cinematográfica surge em 1970 e estrela Timolthy Dalton como Heathcliff.</div>
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Em 1978, a BBC lança uma série baseada no livro.</div>
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Em 1992, suerge uma adaptação que inclui a segunda geração da história, com Ralph Fiennes e Juliette Binoche.</div>
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Dirigido por David Skynner, em 1998 uma adaptação interessante retrata com candura o amor de Catherine e Hareton.</div>
<div style="text-align: justify;">
Várias outras adaptações teatrais, musicais e cinematográficas surgiram no decorrer dos anos.</div>
<div style="text-align: justify;">
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Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-87281290706861118932012-10-23T19:10:00.000-03:002013-04-27T09:12:35.541-03:00"A Princesinha", Frances Hodgson Burnett<div style="text-align: justify;">
Publicado em 1905, "A Princesinha" (<i>"The Little Princess"</i>), da escritora inglesa Frances Hodgson Burnett, retoma a ideia do poder dos pensamentos positivos, já relatada e analisada no blog com a postagem de "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2012/07/o-jardim-secreto-frances-hodgson.html">O Jardim Secreto</a>".</div>
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Criada na Índia(como é comum das histórias de Hodgson), Sara Crewe é uma menina muito doce, bondosa e educada, que, apesar de não ter mãe, tem um lindo relacionamento com o pai, que a ama muito e faz de tudo pela menina, tentando sempre imaginar o que a mãe dela gostaria que fosse feito.</div>
<div style="text-align: justify;">
O pai de Sara decide deixá-la num internato para meninas, que seria responsável por sua educação , enquanto ele viaja para fechar um negócio com um grande amigo, que é um investimento em minas de diamantes. O lugar escolhido é propriedade da Sra. Michin, uma mulher amarga e gananciosa que, sabendo da grande riqueza que iria pertencer à família de Sara, fruto do negócio das minas, trata a menina de maneira diferencial, como se fosse uma princesa, dentro do internato. Sara tem um lugar especial na mesa de refeições e a Sra. Michin compra tudo que ela deseja. Mas, ao mesmo tempo que Sara causa inveja em algumas meninas, como é o caso de Lavínia, sua doçura, generosidade e paciência são responsáveis pelas grandes amizades que Sara ganha no internato, uma delas sendo Becky, uma menina que trabalha como serviçal e realiza praticamente todas as atividades de limpeza da casa, sendo tratada muito mais como um bicho que como um ser humano. Um certo dia, no entanto, o advogado do pai de Sara aparece no internato para informar sobre a morte do Sr. Crewe, consequência do grande impacto da notícia sobre a perda do investimento nas minas, o que significava toda a sua fortuna. Desolada e cheia de ira, a Sra. Michin não pode expulsar a menina de sua casa para não sujar a imagem de sua propriedade e então chama Sara a seu escritório. Explica, secamente, à menina sobre a morte de seu pai, a perda de sua fortuna e seu novo lugar no internato: o mesmo que o de Becky, mas com a responsabilidade também de dar aulas às pupilas mais novas. Seus "aposentos" seriam agora, como os de Becky, no sótão frio e sujo da casa.</div>
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<img height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvXuci-uUurYxdqGA5NzJdr4tuEb5d2cl1zTm0cdox8Gf35mX8ASk3GILP_fjIGCrnBVKyahZ3YYO0176s6nbhRqTDCbO59KsBD52qUVEWFfKr0SUKFoCT4cofVAyBe6nBYCzzhq-nvE9N/s320/princessa+2.png" width="320" /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a amizade da menina com sua "vizinha de quarto" e com as outras crianças do internato que não se deixaram corromper pelo preconceito lhe dá forças para superar as dificuldades. Além disso, mesmo em tempos melhores, Sara tem o enorme poder de inventar histórias e imaginar que está em situações diferentes das que ela se encontra. Essa capacidade é, então, ainda mais desenvolvida e torna-se essencial em sua nova vida. Só fingindo estar em outras situações ela consegue suportar os dias de trabalho pesado e as noites no sótão gelado. Becky também se beneficia com essa companhia tão cheia de positividade, o que melhora um pouco sua vida triste e cansativa.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a vida dá voltas e, após algum tempo nesse sofrimento, <i>mágicas</i> começam a acontecer na vida da menina. Um homem muito rico vindo da Índia compra a casa vizinha ao internato. Muito doente, o homem tem alguns criados, como Ram Dass, um indiano muito hábil que cuida do proprietário da casa. Vendo o sofrimento da menina através das janelas das duas casas, Ram Dass repassa para seu patrão, que se comove e começa a enviar presentes sceretos para a menina. Quando ela está fora do sótão, a lareira é acesa e lindos cobertores tapetes e cortinas são colocados, deixando o lugar mais cheio de vida e mais aquecido. Sem saber a quem agradecer, mas imaginando que alguém no mundo se importa com ela, que ela não está mais sozinha e que, de fato, tem um amigo, Sara fica muito alegre, enquanto esconde o seu segredo. E essa magia reflete-se também em Becky, que ganha alguns dos cobertores e pode aproveitar do aquecimento do lugar, enquanto escuta as histórias que Sara lhe conta.</div>
<div style="text-align: justify;">
O vizinho, cheio de posses, porém, tem uma amargura muito grande em seu coração. Ele fizera um grande amigo investir, junto com ele, em um negócio de minas de diamantes, mas o negócio não deu certo e os dois perderam a fortuna. Ele fugira para não encarar o amigo, o qual morreu de tristeza diante da desgraça financeira. No entanto, o que não se sabia é que, na realidade, a fortuna não estava perdida, pois as minas acabaram por dar lucros. Ele, então, ficou com as duas fortunas, sua e do amigo. Mas ele sabia que seu amigo deixara uma filhinha pequena em um internato antes da viagem que iria levar a seu falecimento e, desde que ele recebera o capital financeiro de volta, estava em busca dessa menina.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por coincidência do destino (ou providência divina), a menina estava o tempo todo na casa ao lado e, em certo ponto, mais tarde que o necessário e cedo o suficiente para evitar maiores desgraças, o homem que viera da Índia encontra Sara, a filha de seu amigo, e ela retoma suas posses e volta a ter uma vida descente, levando consigo Becky, que, apesar de não ser tratada como igual, torna-se uma espécie de "ama" da menina, mas tendo, definitivamente, uma vida muito mais qualificada que a anterior.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Da mesma forma que no caso da personagem mais "jovem", porém igualmente memorável, de Burnett, Mary Lennox, em "O Jardim Secreto" - também órfã - a vida de Sara Crewe é definida através de seu otimismo. E é irrefutável o fato de que as circunstâncias em que Sara passa a viver necessitam do uso incansável desse atributo, afinal, ela tem de superar vários obstáculos o tempo todo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Seu sofrimento inicia-se quando ela é deixada no "Seleto seminário para meninas" de Miss Michin, separando-se de seu amado pai, e sendo deixada, ainda que não voluntariamente, em um ambiente hostil e carente de amor para as meninas ali instaladas, ainda que Sara ocupe um lugar de privilégio, a princípio, por causa de sua fortuna. </div>
<br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"[...] Ao despedir-se dele em seus lindos aposentos, a menina olhou-o terna e longamente.</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>- Que foi filha? Está querendo me aprender de cor?</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>- Não, pai. Eu já conheço você de cor. Você mora no meu coração</i> <i>"</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">(E aqui é feito um trocadilho com a expressão, do inglês, <i>learn by heart</i>, aprender de cor, e a palavra <i>heart</i>, coração. Posso, então, fazer um ponto de certa importância para os leitores: apesar do não conhecimento da língua não prejudicar enormemente o entendimento dos leitores, muita da riqueza da escrita é perdida na tradução. Essa passagem, por exemplo, eu acho emocionante, mas não tem o mesmo impacto quando traduzida.)</span> </blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Ainda que seja um luxo particular o fato de que ela tenha um aposento individual, também isto pode ser visto como um fornecedor de solidão, já que nem mesmo a mais bela das decorações parisienses é garantia de felicidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Além disso, apesar de ser uma menina muito doce, que busca sempre ver o melhor nos outros e acaba ficando absolutamente impressionada pelos sinais visíveis da aceitação de todos os que estão em sua volta (o que não seria de se estranhar, já que ela é uma menina boa, bonita e rica), Sara não busca responder às rivalidades causadas pela inveja de algumas de suas colegas. Isso acaba por deixá-la muito sozinha e ela torna-se, então, a única responsável por sua própria felicidade. É aí que sua imaginação começa a vir à tona com mais vigor: na tentativa de fugir da solidão, saudade e, por consequência, tristeza. Suas amizades, que se mostram pouco a pouco no decorrer do livro, são as meninas marginalizadas e impopulares na escola, as quais ela oferece a companhia e a ajuda que elas precisam, aumentando ainda mais a admiração que essas garotas, que nunca pensaram que alguém como Sara, que tinha tudo, ia se tornar amiga delas, tem pela menina. Uma dessas meninas, e talvez o maior exemplo da aproximação de Sara dos que estão à margem da sociedade, é sua amizade com Becky, pois, indiferente aos decretos do sistema educacional da Sra. Michin (e da maior parte da sociedade do período), a menina torna-se amiga e companheira da serviçal, uma "burro-de-carga" miserável que é tratada muito mais como um cachorro que como um ser humano. A perspectiva de Sara da vida é estabelecida da seguinte forma: da mesma maneira que ela tem o direito de ser bem alimentada, assim também o tem Becky. Assim, o otimismo e o senso que a menina tem da importância da justiça coordena não somente a escolha de suas amizades, como também, seu propósito na vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
É também verdade que somente quando as condições de Sara são completamente modificadas e ela tem sua vida virada de cabeça para baixo que todas as suas qualidades são verdadeira mente testadas. Mas ainda assim, na beira do abismo, em meio aos desastres, Sara se desvia do desespero e mantém seu extraordinário equilíbrio (que passa a ser visto como um insulto pelos olhos da Sra. Michin), dizendo sempre a si mesma que ela continua sendo uma princesa, ainda que não tenha as posses de uma. Ser uma princesa significa, para Sara o desejo de ser digna, comedida e generosa. A se<span style="font-family: inherit;">guir, outra passagem que merece grande destaque:</span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i style="background-color: white;"><span style="font-family: inherit;">"- Um dos 'fingimentos' de Sara é que ela é uma princesa - disse Jessie. - Ela brinca disso o tempo todo, até na escola. Ela quer que Ermengarde também seja uma,mas Ermengarde diz que é muito gorda.</span></i></div>
<span style="font-family: inherit;"><i style="background-color: white;"></i><br /></span>
<div style="text-align: justify;">
<i style="background-color: white;"><i><span style="font-family: inherit;">- Ela é muito gorda - disse Lavinia.</span></i></i></div>
<span style="font-family: inherit;"><i style="background-color: white;">
</i><i style="background-color: white;"></i>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><i style="background-color: white;"><i>- E Sara é muito magra.</i></i></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><i style="background-color: white;">
</i><i style="background-color: white;"></i>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<i style="background-color: white;"><i><span style="font-family: inherit;">- Sara diz que não, isso não tem nada a ver com sua aparência ou suas posses. Só tem a ver com o que você pensa, e o que você faz<i> - explicou Jessie "</i></span></i></i></div>
<i style="background-color: white;">
</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Antes ela afirmava a Becky que era apenas um acaso, um <i>acidente</i>, que uma tenha nascido rica e a outra pobre (coisa que a infeliz garota não conseguia compreender, por causa de sua ignorância involuntária): <i>"Tive sorte, pois muitas coisas boas me aconteceram. Não é <b>mérito</b> meu ter boa memória, gostar de ler e ter um pai que me dá tudo que eu quero. Nunca sofri provações. Isso é pura sorte!". </i>Vale notar que eu simplesmente amo essa passagem do livro. Essa é uma lições que merecem destaque, pois, ainda mais nos dias de hoje, parece ter sido esquecida por pessoas que desmerecem o esforço e a luta, porque desconhecem a satisfação de conseguir as coisas pelos próprios pulsos.<i> </i>No momento de desgraça, então, Sara diz a Becky: <i>"Oh Becky... Eu te disse que nós éramos iguais - apenas duas meninas - só duas crianças. Você pode ver o quanto isso é verdade. Não há mais diferença agora." </i></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="240" src="http://img2-2.timeinc.net/ew/dynamic/imgs/080801/Little-Princess_l.jpg" width="320" /></div>
<div style="text-align: justify;">
E assim, utilizando-se de sua bravura, otimismo e até mesmo de um pouco de orgulho no que diz respeito a abaixar a cabeça para a Sra. Michin, ela mantém um impecável nível de respeito próprio e dignidade. Mesmo seu luto pela morte de seu amado pai é, temporariamente, deixado de lado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda que humilhada na frente de suas antigas colegas, tratada como burro-de-carga, fazendo entregas na chuva, faminta, suja e maltrapilha, ela supera tudo de tal maneira que só uma princesa de verdade seria capaz. Mais uma vez, são os pensamentos positivos, combinados com uma imaginação muito fértil, que sustentam Sara, até porque suas histórias e invenções são as únicas coisas que a dona do internato não pode tirar dela.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>"Eu não posso parar de inventar histórias. Se eu parasse, eu não sobreviveria"</i></div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Sara é muitas vezes definida no livro como <i>estranha</i>, mas a palavra que realmente poderia descrevê-la é: única. Talvez por nunca ter conhecido a figura da mãe e crescido só com o amor do pai em um país distante, Sara mostra-se um adulto em um corpo de criança. Acontecimentos como o fato de ela "saber reagir" ou "reagir da melhor maneira possível" à morte de seu pai e às novas condições impostas é, senão fantástico, no mínimo, interessante. Além disso, apesar de todo luxo no qual ela cresceu, ela não é mimada. Rica ou pobre, ela é sempre generosa. Mas Sara não é só virtudes. Teimosa, ultrajante e orgulhosa, ela tem defeitos como todas as outras crianças.</div>
<div style="text-align: justify;">
Seguindo a filosofia de seu pai, ela afirma: <i>"Como um soldado, vou fingir que isso é parte da guerra"</i>. E um soldado não sai de uma batalha antes que esta acabe. Embasada em suas poucas, porém leais - o que é muito mais importante - amizades, ela consegue ter total controle sobre suas emoções, deixando sua opressora furiosa. E seu poder baseia-se também em sua habilidade de conter sua raiva. Quanto mais comedida e calma Sara encontra-se, mais enfurecida a Sra. Michin se torna.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"Quando estão insultando a gente, a melhor resposta é não dar uma palavra, só olhar e pensar. [...] Quando a gente não perde a calma, as pessoas sabem que a gente é mais forte que elas, porque consegue se controlar, e elas ficam dizendo coisas estúpidas, das quais depois se arrependem. Não existe nada mais forte do que a raiva - a não ser o que você controlar a raiva, que é mais forte. É muito bom não responder nunca aos inimigos."</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Aspectos como o interesse financeiro e em status das pessoas, que são atemporais, também são mostrados claramente no livro, o que vai da inveja de Lavínia à ganância da Sra. Michin. Os estilos de roupa e os hábitos das pessoas da época também são disfarçadamente apresentado, ou seja, tem seu grau de importância, apesar de não ser o foco ou a intenção do livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Muitas vezes fugindo um pouco do lugar-comum, a autora atem-se à realidade do período quando escreve o final da menina Becky, que continuou como serviçal, mas de patrões mais sensíveis às suas necessidades. Não acredito que isso seja consequência de um possível preconceito ou racismo (tendo em vista que a menina era negra) da autora, mas, talvez, muito mais buscando a aceitação do público, que na época não conseguia enxergar pessoas como Becky em situações "privilegiadas" (e que as aspas que aqui escrevo sejam bem lidas, visto que refiro-me ao privilégio como casa, comida, higiene e atividades de criança, como brincar e estudar). De qualquer maneira, essa parte do fim não me agradou muito.</div>
<div style="text-align: center;">
<img height="240" src="http://25.media.tumblr.com/tumblr_lqcm3liqEg1qlaetko1_400.jpg" width="320" /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, afinal, nos resta a dúvida: será que Sara, tendo retomado sua fortuna e encontrado amigos que verdadeiramente se importam com ela, conseguirá ser feliz? Perguntas como essas podem ser respondidas apenas em nossa imaginação, pois a autora não nos deixa nem sequer um palpite. Eu acredito que a perda do pai será uma tristeza eterna no coração da menina, mas, por outro lado, na vida real as coisas nunca acontecem da maneira mais fácil. A fortaleza de Sara demonstra, apesar dessa dor que agora é inerente a ela, vai fazê-la continuar vivendo e até conseguir ser feliz. É fazendo boas ações e sendo generosa com os mais necessitados que ela consegue alcançar uma grande satisfação no final do livro e é por esse caminho que eu acho que ela, bem como todos nós, conseguirá superar as dores de sua vida e reencontrar a felicidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
O drama mágico, emocionalmente poderoso e moralmente instrutivo com o qual Hodgson nos presenteou é algo peculiar. Ler sobre o livro ou suas análises não é o suficiente: a leitura se faz aqui necessária para sentir, de sua própria maneira, o impacto único que a obra tem em cada um.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>Videocuriosidades:</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><br /></u></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira adaptação cinematográfica é um filme de 1939, estrelando Shirley Temple.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O filme que verdadeiramente marcou minha infância por sua doce e triste beleza, com grande fidelidade ao livro, é de 1995, com Liesel Mathews como Sara. O papel de Becky nesse filme torna-se ainda maior e o final é extraordinário. No lugar do amigo do pai de Sara retornar, é o próprio Sr. Crewe quem retorna, com a memória perdida. O desenrolar é muito mais bonito e, no final, também Becky torna-se filha, mas adotiva, dele. Por mais irrealístico que seja, o fato de eu ter conhecido esse final antes do outro me causou certa antipatia pelo original. Afinal, quem não gosta do final mais feliz possível para os personagens queridos? Eu trocaria, pelo menos, a retomada do dinheiro pela volta do pai, mas talvez mesmo isso seja querer demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho uma opinião que não posso ter como confirmada, tendo em vista que mesmo minha busca na internet não me deu respostas. Para os que conheceram a telenovela "Chiquititas" na infância, eu fiz uma comparação entre a personalidade da personagem Mili e Sara Crewe e, imagino, que a primeira foi inspirada na protagonista deste livro. Talvez isso possa parecer apelação para alguns, mas uma boa história ou um bom personagem pode sempre ser retomado de várias formas diferentes, obtendo sempre sucesso para o seu público, como foi o caso da telenovela e, mais especificamente, da personagem para as crianças de 1996 e alguns anos posteriores. Mas claro apenas aqueles que vivenciaram profundamente as duas personagens são capazes de perceber as minúcias dessa semelhança</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-23223907614140032092012-09-30T11:54:00.003-03:002013-08-22T20:27:53.626-03:00"Romeu e Julieta", William Shakespeare<br />
<div style="text-align: justify;">
A história que é, para alguns, a representação atemporal do amor perfeito, não exige introduções. Escrita entre 1591 e 1595, conquistou leitores, expectadores e amantes do mundo inteiro e de todas as épocas desde sua estréia. Como é o caso de suas outras obras aqui publicadas, <a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2012/04/hamlet-william-shakespeare.html">"Hamlet"</a> e <a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2010/05/megera-domada-william-shakespeare.html">"A Megera Domada"</a>, Shakespeare inspirou-se em contos da
tradição oral do período para imortalizar o romance de "Romeu e
Julieta"(ou, originalmente, "Romeo and Juliet") através de uma
tragédia teatral repleta de imaginação, doçura, dignidade e intensidade de
sentimentos. Foi sob sua escrita que a história tornou-se um glorioso louvor
daquele sentimento que somos incapazes de expressar com palavras e que enobrece
a alma, deixando-a ainda mais sublime.</div>
<div style="text-align: justify;">
Romeu e Julieta é a primeira tragédia que Shakespeare escreveu
que tem, do início ao fim, como sujeito principal, uma história de amor. O vívido
espírito da juventude é percebido em cada linha, tanto na arrebatadora
intoxicação da <i>esperança, </i>quanto na amargura do desespero. É um livro inteiramente feito <i>de </i>Shakespeare.</div>
<div style="text-align: justify;">
O conto se passa na belíssima cidade de Verona, na Itália, onde
duas famílias inimigas, os Montecchios e os Capuletos, vivem em um estado de
iminente guerra civil. Em meio a essa
atmosfera hostil, dois seres feitos um para o outro, apaixonam-se perdidamente
à primeira vista. Qualquer tipo de empecilho desaparece frente
ao irresistível impulso de viver um para o outro. E é sob circunstâncias extremamente contrárias à
sua ligação que eles se unem através de um casamento secreto, confiantes na proteção
de um poder invisível. Mas, devido a incidentes desagradáveis que se seguem sucessivamente, a heroica constância dos dois amantes é posta à prova até que, separados um do
outro pela força do destino, eles se unem novamente na sepultura, através de
uma morte voluntária, para se reencontrarem em um outro mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
A linha entre a tragédia e a comédia é tênue. Assim, Romeu e Julieta, apesar de ser uma das mais aclamadas tragédias, apresenta diversos aspectos e ingredientes das comédias de Shakespeare - a estupidez de seus pais, ou seja, a geração anterior; a atração instantânea entre os jovens; brigas de rua; bailes de máscara e criados cômicos. Mas essa mistura do estilo de "Hamlet" com "A Megera Domada" não prejudica "Romeu e Julieta". Na realidade, esses efeitos de gênero são uma estratégia do autor para aumentar a tensão e dar margem para ampliar o papel dos personagens secundários e a utilização de sub-enredos para embelezar a história.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Romeu e Julieta é a imagem do
amor e seu lamentável destino em um mundo, cuja atmosfera é muito amarga para o
que há de mais terno na vida humana. Mas esse amor torna-se ainda mais bonito, porque não lhe foi
permitido ser corroído pelo tempo. É exatamente por causa dessa efemeridade que
temos uma amostra do amor em seu mais belo e puro estado, o que o torna, de
certa maneira, pouco realístico. Apesar de ultrapassar o teste da separação
através da morte, é um amor que não foi posto à prova mais árdua: o cotidiano.
Por isso, o livro pode também ser interpretado como a história de uma moça e um
rapaz que mal se viram e pouco se conheceram para criar uma afeição racional e
genuína um pelo outro. Além disso, eles não haviam experienciado das melhores e
piores coisas da vida até então e, por isso mesmo, o êxtase e o desespero que
eles sentem no decorrer de sua história podem ser igualmente lidos como fantásticos
e infundados. Na realidade, Shakespeare fundamenta a paixão dos dois amantes
não no que eles vivenciaram, e sim no que eles ainda não haviam vivenciado.</div>
<div style="text-align: center;">
<img height="320" src="http://www.starnews2001.com.br/shakespeare/romeo_and_juliet_.jpg" width="214" /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na cultura popular, o nome<span class="apple-converted-space"> </span><i>Romeu<span class="apple-converted-space"> </span></i>praticamente tornou-se um
sinônimo de 'amante'. O poder do amor de Romeu, no entanto, muitas vezes
obscurece fortes marcas de seu caráter. A relação de Romeu com o amor não é tão
simples. No início da obra, Romeu anseia por Rosaline, proclamando-a a
personificação do amor e se desesperando com a indiferença dela. Essa paixão,
porém, tem um aspecto bastante juvenil. Romeu é um amante das poesias de amor e
sua paix<span lang="PT">ão por Rosaline sugere uma tentativa de recriar os sentimentos sobre os
quais ele lê. Assim que vê Julieta, porém, Rosaline sai de sua cabeça. Mas
Julieta não é uma substituta qualquer. O amor que ela divide com Romeu é muito
mais profundo, autêntico e único que o amor clichê e infantil que Romeu nutria
por Rosaline. O amor de Romeu amadurece no decorrer da peça a partir do de seu
desejo de experimentar uma paixão intensa e verdadeira. Mas, finalmente, é possível dar o mérito dessa evolução do rapaz à própria Julieta,
que, com suas deduções e observações sagazes, acaba por abrir os olhos de Romeu,
retirando de sua cabeça a ideia superficial do amor e inspirando-o a recitar uma
das mais belas e intensas poesias amorosas jamais escritas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">"ROMEU — Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo. </span><span style="text-align: justify;">(Julieta aparece na janela.)</span><span style="text-align: justify;">Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala; contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto os olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas as estrelas, como o dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os pássaros, despertos, cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face!</span></span><span lang="PT"><span style="text-align: justify;"> </span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">JULIETA — Ai de mim!</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;"> ROMEU — Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.</span></span><span lang="PT"><span style="text-align: justify;"> </span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">JULIETA — Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">ROMEU </span><span style="text-align: justify;">(à parte)</span><span style="text-align: justify;"> — Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?</span></span><span lang="PT"><span style="text-align: justify;"> </span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">JULIETA — Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">ROMEU — Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu.</span></span><span lang="PT"><span style="text-align: justify;"> [...]</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">JULIETA — No caso de seres visto, poderão matar-te.</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">ROMEU — Ai! Em teus olhos há maior perigo do que em vinte punhais de teus parentes. Olha-me com doçura, e é quanto basta para deixar-me à prova do ódio deles.</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">JULIETA — Por nada deste mundo desejara que fosses visto aqui.</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">ROMEU — A capa tenho da noite para deles ocultar-me. Basta que me ames, e eles que me vejam! Prefiro ter cerceada logo a vida pelo ódio deles, a ter morte longa, faltando o teu amor.</span></span><span lang="PT"><span style="text-align: justify;"> [...]</span></span></i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">JULIETA — Sabe-lo bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um rubor virginal me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer neste momento. [...] Se amas, proclama-o com sinceridade; ou se pensas, acaso, que foi fácil minha conquista, vou tornar-me ríspida, franzir o sobrecenho e dizer "não", porque me faças novamente a corte. Se não, por nada, nada deste mundo. Belo Montecchio, é certo: estou perdida, louca de amor; daí poder pensares que meu procedimento é assaz leviano; mas podeis crer-me, cavalheiro, que hei de mais fiel mostrar-me do que quantas têm bastante astúcia para serem cautas. Poderia ter sido mais prudente, preciso confessá-lo, se não fosse teres ouvido sem que eu percebesse, minha veraz paixão. Assim, perdoa-me, não imputando à leviandade, nunca, meu abandono pronto, descoberto tão facilmente pela noite escura.</span></span><span lang="PT"><span style="text-align: justify;">"</span></span></i></blockquote>
<span lang="PT"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT">Além disso, essa enorme capacidade de
Romeu para amar é uma mera parte de sua ainda maior capacidade de sentir
intensas emoções de todos os tipos. De uma outra maneira, é possível descrever
Romeu como alguém que carece de moderação. O amor o compele a invadir o jardim
da filha de seu inimigo, arriscando-se a morrer somente para vislumbrá-la. O desespero
dos rumores sobre a morte de Julieta o compele ao suicídio. Esse comportamento
extremo domina o personagem durante a peça e contribui para a tragédia final
que cai sobre os dois apaixonados. Se Romeu se tivesse restringido de matar Teobaldo
ou esperado pelo menos um dia a mais antes de se matar após ouvir sobre a morte
de sua amada, a história poderia ter um final feliz. Por outro lado, no
entanto, se os sentimentos de Romeu não fossem tão intensos, o amor dele por
Julieta poderia nunca ter existido.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span lang="PT"><img height="240" src="http://ego.globo.com/Gente/foto/0,,21036426-EXH,00.jpg" width="320" /></span></div>
</div>
<div>
<span lang="PT"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT">Entre seus amigos, Romeu mostra
verdadeiros traços sobre de sua personalidade. Espirituoso e apreciador de discussões, nosso protagonista apresenta qualidades como a lealdade e a corajem.</span></div>
<span lang="PT">
</span><span lang="PT"></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT">Com quase 14 anos, Julieta está no limite entre a
maturidade e a imaturidade. À primeira impressão, no início da obra, ela se
mostra uma criança obediente, mimada e inocente. Apesar de muitas mulheres –
inclusive sua própria mãe – terem se casado na sua idade, Julieta nunca havia
pensado sobre isso. Quando a sra. Capuleto menciona que Páris está interessado
em casar-se com ela, Julieta obedientemente responde que ela vai tentar
considerar se é capaz de amá-lo, uma reação que parece infantil em sua
obediência e em sua concepção imatura do amor.</span></div>
<span lang="PT">
</span><span lang="PT"></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT">Julieta dá demonstrações de sua
determinação, força e sagacidade em suas primeiras cenas, oferecendo assim, uma
amostra da mulher que ela virá a se tornar no decorrer da obra. Mesmo sua
promessa de tentar amar Páris, que é, aparentemente, uma prova de obediência, pode ser lida como
uma refusa à passividade e como uma representatividade de sua determinação.
Julieta consente com os desejos de sua mãe, mas não sem antes tentar apaixonar-se
primeiro.</span></div>
<span lang="PT">
</span><span lang="PT"></span>
<div style="text-align: justify;">
<span lang="PT">O primeiro encontro de Julieta com
Romeu a impulsiona a mostrar sua maturidade. Apesar de estar profundamente
apaixonada por ele, Julieta é capaz de enxergar e criticar as decisões
precipitadas de Romeu e a sua tendência de romantizar todas as coisas. Após o
assassinato de Teobaldo por Romeu, Julieta não segue seu amante cegamente. Ela
decide de maneira lógica e sincera, que a sua lealdade e amor por Romeu serão
suas prioridades. Quando ela acorda na tumba para encontrar um Romeu morto, ela
não se suicida devido a uma fraqueza feminina, mas sim por causa da intensidade
do seu amor, da mesma maneira que fizera Romeu. O suicídio de Julieta,
inclusive, necessita de mais força e coragem que o dele: enquanto ele bebe veneno, ela
apunhala o próprio coração.</span></div>
<span lang="PT">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
O desenvolvimento de Julieta de uma menina assustada para uma
mulher segura, leal e corajosa é um dos primeiros triunfos de caracterização de
Shakespeare. Julieta também é a marca de um dos mais confiantes, ativos e lapidados personagens femininos da literatura.</div>
<div style="text-align: justify;">
Diversas vezes no decorrer do livro, Romeu se refere a Julieta
como uma luz, a luz do Sol, a luz das estrelas e, da mesma forma, Julieta
compara o amor deles om a iluminação, não somente para enfatizar a rapidez com
a qual o romance deles evolui, como também sugerir que, como a luz é um
glorioso rompimento da escuridão do céu da noite, assim também é esse novo
amor, que iluminou a escuridão do seu mundo, um mundo em que todas as suas
ações são controladas pelos que a rodeiam.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os amantes tentam ultrapassar os obstáculos estabelecidos pela
vaidade dos mais velhos. Os pais, na obra, são apresentados como estúpidos que, por causa de
orgulho e vaidade, não permitem a si mesmos, nem a seus filhos, desfrutar da
paz e do amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dentro de seu próprio contexto, a obra abrilhanta o início de uma literatura rebuscada, da poesia mais doce e minuciosa, que traz a mais esmera descrição do amor. Mas esse sentimento exacerbado entre Romeu e Julieta
poderia ser desviado para um tom mais satírico quando implementado no contexto
dos dias de hoje.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Existem diversos estudos psicanalíticos, feministas e mesmo teorias de homossexualidade na obra. Todas tentando revelar o que existe nas entrelinhas, não necessariamente percebidos em uma primeira leitura. Todas essas visões e análises aqui apresentadas não são mais que suposições, hipóteses presunçosas de compreender o que um dos maiores autores de todos os tempos buscou afirmar na sua precoce habilidade dramática e maturidade artística. Recomendo, portanto, não somente a leitura atenciosa, mas principalmente uma pesquisa mais apurada sobre as mil faces da obra para os interessados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Curiosidades:</i></div>
<div style="text-align: center;">
<img src="http://1.bp.blogspot.com/-EAyiHtqiPsY/TjfvntzN0_I/AAAAAAAAHBc/rk3qBbwfyvM/s1600/romeu-e-julieta-filme.jpg" /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, aos amantes dessa tão bela história de amor, uma curiosidade: até hoje, em Verona, <i>jazem</i> os túmulos de Romeu e Julieta, bem como a própria casa e sacada de nossa protagonista, com sua estátua em bronze ao centro, que o pai de Romeu mandara esculpir, como um presente para o pai de Julieta, após a morte dos recém-casados. Tive o prazer de, pessoalmente, ver essas relíquias do maior romance de todos os tempos. Segundo a tradição, as moças que passarem a mão no seio direito da estátua de Julieta encontrarão o amor verdadeiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Milhares de adaptações musicais, teatrais, cinematográficas, dentre outras, já foram realizadas em torno de "Romeu e Julieta". O belo livro "Inocência", do Visconde de Taunay, o qual, apesar de já ter lido, não tive a oportunidade de postar no blog, é inspirado na obra e considerado o "Romeu e Julieta sertanejo". Com tantas adaptações nas artes, restringirei as indicações de filmes, apresentando somente os que tive o prazer de apreciar:</div>
<div style="text-align: justify;">
Em primeiro lugar, e, para mim, o melhor da lista, o filme ítalo-britânico de 1968, dirigido por ninguém menos que Franco Zefirelli e protagonizado pela eterna Julieta, Olivia Hussey, e com Leonard Whiting como Romeu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1996, um "Romeu e Julieta" mais moderno foi estrelado por Leonardo Di Caprio e Claire Danes. Apesar de interessante, o filme não tem a mesma classe e beleza do primeiro.<br />
Um grande clássico do cinema americano "West side story" (Amor, Sublime amor) que reflete sobre a richa existente entre imigrantes e nativos estadunidenses, é uma bela história de amor totalmente inspirada no clássico.</div>
<div style="text-align: justify;">
O filme "Inocência", adaptação do livro anteriormente comentado, é estrelado por Fernanda Torres e Edson Celulari e dirigido por Walter Lima Jr. Apesar de uma produção simples, é também muito interessante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente, uma comédia romântica que, apesar de não ser inspirada na história de Romeu e Julieta, a tem como objeto central de atenção, é o filme "Cartas para Julieta", de 2010, dirigido por "Gary Winick" e protagonizado por "Amanda Seyfried".</div>
</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-59689908957797020372012-08-27T05:05:00.000-03:002012-09-14T09:31:39.238-03:00"Frankenstein", Mary Shelley<br />
<div style="text-align: justify;">
Na realidade, a intenção deste post, diferente dos demais, não é, a princípio, a de sugerir ou recomendar uma leitura. Acima de tudo, viso desmistificar a concepção criada sobre uma obra da qual a maioria de nós, direta ou indiretamente, ouviu falar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Poucos trabalhos da literatura são tão destorcidos pela sua popularidade, a ponto de se tornarem irreconhecíveis, por causa dos mitos criados ao redor deles. A obra da escritora britânica Mary Shelley, "Frankenstein", de 1818, porém, está na lista dos desventurados: um livro cuja essência foi esmagada pela excessiva exploração de seus intérpretes. O título do livro passou a ser, então, sinônimo do 'monstro' que foi construído a partir de corpos de defuntos. Só posteriormente o nome é corretamente associado ao criador deste "ser" grotesco, Victor Frankenstein. Este equívoco, no entanto, pode parecer plausível, tendo em vista que a criatura é anônima durante todo o romance. O que é ainda mais alarmante que esta confusão lógica, porém infundada, é o fato de que a maior parte das sutilezas deste conto foram perdidas em anos de adaptações nos palcos e nas telas.</div>
<div style="text-align: justify;">
No entanto, a própria autora, Mary Shelley, pode ser considerada parcialmente responsável pelo início desse processo, pois ela alterou significantemente sua obra inicial para uma edição de 1831, extraindo os elementos mais controversos, que concerniam ciência e sociedade, e tornando Victor Frankenstein um personagem mais simpático ao público.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, esta edição forneceu à obra um aspecto sobrenatural, retirando todas as poderosas representações dos perigos provenientes do conhecimento e da ambição, as flutuações de humor inspiradas pela solidão e pela perda, e a infindável e problemática relação entre o homem e Deus. Nesta reformulação, perdeu-se também a critica à moral e aos valores da sociedade, bem como às imposições e aflições da relação entre pais e filhos. Só o que restou foi a noção de uma ciência pervertida por um louco e a imagem de uma ser abominante, gigantesco e violento, com parafusos cravados em sua cabeça.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://static-l3.blogcritics.org/09/11/17/119235/07ee4632.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://static-l3.blogcritics.org/09/11/17/119235/07ee4632.jpg" /></a></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É impossível, após ler "Frankestein", não lamentar a quantidade de riqueza literária perdida quando uma boa escrita é retirada da página. Na narrativa, a "criatura" explica o desespero e sofrimento de sua isolação do mundo tão eloquentemente que, ainda que involuntariamente, simpatizamos com ele. Quando sua voz é retirada pelos diretores dos filmes e peças, a criatura torna-se mais aterrorizante e a história, mais tolerável. No entanto, desconhecemos as experiências que levaram aquele ser a fazer coisas tão rancorosas e abomináveis. Essencialmente, eles nos fazem ignorar os motivos de sua maldade e, simplemente, sentir repulsão.</div>
<div style="text-align: justify;">
No romance, é o anonimato que fornece o efeito de alienação. Como Frankenstein não dá um nome para sua criatura, faz com que ele mesmo, o pai efetivo, não possa ver além do exterior demoníaco de monstro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda que, em alguns aspectos, "Frankenstein" fuja do modelo de horror exacerbado e dos cenários medievais das narrações góticas, a<span style="background-color: white;">o contrário do que os filmes inspiram, a obra atinge os leitores por buscar o realismo, mesmo lidando com eventos absurdos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Buscando fugir do extraordinário, a autora não tenta duelar com os detalhes dos experimentos de Frankenstein, mesmo porque, isso não poderia ser descrito com o menor grau de verossimilhança. Em vez disso, ela nos mostra a inspiração do estudioso: as minúcias de sua educação, embasada nos físicos renascentistas. Vemos as influências de Darwin e Galvani. Podemos inferir, então, uma analogia: a caixa de Pandora das novas tecnologias, ou seja, até onde um cientista pode se deixar levar com os conhecimentos que tem em mãos.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: white;">
</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Após o abandono do criador e as ações execráveis da criatura, ambos são levados ao exílio até que, finalmente, são conduzidos um ao outro, como uma condenação fatal. Ironicamente, o único ser capaz de compreender a situação de um deles, é o outro. A genialidade de Frankenstein o leva à solidão. O sofrimento, a traição e as falhas do homem são inevitáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
É difícil determinar com quem simpatizamos mais no livro. Temos três narradores de importância, porém nenhum deles é amável ou confiável. De fato, não é que não acreditamos nos <i>fatos</i> que Walton - o viajante que encontra Frankenstein e escuta sua história - e o próprio Frankenstein nos relatam, não acreditamos nos seus <i>sentimentos</i>. Suas interpretações sobre os acontecimentos são carentes de autoconhecimento. Cada um enxerga somente seu próprio sucesso e ignora o contexto sangrento de cada uma de suas ações: no caso de Frankenstein, a morte das vítimas da criatura; no caso de Walton, a morte de sua tripulação em sua busca por glória. Frankenstein consegue ir tão longe que chega a dizer que não possui culpa alguma. Tudo o que lemos é filtrado pelas forças da ambição e da ilusão. Encontramos, até mesmo na maneira com que foi escrita a história, mentes que buscam equiparar-se a Deus.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.halloweenmoviesontv.com/wp-content/gallery/frankenstein-1931/frankenstein-1931b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="235" src="http://www.halloweenmoviesontv.com/wp-content/gallery/frankenstein-1931/frankenstein-1931b.jpg" width="320" /></a></div>
Mas é somente com o assassinato dos inocentes William, Clerval e Elizabeth, que provoca o falecimento de Justine e do pai de Frankenstein, que a criatura torna-se verdadeiramente detestável e monstruosa. Isso tudo produz um livro friamente emocional, onde as pessoas amam à distância e odeiam de perto.</div>
<div style="text-align: justify;">
O atordoamento do leitor é reforçado pelas arbitrárias flutuações de humor. Frankenstein vai da "beleza do sonho" do sucesso científico para o desgosto com a sua criação, da alegria ao horror que o retorno do "demônio" lhe provoca, ele passa da felicidade aos sentimentos de vingança e luto. Da mesma maneira, o "monstro" começa com atos de bondade e gentileza com a família a qual ele "adota" como sua e que o despreza, levando-o aos crimes cometidos contra o seu criador.</div>
<div style="text-align: justify;">
Shelley não nos permite ignorar o fato de que a consequência de toda criação é perda. A criatura descreve sua situação fazendo referência a dois seres imperfeitos: </div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"Deveria ser seu Adão, mas sou apenas um anjo caído, expulso do paraíso. Em toda parte vejo felicidade, mas parece que somente eu não tenho direito a ela!"</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A mídia visual eliminou a eloquente fala da criatura e o fez uma caricatura do medo humano da morte. No livro, porém, ele possui os mesmos sentimentos e qualidades dos homens, e consegue manter sua dignidade até o ponto em que é completamente abandonado, como ele mesmo explica:</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"Eu era benevolente e bondoso; a miséria fez de mim um demônio. Faça-me feliz, e eu serei virtuoso."</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, ele fala por todos aqueles que estão à margem da sociedade, os necessitados, os miseráveis, os abandonados.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os dois séculos de tentativas de torná-lo um ser absurdo, porém vulgar, demonstra um desejo de silenciar os fisicamente repugnantes e a esperança de que eles desapareçam. A diferença existente entre o mito de Frankenstein e o romance que o originou baseia-se na falta de confiança da autora na capacidade de compreensão e análise dos leitores.</div>
<div style="text-align: justify;">
"Frankenstein" pode e deve ser analisado diversas vezes de várias maneiras diferentes. A sua lição sobre a futilidade tamanha que é a vingança olho-por-olho é atemporal. Esse é, na verdade, um dos melhores mitos não-religiosos existentes e, no entanto, é extremamente rico em aprendizados éticos. Somos lembrados de que todos sofremos de alguma maneira, justa ou injustamente, mas, para sofrer com dignidade, devemos fazê-lo sem criar ainda mais sofrimento para os outros e para nós mesmos.<br />
<br />
<u>Sugestão:</u><br />
<u><br /></u></div>
<div style="text-align: justify;">
Um outro livro que deixa bem mais clara essa ideia de que o desprezo e o preconceito, ou seja, a falta de amor, podem transformar um ser, ou um homem, de atitudes boas e gentis em uma criatura grosseira e violenta, é "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2010/11/o-corcunda-de-notre-dame-victor-hugo.html">O Corcunda de Notre Dame</a>". Esse último é rico em tantos outros aspectos, que, ainda que a leitura de "Frankenstein" não apeteça, recomendo-o, para aprofundamento no tópico das "consequências do desamor", um de meus prediletos, que já foi postado no blog.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>Videocuriosidades:</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<u><br /></u></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dos filmes que mais marcaram minha infância, graças à sua triste beleza, foi inspirado na verdadeira história de Mary Shelley, apesar de não fazer nenhuma menção à mesma: "Edward mãos de tesoura", dirigido em 1990 por Tim Burton, estrelando Johnny Depp, retoma a ideia de um ser bondoso e ingênuo que, por causa da incompreensão e do preconceito, é levado à reclusão e a comportamentos anti-sociais, que acabam por reforçar a impressão inicial que sua aparência causa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tendo em vista que filmes de terror não me agradam, não posso dar nenhuma opinião com relação aos listados abaixo, a não ser o fato de que não seguem o perfil do romance:<br />
<br />
Produzido por Thomas Edison e estrelado por Charles Ogle, o primeiro filme "Frankenstein" estreou em 1910.<br />
Em 1931, surge uma nova adaptação dirigida por James Whale, estrelando Boris Karloff.<br />
Em 1943, surgiu o filme "Frankestein encontra o lobisomem", com Béla Gulosi como o monstro.<br />
Em 1969, surge "Frankenstein tem que ser destruído", do diretor Terence Fisher.<br />
Em 1980, mais uma adaptação do filme aparece, dessa vez dirigida por Peter Cushing. Também nesse ano, o filme "Gothic", de Ken Russel, apresenta a figura do monstro.<br />
Em 1994, uma adaptação cinematográfica de Kenneth Branagh, chamada "Mary's Shelley Frankenstein", apresentava Robert de Niro como Frankenstein e Helena Bonham Carter como Elizabeth. Ainda que o título sugira uma grande verossimilhança com a história do livro, o filme toma uma série de liberdades com relação à história original, no entanto, é ainda a adaptação que segue a história original com mais fidelidade.</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-39928581990127409122012-07-01T12:00:00.000-03:002012-07-01T06:26:26.194-03:00"O Jardim Secreto", Frances Hodgson Burnett<div style="text-align: justify;">
O romance "The Secret Garden", da escritora inglesa Frances Hodgson Burnett, foi publicado pela primeira vez em 1911. Não é à toa que essa história é considerada o mais importante escrito da autora.<span style="background-color: white;"> "O Jardim Secreto" é caracterizado por sua habilidade de estabelecer uma linguagem que direciona-se para crianças, mas, ao mesmo tempo, lida com elementos simbólicos de grande complexidade.</span></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
A história inicia-se na Índia, onde a menina Mary Lennox crescera <span style="background-color: white;">orfã de pais vivos e </span><span style="background-color: white;">rodeada pelos cuidados de criados que pouco se importavam com ela. Vítima de sua própria sorte, Mary torna-se uma menina mimada, emburrada, adversa, egoísta e extremamente desagradável. Em seu interior, porém, encontramos uma garota negligenciada, mal amada e solitária.</span><br />
<span style="background-color: white;">A cólera atinge a região, tirando a vida dos desatenciosos pais de Mary e deixando a menina sozinha não somente espiritual, mas também fisicamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela é então enviada para a grande mansão de seu tio, Mr. Craven, em Yorkshire, na Inglaterra. Lá, ela conhece Martha, uma jovem e doce criada que ajuda a menina a dar seu primeiro passo em busca do renascimento, a partir do contato com a natureza. Quando Mary começa a brincar fora de quatro paredes, ela começa a abrir-se para um mundo novo e belo, onde não cabe a arrogância ou o egoísmo antes inerentes à sua personalidade.<br />
<div style="text-align: center;">
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Um belo dia, caminhando pelos jardins da propriedade do seu tio, ela descobre uma parte do terreno contornada por muros e, aparentemente, sem entrada. Sua curiosidade aumenta e ela começa a buscar os motivos pelos quais aquele lugar estava fechado e como ela conseguiria entrar. Um passarinho, do qual ela fica amiga, lhe mostra onde estava escondida a chave do jardim e a direciona até a entrada. Mary se encanta com aquele "pedaço de terra" que, em grande parte, parece estar morto, e, no entanto, apresenta pequenos, porém, <span style="background-color: white;">eminentes</span><span style="background-color: white;"> resquícios de vida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYQ7oEBqJNsBfHp0oStYx3mtiz9xkR7UVav6r6g3AtPT55dzfOl9VIw3ZmN8oae97w84bCF5AtolN0OKG8TAfNWEr9jyx07f0flMgAbQG9LpFeJuyhDkP8oyN5YgPzayPkaXWqGjNi8_I/s1600/b00004coe202sclzzzzzzz26hv.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYQ7oEBqJNsBfHp0oStYx3mtiz9xkR7UVav6r6g3AtPT55dzfOl9VIw3ZmN8oae97w84bCF5AtolN0OKG8TAfNWEr9jyx07f0flMgAbQG9LpFeJuyhDkP8oyN5YgPzayPkaXWqGjNi8_I/s320/b00004coe202sclzzzzzzz26hv.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="background-color: white;">Ela, então, diz a Martha que gostaria de cultivar um jardim e a moça tem a idéia de pedir a ajuda de seu irmão Dickon, um menino um pouco mais velho que Mary, e que, diferente dela, foi criado em um ambiente cheio de amor e em pleno contato com a natureza, o que o tornou dócil, amável, e, ao mesmo, seguro de si e corajoso. As duas crianças iniciam, assim, o que se torna uma grande amizade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Uma certa noite, Mary começa a atentar para um episódio peculiar que se repete não tão esporadicamente: ela escuta choros e gritos, cuja origem é, para a menina, desconhecida. Resolve, então, investigar a fonte daqueles sons perturbadores e descobre, morimbundo em uma cama em um quarto de difícil acesso, seu primo Colin, do qual ela nunca ouvira falar.</span><br />
<span style="background-color: white;"><span style="background-color: white;">Trancafiado em um aposento desde a morte de sua mãe, Colin acreditava com grande convicção que iria desenvolver uma corcunda e morrer ainda jovem. Ele havia crescido em uma atmosfera de medo sufocado e preconceito, subsistindo nos rumores e sussurros secretos que ele escutava do mundo dos adultos. </span><span style="background-color: white;">O sedentarismo enfraqueceu suas pernas e a crença em coisas negativas o deixou enfermo, arrogante e egoísta. Seu pai nunca ia vê-lo, pois a lembrança da mãe que o menino trazia para ele o machucava muito. Assim, em uma situação parecida com a de Mary, deixado de lado pelo pai e órfão de mãe, fora deixado aos cuidados de pessoas que não estavam verdadeiramente preocupadas com sua saúde ou seu bem-estar, tornando-se extremamente arrogante, histérico e inseguro.</span>
</span><br />
<span style="background-color: white;">Mas a mudança de Mary e sua crescente felicidade são tão contagiantes que acabam por ser a salvação de seu primo doente. Sua exaltação por Dickon, seus animais e o jardim acendem uma pequena chama de entusiasmo em Colin, que também inicia seu processo de mudança. Logo, Colin também desperta uma paixão e, como Mary, não consegue mais ficar longe do jardim. </span><br />
<span style="background-color: white;">É quando Mary entra em sua vida, portanto, que ele torna-se livre dos terrores secretos que o atormentavam. Enfurecida pelo comportamento autopiedoso de Colin, ela lança-se a um ataque ao menino, no qual ela examina suas costas e proclama: <i>"Não tem sequer um caroço aqui!"</i>. E adiciona: </span><span style="background-color: white;"><i>"Histerismo é o que faz caroço. Não existe nada de errado com suas costas horríveis, a não ser histerismo!".</i></span><span style="background-color: white;"> Quando ele escuta essas palavras vindas de outra criança, faladas sem malícia ou qualificação, ele começa a aceitar a verdade.</span><br />
<span style="background-color: white;">Sua miraculosa transformação de pálido, murcho e hipocondríaco para confiante, energético e rejuvenescido é ainda mais marcante. Todas as conversas sobre deformidade e morte antes da maturidade desintegram-se a cada onda de excitação, planejamento e diversão e vemos, então, a recuperação de sua saúde.
</span><br />
<span style="background-color: white;">Um belo dia, o menino que não gostava de Sol, nem de ar puro, resolveu sair para ver o jardim e, a partir daí, fez isso por todos os dias subsequentes. Em pouco tempo, começava a andar e, principalmente, começava a acreditar que existe bem e que existe mágica no mundo. A companhia de sua prima, a natureza e sua fé o haviam salvado das moléstias de seu corpo e de seu futuro.</span><br />
<span style="background-color: white;">Ele resolve, então, usar sua carga de pensamentos positivos para trazer seu pai, que havia viajado para um lugar distante, de volta pra casa. Talvez por coincidência, talvez por mágica, o tio de Mary volta para encontrar seu filho correndo pelos jardins como um menino normal e feliz. E, apesar de todas as dores e perdas pelas quais passaram nossos personagens, no fim eles encontram uma maneira de alegrar-se consigo mesmo e com os outros, conseguindo superar as dificuldades e encontrar a felicidade em meio às tristezas da vida, através do amor e da fé. </span></div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
</div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
A obra infantil de Burnett não é somente um dos mais criativos contos já narrados sobre a mudança, a transformação, mas também é um dos mais duradouros e populares.</div>
<div style="text-align: justify;">
Seu encanto atemporal e sua revelação contínua, ambos responsáveis por traçar a obra como um clássico, podem ser atribuídos a vários fatores. Primeiro - o presente de Burnett para as histórias tensas e dramáticas: esse é um livro que nos faz ficar tentando adivinhar o que virá em seguida. Segundo - a perspicácia psicológica do livro: nós não somente acreditamos, como também simpatizamos, com as personagens. E, finalmente, há a exploração de diversas idéias que são tão pertinentes atualmente quanto há séculos atrás, particularmente a temática de que todos, sem exceção, devem ir em busca da saúde mental e física.</div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmFMUW15cwTYAfFNcf1TGkn3040jSw4o3IuKd6UHQlVEaFAb1PYtFdXHMyfF-VFQrk1fDDvE1SSusE5eeKo2UI07hE-VlfDFkMznGkgZQCZjs1YvwQ4kX5yKDQGockj2yPxFUk7jLu2ws/s1600/269343-4bf144b6b5e3a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmFMUW15cwTYAfFNcf1TGkn3040jSw4o3IuKd6UHQlVEaFAb1PYtFdXHMyfF-VFQrk1fDDvE1SSusE5eeKo2UI07hE-VlfDFkMznGkgZQCZjs1YvwQ4kX5yKDQGockj2yPxFUk7jLu2ws/s1600/269343-4bf144b6b5e3a.jpg" /></a></div>
<span style="background-color: white;">As páginas iniciais do livro estabelecem imediatamente a existência </span><i style="background-color: white;">marginal</i><span style="background-color: white;"> de Mary, que é crucial para o nosso entendimento sobre ela e o curso dos eventos futuros. A partir daí, a narrativa que se segue é preenchida de tensão e incerteza, altas emoções e drama, mesmo que a crise na Índia no início do livro acabe por colocar Mary em seu inesperado caminho para a felicidade. Existem mistérios que parecem insolúveis, - de quem é a voz que Mary escuta a chorar à noite? - crises a serem negociadas - um garoto histérico que deve ser acalmado - e a maravilhosa descoberta das crianças que deve ser mantida em segredo no mundo dos adultos. O elemento crucial da incerteza é o que assegura a tensão do leitor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
No decorrer dos acontecimentos, descobrimos o real caráter da menina, que havia sido enterrado por anos de negligência de seus pais. Quando, conversando com Martha, ela começa a sentir um certo interesse em Dickon, enquanto que ela nunca antes havia se interessado por ninguém a não ser ela mesma, nós podemos perceber essa mudança na personagem.</div>
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Assim começa a jornada de Mary pela auto-descoberta. Ela encontra uma nova fonte de energia, apetite e entusiasmo e experiencia um despertar quase religioso para as alegrias da natureza, culminando em seu renascimento. E esse renascimento é tanto físico quanto mental. Se antes magra e pálida, ela se torna rosada, saudável e sorridente. Se, uma vez, azeda e rancorosa, ela mostra-se um exemplo de altruísmo e pensamentos positivos. Assistimos o surgimento de uma menina rejuvenescida e amável.</div>
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Mas, de fato, o que torna sua transformação tão convincente é a maneira com que ela está intimamente ligada com a descoberta do jardim secreto, o estabelecimento de uma firme amizade (possivelmente ligada a uma paixão infantil) com Dickon, que parecia "bom demais para ser verdade", e os meios pelos quais ele acorda os sentidos dela e a encoraja a apreciar a natureza. O relacionamento de Mary com a natureza - e, por extensão, o mundo a sua volta - é um aspecto que define o espírito do livro. Quando se volta para o jardim secreto, ela nutre sua alma vazia e experiencia a felicidade plena. Se seu mundo era antes atrofiado, ele é agora tão pleno de potencial que ela salta da cama de entusiasmo a cada nova manhã.<br />
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Como Mary, o crescimento de Colin está alinhado às estações do ano e o surgimento da vida no jardim: é o início da primavera. O menino que antes era histérico, quase louco e hipocondríaco torna-se um profeta do otimismo e zelo pela vida.<br />
A transformação final, porém, que coincide magicamente com o momento de triunfo de Colin, é de Mr. Craven. Após anos de uma miséria auto-imposta, ele renasce e volta para casa para ser recompensado com a aparição de seu filho em perfeita saúde.<br />
A inicial ruína dos dois primos é a falta de um amor familiar: a mãe de Mary era muito frívola e vaidosa para se preocupar com a menina e, na ausência da mãe, o pai de Colin é muito temeroso e depressivo para lidar com o garoto. <span style="background-color: white;">Diferente deles, Dickon cresceu em harmonia com o mundo à sua volta. A sua família poderia ser pobres materialmente, mas o ambiente que ela proveu para Dickon não poderia ser mais amoroso. Como resultado, ele é confiante e seguro sobre o amor de sua mãe. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioripmEqEry0wZcN41c0XiV7oezxadEBtZAFifA2dPW_9xzTlCCjfsOt6Ogn2_U8mhYDCy2cdrIvX5vx8zZaTu-feqDwJ_jiR00gq-GIbLDGMiX6eWxIx4YKv0Zor2qkFrfzjT9nEOCxMJ/s1600/js+fo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="208" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioripmEqEry0wZcN41c0XiV7oezxadEBtZAFifA2dPW_9xzTlCCjfsOt6Ogn2_U8mhYDCy2cdrIvX5vx8zZaTu-feqDwJ_jiR00gq-GIbLDGMiX6eWxIx4YKv0Zor2qkFrfzjT9nEOCxMJ/s320/js+fo.jpg" width="320" /></a></div>
Assim, as duas crianças anseiam por conhecer a mãe de Dickon desde a primeira vez que ouvem falar sobre ela e, quando, finalmente, Colin a encontra, sua incontrolável reação é a de dizer: "Você é tudo o que eu queria... Eu queria que você fosse a minha mãe." E essa mãe, cujos preceitos são respeitados e admirados pelos personagens do livro, cria seu filho de maneira a torná-lo desenrolado e proativo, libertando-o, sem abandoná-lo, para o contato com a natureza.</div>
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Uma das passagens que ilustra muito bem o sentido da obra é a seguinte:</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>"...pensamentos simples são tão poderosos quanto uma pilha - tão boa quando a luz do Sol ou tão ruim quanto veneno."</i><br />
Interessante também notar que, para a época, a "pilha elétrica" era um elemento poderoso. A tecnologia se desenvolveu, mas a parte importante da afirmação permanece.</div>
<div style="text-align: justify;">
A mágica que envolve o fim do livro transforma os personagens, as palavras do narrador e acaba por intoxicar o leitor. O jardim não é somente secreto, mas, principalmente, encantado, transmitindo, com sua beleza e mutação, as mais valiosas lições com o mais leve dos toques.<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>"'A senhora acredita em mágica?', perguntou Colin depois que lhe explicou sobre os faquires da Índia. 'Tomara que sim'.</i><span style="background-color: white;"> </span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<i>'Acredito sim, meu filho. Eu nunca conheci por este nome, mas o nome não importa. Aposto que na França tem um nome diferente e na Alemanha tem outro. Mas é a mesma coisa que faz semente inchar e o Sol brilhar, e fez você ficar bom. É uma coisa boa. Não é que nem a gente, que se importa com o nome. Essa Coisa Boa Enorme nem se preocupa [...] Nunca deixe de acreditar nessa Coisa Boa Enorme, e de saber que o mundo está repleto dela, não importa o nome.'"</i> </blockquote>
Ler "O Jardim Secreto" é deixar-se tocar pela magia e acabar por fazer parte dela.</div>
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<span style="background-color: white;">Curiosidade:</span><br />
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<span style="background-color: white;">Dentro de um contexto rico e um desenvolvimento elaborado, a principal lição do livro assemelha-se a de seu contemporâneo </span><i style="background-color: white;"><a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2010/06/pollyanna-moca-eleanor-h-porter.html">"Pollyanna"</a></i><span style="background-color: white;">, da estadunidense Eleanor Porter. O fato curioso dessa similitude é que a publicação dos dois livros é separada por apenas dois anos.</span><br />
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<span style="background-color: white;">Vídeo-curiosidades:</span><br />
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Quando escolhi, atualmente, fazer a leitura do livro, foi porque o filme "O Jardim Secreto" de 1993 embalou a minha infância e tocou o meu espírito de criança. Dirigido por Agnieska Holland, é um filme muito bem elaborado, que conseguiu transmitir com excelência o espírito do livro. Alguns detalhes que poderiam passar despercebidos nas telas de cinema foram sugeridos através da adição de cenas ou características dos personagens, como o fato de que Mary não consegue chorar. E, na realidade, o filme conseguiu levar essa bela história, que não podia passar despercebida, para o mundo inteiro. Para mim, é definitivamente um clássico.<br />
Anterior a essa versão e dirigido por Fred Wilcox, em 1949 surgiu a primeira adaptação do livro para os cinemas.<br />
Em 2001, foi lançada a continuação do filme de 1993, "De volta ao Jardim Secreto". Mas, como quase todas as continuações, não diria que é uma grande produção.</div>
</div>Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-66847692731005312882012-06-03T12:00:00.000-03:002013-04-27T09:13:47.132-03:00"O Perfume", Patrick Süskind<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Publicado pela primeira vez em 1985, a obra do escritor alemão Patrick Süskind, cujo título original é: <i>"Das Parfurm - Die Geschichte eines Mördes"</i>, ou seja, "O perfume - A história de um assassino", encanta e intriga com sua escrita de elegância macabra e profunda. A descrição de uma sociedade ambientada na Paris do século XVII é tão minuciosa e analítica que pode, a princípio, ludibriar o leitor quanto ao ano em que a narrativa foi escrita. Ao menos, confesso que assim foi para mim. No entanto, examinando mais uma vez a situação de extremo conhecimento e a análise detalhista dos pormenores sociais e ambientais do período, pode-se afirmar que as palavras vem de um observador distante, que baseia suas informações em um estudo minucioso do que não presenciou.</span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i style="background-color: white; line-height: 21px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">"Na época de que falamos, reinava nas cidades um fedor dificilmente concebível por nós, hoje. As ruas fediam a merda, os pátios fediam a mijo, as escadarias fediam a madeira podre e bosta de rato; as cozinhas, a couve estragada e gordura de ovelha; sem ventilação, salas fediam a poeira, mofo; os quartos, a lençóis sebosos, a úmidos colchões de penas, impregnados do odor azedo dos penicos. Das chaminés fedia o enxofre; dos curtumes, as lixívias corrosivas; dos matadouros, fedia o sangue coagulado. Os homens fediam a suor e a roupas não lavadas; da boca eles fediam a dentes estragados, dos estômagos fediam a cebola e, nos corpos, quando já não eram mais bem novos, a queijo velho, a leite azedo e a doenças infecciosas. Fediam os rios, fediam as praças, fediam as igrejas, fedia sob as pontes e dentro dos palácios. Fediam o camponês e o padre, o aprendiz e a mulher do mestre, fedia a nobreza toda, até o rei fedia como um animal de rapina, e a rainha como uma cabra velha, tanto no verão quanto no inverno. Pois à ação desagregadora das bactérias, no século XVIII, não havia sido colocado ainda nenhum limite e, assim, não havia atividade humana, construtiva ou destrutiva, manifestação alguma de vida, a vicejar ou a fenecer, que não fosse acompanhada de fedor."</span></i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://radames.manosso.nom.br/critica/files/filme-perfume-a-historia-de-um-assassino-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: black;"><img border="0" height="320" src="http://radames.manosso.nom.br/critica/files/filme-perfume-a-historia-de-um-assassino-1.jpg" width="290" /></span></a></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O ano é 1738. Um bebê, quase vítima da morte pelas mãos da própria mãe, chora, na intenção de ser encontrado e delatar as más intenções daquela que lhe havia dado à luz. Não por questões de maldade ou justiça, mas, como em uma primeira batalha de sua luta pela sobrevivência. O bebê é levado para a Igreja, cujo padre responsável decide pagar para que uma ama de leite o alimente, como era feito com tantos outros bebês que ali foram parar. É nesse instante, ainda no início de nossa narrativa, que começamos a perceber algo de muito errado com aquela criatura: a mulher que dava àquele bebê do que comer decide negar-lhe, devolvendo-lhe ao padre... Não é que o dinheiro que lhe estava sendo pago era pouco. Por nada nesse mundo ela manteria aquela criança dentro de sua casa, junto aos seus filhos, afinal, como é possível confiar em um ser que, simplesmente, não possui odor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Este fato será a maior angústia e, ao mesmo tempo, trará a maior ambição de nosso personagem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Deixado em um orfanato, Jean-Baptiste Grennouille cresce sem que ninguém lhe perceba, nem se preocupe. Isso lhe dá liberdade para, aos poucos, ir-se descobrindo e encontrar em si um dom único e maravilhoso: um nariz capaz de sentir até os odores mais distantes e imperceptíveis. Em certo ponto, ele é dado como capaz de adivinhar o futuro, pelo fato de conseguir dizer "as pessoas que estão chegando para a visita" ou "onde está o dinheiro que a dona do orfanato havia guardado e não sabia mais aonde". É esta última "pequena adivinhação", inclusive, a causa de sua saída do orfanato. Ele então é jogado para um trabalho pesado e contaminante, do qual poucos saem vivos. Devido à sua excepcional capacidade de sobrevivência, no entanto, ele ganha a confiança do chefe. Sem que nem mesmo nós, leitores, percebamos, Grennouille começa a criar em si o desejo de ligar os cheiros que ele armazena em sua vasta memória odorífica e, atrelado a isso, o desejo de trabalhar em uma perfumaria. A malícia já começa a instalar-se em nossa personagem. Sua aparência inocente e sua presença desprezível (proveniente de um ser humano sem odor) são seus aliados nas diversas batalhas que ele travaria a partir dali para conseguir o que quer. A primeira delas é a perfumaria.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dia, passeando pelas ruas da cidade, este projeto de homem com um olfato extremamente desenvolvido, depara-se com um aroma nunca antes sentido: aroma esse que, após uma longa perseguição, descobre-se oriundo de uma jovem russa no que chamaríamos de "a flor da idade". Para melhor apreciar este espetáculo odorífico da natureza, e sem nenhuma intenção verdadeira de maldade, Jean-Baptiste assassina a bela menina, na esperança de melhor "cheirá-la". É a partir daí que, após diversos acontecimentos, nosso personagem entra numa longa e sinistra jornada para criar o melhor perfume do mundo, transformando-o em um facínora sem escrúpulos.</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A personagem criada por Süskind é de um caráter especial e complexo. À princípio, Grennouille não tinha nada, mas, aos poucos, talvez como um organismo de defesa, cria-se nele um ser extremamente egocêntrico. Tudo que ele consegue ver nos outros é inferioridade e ignorância. Ele sente-se o rei do universo, pois, por causa de seu dom, ele acaba por ser capaz de desnudar as pessoas, seus desejos, suas frustrações, sua realidade. Afinal, somos todos animais e, por mais que não percebamos, estamos, a todo momento, liberando odores que retratam nossas emoções. É também assim que ele descobre-se capaz de controlar as pessoas, pois os aromas, ainda que nos pareçam imperceptíveis, são capazes de mudar nosso humor e, até mesmo, nossas opiniões e pontos de vista sobre as coisas mais simples. A arrogância toma conta dele, que começa a sentir-se e comparar-se a um deus.</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif; text-align: left;"><i>"[...]as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração - ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas."</i></span></blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O autor retrata as fixações e excentricidades macabras de seu personagem com tal eufemismo que podemos sentir a ilusão que está tentando ser criada de que o assassino em série, aparentemente inofensivo, tem motivos plausíveis e compreensivos para seus atos absolutamente contestáveis. Por vezes, é possível, inclusive, acreditar nessa ilusão, pois o criador dessa história é extremamente persuasivo.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Grennouille não buscava tirar a vida dos odores, mas sim, dar a eles vida e liberdade. Era como se, ao retirá-los em sua essência, colocando-os em frascos e aniquilando todo o resto, tudo o que havia de bom naquele ser, naquele corpo ou naquele objeto estava concentrado e não havia nada mais a se aproveitar. O que sobrava não tinha importância. Se o ser fosse mantido vivo, em convivência com uma atmosfera podre, acabaria por se corromper, corrompendo, assim, também seu odor. O melhor, portanto, era retirar o aroma enquanto inocente, límpido, puro e, consequentemente, mais delicioso.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Tomado pelo egocentrismo, tudo que o coração de gelo de Grennouille mais buscava era a capacidade de sentir algo que não fosse proveniente dele mesmo. Até mesmo porque não havia nada que viesse dele que, de fato, ele pudesse <i>sentir.</i></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um recurso aqui disfarçadamente utilizado é o discurso indireto livre que, neste caso, não perde-se em monólogos divagantes, pensamentos ou emoções do personagem, e sim na própria essência de tudo que se passa dentro dele. Mas tudo que se passa dentro dele, todas as suas impressões do mundo, todos os seus mais profundos desejos e ambições originam-se no seu nariz. Eu diria, portanto, que o discurso indireto livre que é apresentado no livro não é proveniente do pobre Jean-Baptiste (um infeliz, cujo maior talento é também o maior fardo) mas sim do verdadeiro protagonista dessa história: o nariz de Grennouille. Esse dom espetacular é como um espírito mal que toma o corpo de um ser, a princípio, inocente. Neste caso, porém, não conseguimos distinguir o corpo e o espírito, pois é como se o primeiro fosse um nada sem um segundo. E, de fato, Grennouille não passaria de mais um alma desprezível e sem vida em uma cidade de miseráveis </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">não fosse seu olfato</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">.</span><br />
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width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Esta é a beleza do livro: apesar de ter chegado aos extremos da maldade, nossa personagem só foi realmente "vista" pelos olhos da humanidade por deixar-se tomar por seu impulso maléfico. Não fosse isso, estaria condenado, como tantos outros, a sofrer na realidade de um ser invisível.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O livro possui um aspecto muito interessante: ao passo que as "paisagens odoríficas" do livro aparentam, a princípio, ser vítimas de um demasiado hiperbolismo, precisamos atentar para o fato de que estas são vistas através do nariz do nosso personagem, que não é um nariz comum. Dessa forma, não há nada de exagerado com as descrições, tendo em vista que seguem à risca o que é perceptível por Grennouille.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um outro traço extremamente relevante do livro é a maneira com que o autor apresenta a podridão que habita dentro das pessoas</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">, metaforizada na podridão das ruas, das casas e das cidades. Aos poucos ele nos mostra, às vezes de maneira extremamente cruel e inesperada, os pensamentos mais profundos e obscuros do ser humano.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É um livro muito forte e chocante, mas ao mesmo tempo belo em sua lugubridade insana. Leitura imperdível e absolutamente inesquecível.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Video-curiosidades:</span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em 2006, o diretor alemão Tom Tywker levou a obra aos cinemas, conseguindo captar o espírito e o estilo do livro. Dustin Hoffman e Alan Hickman constam no elenco. Mas o ator que fez o protagonista é a grande estrela, que captou o personagem e passou-o para os expectadores. A fotografia do filme é também de excelente nível.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
</blockquote>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-54108515381516432812012-05-06T09:02:00.000-03:002016-05-11T04:20:07.982-03:00"Hamlet", William Shakespeare<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Uma vez mais, trago para este blog um humilde comentário sobre uma obra-prima do maior dramaturgo da literatura universal. William Shakespeare, que escrevia suas peças para um pequeno teatro de repertório, no final do século XVI e início do XVII, tem, mais de 400 anos depois, suas histórias como base para excelentes adaptações. A sua produção engrandeceu o teatro, trazendo ao palco as personagens mais intrigantes, dentre as quais figura o sujeito de nossos comentários. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Segundo estudiosos, é em 1600 que nosso autor atinge a maturidade literária, com a peça <i>"Hamlet"</i>, diferentemente da obra anteriormente aqui postada <a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2010/05/megera-domada-william-shakespeare.html"><i>"A Megera Domada"</i></a>, que pertence a primeira fase de seus escritos. Esta última, inserida no grupo de comédia de costumes, difere da primeira, que, rodeada por uma natureza histórica, apresenta, em sua essência, a natureza humana e suas contradições.</span><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<img src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d0/The_Play_Szene_in_%E2%80%9CHamlet%E2%80%9D.jpg" height="196" width="320" /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Na realidade, o mito de Hamlet é antiquíssimo na lenda escandinava. No século XII, surge o primeiro registro escrito dessa história, proveniente do dinamarquês Saxo Grammaticus, no livro <i>"História Danica".</i> Entretanto, Shakespeare, pode-se presumir, inspirou sua obra na publicada por François de Belletorest, inserida em seu livro <i>"Histoires Tragiques"</i>, de 1576.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Hamlet é a tragédia da dúvida, do desespero solitário de um homem diante da violência do mundo. Por seu caráter profundo e enigmático, estabelecendo contato intenso com o que há de mais obscuro no ser humano, esta peça é, até hoje, a mais estudada e apresentada do poeta inglês.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">O rei da Dinamarca falece. Em seu lugar, sobe ao trono seu irmão que, com pouco tempo do trágico acontecimento, casa-se com a rainha. O príncipe, Hamlet, não consegue aceitar que sua mãe tenha-se retirado do luto, desposando um outro marido, mal o cadáver de seu pai esfriara. Não há nada, porém, que deva-se fazer, apesar da grande amargura do príncipe e da falta de honra e dignidade do casal, que apressadamente desrespeitou a memória do rei, dentro de uma relação considerada incestuosa no período.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Em uma certa noite de vigília, os guardas noturnos do reino começam a ver o espectro do pai de Hamlet e, apesar de quase não acreditarem em seus olhos, alertam o príncipe. Este tenta comunicar-se com o espectro que, de fato, aparenta ser seu pai e acaba por descobrir uma informação importantíssima: Cláudio havia envenenado o rei da Dinamarca e seduzido sua esposa, adquirindo, assim, tudo que pertencia ao seu irmão - o trono e a rainha.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">A indignação de Hamlet não poderia ser colocada em palavras. A dúvida paira sobre a cabeça do personagem. O que, afinal, deveria ser feito? O desejo de vingança é grande, mas não lhe parece correto. Ele passa, então, a agir de uma maneira que os cortesões, o rei e a rainha consideram insanidade. Aproveitando-se disso, o príncipe ganha tempo para tramar a melhor forma de desmascarar o rei.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Enquanto isso, um projeto de romance é colocado para o leitor: Hamlet é apaixonado por Ofélia, filha de Polônio, um lorde camarista que é o principal conselheiro do rei.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Pois bem, após muitas reviravoltas, onde o rei, desconfiado de seu sobrinho, tenta descobrir o que se passa na cabeça dele, Hamlet tem uma conversa com sua mãe e consegue abrir os olhos dela para a falta de caráter do rei, bem como a péssima atitude que ela havia tomado. Esta conversa, porém, tinha sido escutada por Polônio atrás das cortinas (coisa muito típica e quase um clichê de dramas envolvendo traições). O princípe, contudo, detecta algo errado no ambiente e acaba por dar um golpe de espada na cortina, assassinando o pai de sua amada.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Ofélia enlouquece e é "vítima" de uma morte misteriosa, que nos dá um diálogo muito interessante entre os coveiros que cavavam sua sepultura:</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">"PRIMEIRO COVEIRO - E é correto que em terra santa seja sepultada a moça que voluntariamente conspira contra a própria salvação?<br />SEGUNDO COVEIRO - Posso te dizer que sim. Portanto cave logo a sepultura que irá recebê-la. O comissário já examinou o caso e decidiu que o enterro deve ser cristão.<br />PRIMEIRO COVEIRO - Como pode ser isso? A menos que ela tenha se afogado em defesa própria!<br />SEGUNDO COVEIRO - Foi mais ou menos isso que acharam.<br />PRIMEIRO COVEIRO - Deve ter sido se defendendo. Não pode ter sido de outra maneira! Porque aqui está o ponto: se eu me afogar intencionalmente, isto denota um ato, e um ato tem três partes que são: agir, fazer e executar. Então, ela se afogou intencionalmente.<br />SEGUNDO COVEIRO - Mas escuta, camarada...<br />PRIMEIRO COVEIRO - Com licença! Aqui está a água; bom, e aqui está o homem; bem. Se o homem vai em direção desta água e se afoga, queira ou não, é caso que vai. Preste bem atenção. Mas se a água vai até ele e o afoga, ele não se afoga a si mesmo. Portanto, aquele que não é culpado da própria morte, não abrevia a própria vida.<br />SEGUNDO COVEIRO - Mas a lei é assim?<br />PRIMEIRO COVEIRO - Exatamente! Lei baseada na informação do comissário.<br />SEGUNDO COVEIRO - Só sei de uma coisa, se essa não fosse uma dama da nobreza, não seria sepultada como cristã.<br />PRIMEIRO COVEIRO - Isso mesmo! E o mais triste disso é que os grandes têm mais facilidades neste mundo para se afogar ou se enforcar.[...] Enquanto eles se julgam eternos nós é que construímos as cidades mais duradouras. Sabe por quê?<br />SEGUNDO COVEIRO - Realmente, juro que não sei!<br />PRIMEIRO COVEIRO - Não atormente mais sua cabeça oca com isso. A idéia é que o coveiro constrói casas que duram até o dia do Juízo Final. (Pausa) Agora vá buscar um tanto d'água que tenho de terminar isso ainda hoje!"</span></i></blockquote>
<br />
<div style="text-align: center;">
<img src="http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRTSHABT4kJdmghZ1LopOi4-tqYQk4WYUFWBlQUI91v7s45tN_29cYWOQsNqg" height="219" width="320" /></div>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Com tantas tragédias em sua família, ocasionadas, ainda que não de todo intencionalmente, por Hamlet, o irmão de Ofélia, Laertes, resolve vingar-se. Alia-se, portanto, ao rei. </span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">O clímax do livro ocorre com a utilização de um artifício interessante e original: o teatro dentro do teatro. Aproveitando-se da capacidade que a dramaturgia tem de penetrar no íntimo do ser humano, fazendo-o refletir e demonstrar as mais diversas reações, Hamlet propõe a um grupo de atores (que seria a representação do grupo de teatro de Shakespeare) que apresente uma peça que contaria a mesma história de traição, corrupção, incesto e imoralidade de sua vida real. De fato, a representação afeta o rei, que retira-se do recinto, desmascarando-se, com esta atitude, aos olhos de Hamlet.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Finalmente, o rei trama uma luta entre Laertes e Hamlet. Para garantir a morte deste último, o florete de Laertes é envenenado, bem como um copo de vinho, servido a Hamlet entre os jogos. Mas o tiro sai pela culatra quando a rainha, Gertrudes, bebe o vinho que seria de seu filho. A seguir Laertes fere Hamlet e, após troca de floretes, Hamlet fere Laertes. No ímpeto deste momento, a rainha morre e o príncipe, percebendo a traição, usa suas últimas gotas de ânimo para ferir o rei antes de morrer.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">O forte caráter de Cláudio, o rei da Dinamarca e vilão de nossa história, torna-se um traço de valor e cede à trama uma complexidade que não poderia ser alcançada com a simples representação da luta contra o bem e o mal. Aspectos extremamente frequentes nas obras de Shakespeare, como as aparências que enganam e o predomínio das paixões sobre a razão, embalam com fervor a história de Hamlet.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Devido à vívida dramatização da melancolia e da insanidade na peça, suas personagens foram encaradas, durante muito tempo, como obscuras, misteriosas e, até mesmo, místicas. A</span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"> confusão de um homem em meio a um ambiente de loucura real e loucura fingida, com emoções que partem do sofrimento opressivo até a raiva fervorosa,</span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"> torna a obra ainda mais intrigante estudiosos e psicanalistas, fazendo-a interpretada e debatida através de diversas perspectivas. </span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Críticos psicanalíticos, mais recentemente, tentam examinar a mente inconsciente de Hamlet, enquanto críticos feministas reavaliam e reabilitam o caráter de personagens como Ofélia e Gertrudes.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">A hesitação de Hamlet ao matar seu tio, por exemplo, é um aspecto ainda misterioso para muitos. Alguns encaram o ato como uma técnica de prolongação do enredo, mas outros o vêem como resultado da pressão exercida pelas complexas questões éticas e filosóficas que cercam o assassinato a sangue-frio, resultado de uma vingança calculada e um desejo frustrado. Freud interpretou esta situação como uma espécie de complexo de Édipo.</span>
<br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Nosso protagonista possui também um caráter filosófico, expondo idéias agora conhecidas como relativistas, existencialistas e céticas. Uma forte exemplificação deste relativismo é expresso em seu diálogo com Rosencrantz, na seguinte frase: </span><i style="font-family: Verdana, sans-serif;">"[...] nada é bom ou mau, a não ser por força do pensamento."</i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"> A reflexão de que nada é mau, exceto na mente do indivíduo, encontra raízes nos gregos sofistas, crentes de que, uma vez que nada pode ser percebido, exceto através dos sentidos - e uma vez que todas as pessoas percebem as coisas diferentemente entre si - </span><b style="font-family: Verdana, sans-serif;">não há verdade absoluta</b><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">, apenas a verdade relativa sobre as coisas (e eu não poderia ser mais de acordo com essa idéia).</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">O exemplo mais claro do existencialismo, contudo, está no célebre e famoso monólogo da tragédia:</span><br />
<dl style="background-color: white; line-height: 19px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.2em;"><blockquote class="tr_bq">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><i>"Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nossos espírito sofrer pedras e setas com que a fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações e, em ula, pôr-lhes fim? Morrer... dormir: não mais. Dizer que rematamos com um sono a angústia e as mil pelejas naturais - herança do homem: morrer para dormir... é uma consumação que bem merece e desejamos com fervor [...]"</i> </span></blockquote>
</dl>
<div style="background-color: white; line-height: 19px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Os críticos acreditam que Hamlet usa "ser" para aludir à vida e à ação, e "não ser" aludindo à morte e a inércia.</span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 19px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Não me permito adentrar em divagações e reflexões, utilizando-me de minha pobre (diante de tanta riqueza literária) capacidade de interpretação. Ficarei, portanto, com o resto de minhas análises, dando aos leitores deste blog que se interessarem (e, se me permitem afirmar, não tem como não criar curiosidade pelos mistérios psicanalíticos de tal trama) a possibilidade de criarem suas próprias interpretações, que podem ser as mais diversas e apreciar a obra, desde seu conteúdo mais simples à sua mais extremada concepção.</span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 19px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 19px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 19px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Video-curiosidades:</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Criada com o intuito de ser apresentado em palcos, a obra, obviamente, foi apresentada milhares de vezes, através das mais diversas perspectivas e atuações.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Em 1948, uma adaptação cinematográfica dirigida e protagonizada por Laurence Olivier estreou nos cinemas.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Em 1990, o filme dirigido por Franco Zefirelli é lançado, estrelando Mel Gibson e Glenn Close.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Em 1996, com Keneth Branagh como Hamlet, outra adaptação surge nos cinemas.</span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Vários atores brasileiros renomados, como Edson Celulari, Diogo Vilela e Wagner Moura encenaram Hamlet no teatro, merecendo ovações por suas brilhantes atuações. De fato, trazer uma trama tão rica e misteriosa para o teatro brasileiro, e, como ator, ter a audácia de interpretar um personagem tão perturbado e intrigante é, de fato, digno de não somente aplausos, mas principalmente agradecimento.</span></div>
<div style="background-color: white; line-height: 19px; margin-bottom: 0.5em; margin-top: 0.4em;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Indico este link de uma reflexão de Leandro <span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Kar<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">n</span>al em cima da peça: <span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">https://www.google.fr/search?q=%09Hamlet+e+o+Mundo+como+Palco&ie=utf-8&oe=utf-8&gws_rd=cr&ei=WdQyV-6lDMa4ad_dqtAC</span></span></span></span></div>
</div>
Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-15089412145013478362012-04-19T11:01:00.002-03:002012-09-30T12:09:46.288-03:00"Contos dos Irmãos Grimm", Dra. Clarissa Pinkola Estés<div style="text-align: justify;">
Era uma vez uma linda menininha de lábios vermelhos como sangue e pele branca como a neve. Ou, salvo engano, talvez fossem dois irmãos, um menino e uma menina, que, perdidos na floresta, encontraram uma linda casinha feita de doces e guloseimas. Uma menina do chapéu vermelho que saíra para entregar doces à sua vovozinha...<br />
Essas pequenas histórias que fazem brilhar os olhos e fascinar o coração dos pequenos, ao passo que trazem reflexão e ânimo para a alma dos "já não tão pequenos", são os encantadores <i>contos de fadas</i>.<br />
A publicação do livro "Tales of the Brothers Grimm" data de 1999, mas a rica coleção de contos, cuidadosamente selecionada pela Dra. Clarissa Pinkola Estés possui uma tradição de séculos e pode ser considerada como um patrimônio da cultura mundial.<br />
Os irmãos Grimm não são os contadores de tradição oral, ou seja, que transmitem a história através da fala. Nos períodos onde era esta a maneira de contar histórias que vigorava, podemos afirmar que a infinidade de contos que havia talvez não fosse capaz de se condensar para caber em livros. Aos poucos, muitas histórias foram esquecidas e acredito, inclusive, que muitas foram desprezadas. Também não é pequena a quantidade de pessoas que resolveu colocá-las na forma escrita. Exopo tem crédito por algumas fábulas com grandes ensinamentos para crianças e adultos. Há também os "autores" de contos roubados - e assim os defino pelo fato de que, apesar de tê-los enriquecido e abrilhantado, não podemos dar o mérito completo das histórias a esses ilustres "escrivães" -, como os irmãos Grimm, dos quais tratamos aqui, que tem seus contos, até hoje, como base para inúmeras outras histórias e adaptações de ordem secundária (ou terciária, ou quaternária).</div>
<div style="text-align: justify;">
Não. Contos de fadas não são "coisas de criança". Muito pelo contrário. Eles são capazes de modificar a vida e o espírito de todas as pessoas que os lêem. Uma coisa muito marcante desta específica coleção é o prefácio da sábia autora, que consegue abrir nossos olhos para as pequenas e, no entanto, extremamente grandes lições de vida que provêm das histórias que embalaram nossa infância, mas que para alguns, ou muitos, de nós teve seu aprendizado despercebido, quando o que nos interessava era a aventura e as emoções.</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>"Embora os contos de fadas terminem logo depois da décima página, o mesmo não acontece com a nossa vida. Somos coleções com vários volumes. Em nossa vida, ainda que um episódio possa terminar mal, sempre há outro à nossa espera e, depois desse, mais outro. Sempre há novas oportunidades para consertar o estrago, para moldar nossa vida da forma que emocionalmente merecemos. Não perca tempo odiando o insucesso. O insucesso é um mestre melhor do que o sucesso. Escute. Aprenda. Continue. Essa é a essência de todo conto. Quando prestamos atenção à essas mensagens do passado, aprendemos que há padrões desastrosos, mas também aprendemos a prosseguir com a energia de quem percebe armadilhas, jaulas e iscas antes de nos depararmos com elas ou de sermos nelas ou por elas capturados."</i></blockquote>
<div style="text-align: justify;">
É com essas palavras que Clarissa introduz a magia dos contos de fadas: essas pequenas histórias que evocam idéias infinitamente sábias que durante séculos se recusaram a se deixar mutilar.</div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>"Quer entendamos um conto de fadas cultural, cognitiva ou espiritualmente - ou de outras maneiras, como quero crer -, resta uma certeza: eles sobreviveram à agressão e opressão políticas, à ascensão e queda de civilizações, aos massacres de gerações e a vastas migrações por terra e mar. Sobreviveram a argumentos, ampliações e fragmentações. Essas jóias multifacetadas têm realmente a dureza de um diamante, e talvez nisso resida o seu maior mistério e milagre."</i></div>
</blockquote>
<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: center;">
<img height="400" src="http://i.s8.com.br/images/books/cover/img3/1127703_4.jpg" width="278" /> </div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, finalmente, o que será que concedeu aos contos esse aspecto de resistência a eras, lugares e acima de tudo, pontos de vista? Os contos tem a mesma atemporalidade dos sentimentos grandes e profundos nele gravados, capazes de afetar até as almas que parecem inatingíveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
Incitam emoções e aprendizados profundos, registrados em um lugar longínquo do nosso ser, que são por nós conhecidos, mas que parecem saídos de uma outra vida, sendo magicamente evocados quando mais parecia que ficariam intocados no nosso subconsciente. Muitos contos trazem, subliminarmente ou diretamente, uma moral ou ensinamento - é o caso, por exemplo, das fábulas de Exopo. Outros, porém, dependendo do período e da situação histórica em que foram escritos, apresentam conceitos lastimáveis: preconceito e degradação do homem (muitos dos contos dos irmãos Grimm, por exemplo. Nenhum deles, no entanto, figura nesta coleção). Em todo caso, os contos atualmente difundidos são aqueles repletos de louvor por sua maneira mágica e interessante de nos indicar a maneira certa de agir, respeitando a si mesmo e ao próximo.</div>
<div style="text-align: justify;">
O ensinamento de valores como a indulgência, a compaixão, a justiça, a temperança, a prudência e, até mesmo, os limites é uma das diversas características dessas narrativas fantásticas. E, se a princípio, as crianças são o principal alvo das morais das histórias, são os adultos os que mais precisam conhecê-las ou relembrá-las. É por isso que os contos, de uma maneira geral, e esta excelente seleção, em específico, são tão notáveis e especiais, indicados para todas as idades, nações e eras, sem restrição.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Vídeo-curiosidades:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Mais uma vez, até por sua longevidade, é inumerável a quantidade de adaptações no teatro, no cinema e na televisão da magia dos contos. Apontarei, no entanto, alguns de meus preferidos.</div>
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<br /></div>
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A primeira indicação, com algumas concessões, como já era de se esperar da minha parte são os desenhos da Disney. Obviamente, apenas alguns são baseados em contos e não necessariamente da mesma forma que foi escrita pelos Irmãos Grimm. Até porque, se a base eram os contos deles, há uma deturpação gigantesca na maneira de contar a história. No entanto, muitas das famosas histórias ganharam vida no coração das crianças (e no meu) através da interpretação de Walt Disney, como é o caso de "Branca de Neve e os sete anões"(o primeiro longa metragem da produtora) e "Cinderella"(cujo título original seria "A Gata Borralheira", como já era de se esperar). "A Princesa e o sapo" foi, recentemente, lançada, mas eu confesso que não tenho as melhores opiniões sobre o filme, que apresenta conceitos distorcidos e, na minha concepção, é bastante assustador para crianças. Mas, buscando nos clássicos, o que se encontra é muita beleza e finais felizes.</div>
<div style="text-align: center;">
<img src="http://www.collegefashion.net/wp-content/uploads/2010/07/Cinderella-Blue-Dress.jpg" />
</div>
<div style="text-align: justify;">
Há algum tempo atrás, uma sequência de filmes baseada nos Irmãos Grimm foi lançada, sendo o mais famoso deles "Branca de Neve e os sete anões", que é realmente um filme muito interessante (o qual eu assisti mil vezes quando criança e algumas depois de grande). Confesso que não me lembro muito bem dos outros, mas acredito que devem também ser de qualidade. A produtora chamava-se "Cannon Movie Tales".</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 2005, estrelando Matt Damon, foi lançado um filme extremamente interessante chamado "Os Irmãos Grimm", que, ao passo que relatava (meio que mentirosamente) como os autores "criaram" as histórias, misturava suas criações à vida real, tornando tudo uma coisa meio mágica, meio sinistra, meio maluca, mas bem divertida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Recentemente, a ABC lançou uma série chamada "Once Upon a Time", que entrelaça os contos dos irmãos Grimm e, de alguma maneira, os traz para a vida real. Não é uma série infantil, tampouco banal. Até agora, está muito interessante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Finalmente, dirigido por Tarsem Sign e estrelando Julia Roberts como a rainha má, foi lançado, neste ano, o filme "Espelho, espelho meu" (<i>Mirror, mirror</i>), o qual eu ainda não tive a oportunidade de assistir, mas farei isso logo, logo, pois meu encanto por essas histórias não me permite esperar muito.</div>
<div style="text-align: center;">
<img src="http://gloss.abril.com.br/imagem/cinema-mirror-mirror-01.jpg" />
<br />
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Também, ainda este ano, com Charlize Theron e Kristen Stwart (da qual eu tenho um péssimo conceito muito bem fundamentado), será lançado "Snow white and the Huntsman". O produtos é o mesmo de <a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.fr/2010/10/alice-no-pais-das-maravilhas-e-atraves.html">"Alice no país das maravilhas"</a>. Apesar de não preferir a atriz que representa esta nova Branca de Neve, acredito que o filme será bom. Também ainda a ser visto.</div>
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Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-54081553351160240862012-03-04T08:00:00.000-03:002012-03-22T06:59:12.558-03:00"Peter Pan", J. M. Barrie<div style="text-align: justify;">
O livro que trago para a pauta deste mês não é medíocre e tampouco novidade: é a história imortal, escrita por J. W. Barrie em 1911, de Peter Pan, o menino que não queria crescer. Peter Pan surgiu pela primeira vez no livro <i>"The Little Bird" (O passarinho)</i>, mas suas histórias sobre este garoto cheio de mistérios foram aprimoradas para divertir os filhos do casal de amigos de Barrie, Arthur Davies e Sylvia, que faleceram, deixando o nosso autor como tutor de seus filhos. Antes de se tornar livro, "Peter Pan" foi executado como peça no Natal de 1904. Devido ao grande sucesso, tornou-se um evento anual e natalino produzido durante 60 anos.</div>
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A partir do momento em que Peter Pan e sua irritante amiga fada Tinker Bell (ou, aqui para nós, Sininho) entram voando pela janela do quarto das crianças, a história lança um feitiço mágico na vida das crianças e também nas nossas.</div>
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<img height="400" src="http://cache2.allpostersimages.com/p/LRG/19/1914/SXK9D00Z/posters/tinker-bell-and-peter-pan-a-touch-of-magic.jpg" width="312" />
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Os três filhos de Mr. e Mrs. Darling, John, Michael e Wendy, vivem uma vida comum, de crianças comuns, com brincadeiras e hábitos comuns. A única coisa um pouco esquisita, mas que a família Darling não parece notar, é o fato de que a babá dos meninos é um cachorro chamado Nana. Mas pelo que eu vi, posso garantir que ela é muito mais inteligente que tantas outras babás que vemos por aí. É divertido entrar na cabeça de Nana e entendê-la como um ser pensante, inteligente e preocupado com o bem estar das crianças. Imaginá-la fazendo essas coisas tão naturais para babás, como trocar as fraudas e colocar todos para dormir, parece irônico para um adulto, mas talvez para uma criança cheia de imaginação seja simplesmente normal.</div>
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Ainda que um livro escrito para um público específico, o autor consegue expor, sem adentrar nas profundezas do ridículo caráter humano, como deixamos de viver nossas vidas, preocupados com o que os outros estão pensando. Na verdade, Mr. Darling não tinha capital para bancar uma babá, mas, como todos em sua rua possuíam uma e olhavam feio a cada vez que ele passava, porque seus filhos não tinham babá, ele arranjou Nana, adaptando-se assim à vida dos outros moradores.</div>
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É nesse ambiente que nosso Peter adentra, mudando todas as regras do jogo. As crianças são levadas à Terra do Nunca (sim, aquela mesma para a qual você e eu sempre sonhamos ser levados), onde eles conhecem os garotos perdidos, assistem às brincadeiras das sereias na Lagoa Azul e encontram o Capitão Gancho e seu bando perverso de piratas. Aqui nos deparamos com as aventuras e intrigas com que todas as crianças sonham nos mais diversos níveis: lutas, beleza, lugares e seres misteriosos, romance, a luta contra o bem e o mal e o aconchego do lar.</div>
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<img height="286" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWaR1rVcYhC2rg_zSGklCt3TTSGNwiAy-QgTFX2MPMS-AUZyyIe3T5tgbMGDu-NEc7-vSnBOVj9Kxsg429bHKqpupNiCp0QALIBC1RvfjDA6um3xkGpPyk04-0-PSlNztMgCX69GerViRi/s400/peter.jpg" width="400" />
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Todos os acontecimentos passam pelo nosso coração e não somos somente expectadores. Com a iminente possibilidade de morte de Sininho, por mais azucrinante que ela possa ser, nos vemos, sem querer, dizendo em alta voz: "Eu acredito em fadas", porque, mesmo que adultos não tenham o poder de salvar esses pequenos seres mágicos e apaixonantes, é a criança dentro de nós que grita para ter a liberdade e o direito de acreditar. Talvez seja isso, mais do que tudo, que Peter nos quer ensinar, que mesmo que cresçamos e tenhamos que fazer aquelas coisas chatas que os adultos fazem, como colocar o chapéu, pegar a maleta e ir para o trabalho, não podemos nos deixar transformar por esse mundo infame e corrupto que é o mundo dos adultos, e sim nunca permitir que morra a criança que há dentro de nós, esse serzinho <i>"alegre, inocente e sem coração"</i> que nos permite ver a beleza nos dias mais comuns.</div>
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Enquanto as crianças estão à distância, também algo muda na casa dos Darling. Para Mr. Darling, por exemplo, as aparências agora perdem o valor. O tesouro mais precioso que aqueles pais e aquela babá possuíam desapareceu na imensidão do céu. Os meninos, enquanto isso, seres sem coração, como todas as crianças (e, por favor, não tomem isso errado, porque, se bem analisarmos, Barrie até estar um pouco certo quando as caracteriza assim. Ou será que você quer me dizer que se, quando criança, você tivesse a oportunidade de fugir com Pan para a Terra do Nunca, você não o faria?), quase se esquecem de seus pais. Menos Wendy que, um pouco mais madura, consegue convencer os irmãos e os outros meninos perdidos a retornar para seu lar. Assim é feito. Peter, no entanto, não aceita a proposta e volta para sua Terra do Nunca sozinho, com a promessa somente de que Wendy iria visitá-lo a cada ano para fazer a faxina de primavera. No entanto, a Terra do Nunca parece ter o poder de fazer-nos perder a noção do tempo ou mesmo esquecer de algumas coisas e Peter, como é normal dele mesmo, acaba esquecendo de ir buscar Wendy em algumas primaveras. Assim, o tempo passa e, quando finalmente Peter vem visitá-la, Sininho já morreu há tanto tempo que foi completamente esquecida pelo garoto, Nana e Mr. e Mrs. Darling já morreram e foram também esquecidos (o que eu acho um pouco de crueldade do autor, mas não sem sentido) pela família e Wendy está adulta, casada e com uma filha, a qual vai fazer a faxina com Peter, coisa que vai, a partir de então, ser passada de geração a geração. É assim que o livro leva as crianças o ciclo da vida: o nascimento e morte são apresentados de maneira banal, comum. O autor, talvez, busca, desta forma, ajudar as crianças órfãs (como aquelas das quais ele era tutor) a superar a perda dos pais.</div>
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<img height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGDY9jjs_4Le0SOcjZ-UjLduTgTMUxRgLtTUEaGDdOaYETfAK98nbPsWiIge2qpl9f_MuQTBuuAZkwS6BQ7-bCFkZnyvyphMg_wYddu-pbCd8OAt2ZfNpW1mcw_4OSU6QMgeg684qNRErq/s400/peter+pan+2003.jpg" width="400" />
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A obra envolve um mistério em torno das mães, esses seres mágicos e maravilhosos, que apesar de possuir características de deuses altruístas e lindos, só são assim vistos por aqueles que tiveram a oportunidade de ter uma por perto. Para Peter, mães são criaturas cruéis que abandonam seus filhos e sequer lembram-se deles. Os outros meninos perdidos seguem o mesmo pensamento até que Peter traz a eles Wendy, que torna-se uma mãezinha para eles. Wendy os ensina que mães são seres bons e, no final, todos querem ter uma mãe, até Pan. Nosso herói, porém, não dá o braço a torcer e prefere permanecer como sua imagem maléfica das mães, mais por medo que por teimosia, acredito eu. Talvez ele ache que ter uma mãe e perdê-la é melhor que nunca ter tido nenhuma (coisa com a qual não concordo), mas é só minha imaginação.</div>
<div style="text-align: justify;">
Conheci Peter através de suas adaptações e, foi depois de crescer que, de fato, li o livro. Não sei dizer qual é o mais mágico, pois este é um comparativo muito injusto: a visão de uma criança e de um adulto. Uma coisa, porém,é certa: essa história toca meu coração em todos os níveis em que se apresente. Se antes acreditei tanto que tive a coragem, mesmo sem o pó mágico, de subir em um balcão e ensaiar um vôo; hoje escuto um "sininho", que chama minha atenção para uma parte de mim que parecia já estar guardada e inacessível. Sim, aqui ainda existe uma criança e, se depender de mim, ela não vai crescer.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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Video-curiosidades:</div>
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<br /></div>
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Não é possível, especialmente para mim, listar todas as adaptações dessa história mágicas. A quantidade de peças, filmes e séries em volta do menino que não queria crescer é incontável. Postarei aqui as três adaptações cinematográficas que fizeram minha infância mais feliz.</div>
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<br /></div>
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Para mim, a melhor adaptação (apesar de, como é típico da produtora, mudar uma ou outra coisa) é o filme "Peter Pan" de 1953 produzido pela Disney. Não é a primeira vez que posto um filme desta produtora aqui e, não importam o que digam, esses filmes marcaram minha infância profundamente, estando Peter Pan imensamente incluído, claro, e por isso eu sou super fã da Disney. Pronto, falei.</div>
<div style="text-align: justify;">
O segundo no ranking para mim é o filme "Hook- A volta do capitão Gancho", com Robbin Williams. Também muitos não gostam do autor, mas eu garanto que é um filme extremamente tocante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em terceiro, mais por causa dos cenários e efeitos especiais, o filme de 2003, dirigido por P. J. Hogan, "Peter Pan", que foi uma adaptação live-action do filme da Disney.<br />
Por último, indico o filme "Em busca da Terra do Nunca" para aqueles que quiserem saber um pouco mais sobre a história de como Barrie criou Peter Pan, embasado na família da qual ele era amigo. Com relação a este filme, devo afirmar que não sei até que ponto a veracidade dos fatos foi respeitada. Vale a pena de qualquer maneira.</div>
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<br /></div>Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-22314777821101524032012-02-05T00:00:00.000-03:002012-02-06T08:19:19.544-03:00"Ensaio sobre a cegueira", José Saramago<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em 1995, o grande escritor português, que ganhou o prêmio Nobel da Literatura em 1998, José de Sousa Saramago, escreveu um livro, o qual o próprio autor definiu da seguinte maneira: <span style="background-color: white; line-height: 19px;"><i>"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."</i> Esta obra intitula-se "Ensaio sobre a cegueira".</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 19px;">Um vírus desconhecido, capaz de cegar o ser humano instantaneamente, insere-se, de repente, na vida da humanidade. As pessoas que adoecem se "vêem" envoltas em uma claridade imensa e infinita, uma cegueira branca. Devido à rápida capacidade de propagação do vírus, os governantes chegam à conclusão de que a melhor maneira de tentar reverter a situação de "calamidade pública" é deixar os cegos e aqueles com suspeita de contaminação de "quarentena", como feito com a cólera e a febre amarela, mas, neste caso, um isolamento por tempo indeterminado. Os cegos 'encarcerados' são alertados de que o governo não irá interferir em nenhum acontecimento do local de reclusão: nem mortes, nem doenças, nem guerras farão com que os seres humanos assustados do lado de fora entrem para ajudar os doentes. A única coisa com que eles se comprometem é a entrega de comida (que, no entanto, é muito mal controlada, pulando refeições e sempre em quantidade não suficiente). Dentre nossos personagens principais, está a única mulher que não ficará "cega dos olhos" (e é importante atentar para esta expressão). Entretanto, o verdadeiro protagonista da obra é a cegueira da humanidade, que não é doença viral, mas, na verdade, psicológica.</span></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><img height="265" src="http://cinemagrafado.files.wordpress.com/2010/05/ensaio-sobre-a-cegueira-2.jpg" style="text-align: center;" width="400" />
</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 19px;">Uma pequena parcela dessa humanidade sem escuridão é instalada em um manicômio, onde é criado um novo tipo de sociedade, com novas regras e novas formas de governar. Os cegos "malvados", assim mesmo descritos no livro, tomam o poder a partir do controle da comida e utilizando-se de artifícios de violência e repressão, no caso representados por uma arma de fogo, obviamente temida pelos outros cegos que não tinham como se defender. É a involução da humanidade. Criam-se novas definições de moral e ética, de honra e decência. As pessoas mostram sua essencialidade animalesca diante da busca pela sobrevivência, nos expondo uma realidade que sempre estava ali, dissimulada através de ternos e gravatas, de uma intelectualidade de farsa e de um conhecimento inútil e descartável. O ápice desta mudança brusca de valores se dá com a requisição dos "cegos malvados" de que as mulheres de todas as camaratas fossem servir-lhes o corpo. A seguinte cena, a qual eu acho extremamente interessante, apesar de seu sentido triste e deplorável, resume grande parte da nova estrutura de vida a que aquela sociedade precisa habituar-se, onde coisas que para nós são indecentes e incorretas tornam-se a melhor opção:</span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; line-height: 19px;"></span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>"O primeiro cego começara por declarar que mulher sua não se sujeitaria à vergonha de entregar o corpo a desconhecidos em troca do que fosse, que nem ela o quereria </i></span><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>nem ele o permitiria, que a dignidade não tem preço, que uma </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>pessoa começa por ceder nas pequenas coisas e acaba por perder </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>todo o sentido da vida. O médico perguntou-lhe então que </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>sentido da vida via ele na situação em que todos ali se </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>encontravam, famintos, cobertos de porcaria até às orelhas, </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>roídos de piolhos, comidos de percevejos, espicaçados de </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"></i><br />
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<div style="display: inline !important;">
<i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>pulgas, Também eu não quereria que a minha mulher lá fosse, </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>mas esse meu querer não serve de nada, ela disse que está </i></i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"></i><br />
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<i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i>disposta a ir, foi a sua decisão, sei que o meu orgulho de h</i></i></div>
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<i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>omem, isto a que chamamos orgulho de homem, se é que depois </i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>de tanta humilhação ainda conservamos algo que mereça tal </i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>nome, sei que vai sofrer, já está a sofrer, não o posso evit</i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i><i>ar, mas é provavelmente o único recurso, se queremos </i></i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i><i>viver, Cada qual procede segundo a moral que tem, eu penso </i></i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>assim e não tenciono mudar de ideias, retorquiu agressivo o </i></div>
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</i></div>
</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>primeiro cego. Então a ra</i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i><i>pariga dos óculos escuros disse, Os outros não sabem quantas </i></i></div>
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</i></div>
</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i><i>mulheres há aqui, portanto você poderá ficar com a sua para </i></i></div>
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<i>seu exclusivo gasto, que nós os alimentaremos, a si e a ela, </i></div>
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<i>sempre quero ver como se irá sentir de dignidade depois, </i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>omo lhe vai saber o pão que nós lhe trouxermos, A quest</i></div>
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<i>ão não é essa, começou o primeiro cego a responder, a </i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>questão é, mas ficou com a frase no ar, na verdade não sa</i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>bia qual era a questão, tudo quanto ele havia dito antes não </i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>passava de umas quantas opiniões avulsas, nada mais que </i></div>
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<i>opiniões, pertencentes a outro mundo, não a este, o que ele </i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>deveria, isso sim, era levantar as mãos ao céu e agradecer a </i></div>
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</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>sorte de poderem ficar-lhe, por assim dizer, as vergonhas em </i></div>
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</div>
</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>casa, em vez de ter de suportar o vexame de saber-se sus</i></div>
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</div>
</i><i style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="display: inline !important;">
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<i>tentado pelas mulheres dos outros."</i></div>
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</div>
</i></div>
</div>
<i style="font-family: Verdana, sans-serif;">
</i></div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">É assim que, aos poucos, nossos personagens, guiados pelos instintos, entregam-se à sujeira, à hábitos grosseiros, à selvageria, levando o autor a tomar emprestado o zoomorfismo do naturalismo, demonstrando que os homens podem transformar-se em seres ainda mais selvagens que aqueles que chamamos animais (esquecendo-nos que também o somos) quando se trata de sua sobrevivência. Ao mesmo tempo, Saramago apresenta como as facilidades da nova era tornaram frágil e desamparado o "rei do mundo" quando lhe falta um dos sentidos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A nossa única personagem que consegue livrar-se da cegueira, de repente, sente-se tão cega quanto os outros. Mas uma cega com olhos, que pode ver todas as atrocidades que acontecem em sua volta, fazendo-a desejar ser igual aos outros, estar na mesma situação de debilidade. E envolta numa cegueira psicológica muito maior que a dos que estão junto a ela, ela assassina o chefe dos "cegos malvados".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">"Sim, matei-o eu, Porquê, Alguém teria de o fazer, e não havia mais ninguém, E agora, Agora estamos livres, eles sabem o que os espera se quiserem outra vez servir-se de nós, Vai haver luta, guerra, Os cegos estão sem pre em guerra, sempre estiveram em guerra, Tornarás a matar, Se tiver de ser. dessa cegueira já não me livrarei,"</span></i></div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Com esta passagem, o autor nos atenta para o fato de que o mundo sempre foi cego. De fato, os cegos, sentindo-se atacados, encontram a necessidade de defender-se. No entanto, o nosso mundo faz guerra quando pode resolver as coisas com o diálogo. A cegueira é ainda pior por possuirmos qualidade de vida e, consequentemente, capacidade de raciocínio. Afinal, é na necessidade do mundo do nosso livro que o raciocínio parece ficar bloqueado. Nossa personagem "assassina" considera-se ainda mais cega que os outros, por causa da atitude que tomou. É desta consciência que ela possui que o mundo carece. É através de alusões e metáforas à nossa realidade através de uma história aparentemente absurda que Saramago nos dá pautas de discussões e reflexões.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><img height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_Q6D5AhS-BzRsVWC1tbBvIM1uMeBpyaR-zrfh_hS8PqfSOqYYnntqncGg5-tsjz-c-N07LCj87Ib9oUiZ3vR6fnEH94wX9dV1zmxVDXj0cFPO1wygi8BMVo6vp0Ql0HephNEi5UwVFXN8/s400/ensaio.jpg" width="400" />
</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dos aspectos mais interessantes da obra só é perceptível quando o leitor se coloca no lugar dos personagens. A capacidade do autor de criar uma história a princípio fantástica e trazê-la para a realidade do ser humano, imaginando exatamente o que cada um faria nessas situações inesperadas e atrozes é impressionante. Ele nos leva a crer que não existe saída, que as decisões daquelas pessoas, das quais entramos na vida, é a mais correta diante do que elas estão vivenciando. A beleza de tudo isto é imaginar que os valores pregados no nosso mundo são completamente irrelevantes no que diz respeito ao que de fato é essencial na vida do homem. A única coisa ainda louvável diante desses destroços de irrealidade é a solidariedade, a generosidade e o carinho, ainda que seja amargo.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Outro aspecto importante da escrita deste autor sempre imprevisível é a constante aplicação de sua liberdade literária. Como pôde ser visto nos textos precedentes, os dois únicos artifícios de pontuação empregados são o ponto e a vírgula. Ainda assim, com a ausência de interrogações, exclamações, dentre outros, nós podemos compreender as entonações que nossos personagens enfatizam em cada fala, mostrando que a língua portuguesa não precisa ser tão complicada para ser compreendida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em todo caso, o objetivo do livro é também abrir nossos olhos para a nossa própria cegueira. A realidade atual fornece uma quantidade de informações imensurável. Com as publicidades na rua e na televisão e o advento da internet muitas coisas irrelevantes e descartáveis são atiradas através dos nossos sentidos no nosso cérebro e, se não sabemos filtrar o que recebemos do mundo, realmente acabamos por cegar. Ainda permito-me tentar inferir o motivo da brancura da cegueira de nossos personagens. Faço isso a partir da alusão às cores do arco-íris: a falta de cor nos leva ao preto, mas a mistura de todas as cores nos traz o branco. Essa cegueira, portanto, não vêm do fato de não conseguirmos enxergar, e sim de uma sobrecarga de visão, sem filtros, sem análise, sem entendimento. Assim, estamos cegos e alienados de tantas coisas importantes da vida, enquanto nossa atenção está voltada a futilidades passageiras e supérfluas.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Video-curiosidades:</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Em 2008, foi realizada uma adaptação cinematográfica da obra, que deve sua excelência em transmitir a realidade do livro ao diretor brasileiro Fernando Meirelles. Estrelaram Julianne Moore, Mark Ruffalo e Alice Braga. Com um elenco de peso e um diretor de grande competência, tudo que nosso autor afirmou foi: "estar tão feliz de ter visto o filme como estava quando acabou de escrever o livro" e que "agora conhecia a cara de suas personagens".</span></div>Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-22928866454615298752012-01-01T13:57:00.000-03:002012-01-02T15:14:59.925-03:00"Madame Bovary", Gustave Flaubert<br />
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Em 1857, nasce uma obra-prima singular do Realismo
francês. Escrito por Gustave Flaubert,<span class="apple-converted-space"> </span><i>"Madame
Bovary"<span class="apple-converted-space"> </span></i>expressa a
revolução na maneira de pensar do período. Polêmico e escandaloso no tempo em
que foi lançado, levou seu autor a julgamento, momento em que ele utilizou a famosa
frase <i>“Emma Bovary c’est moi”</i> (“Emma
Bovary sou eu).<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">O início do livro nos apresenta Charles, M. Bovary, um
homem pacato e de personalidade estável e passiva. Médico e casado, conhece
nossa protagonista, Emma, quando vai tratar de uma doença pela qual pai dela
havia sido afetado. Aos poucos, ele vai se apaixonando pela moça e, quando sua
esposa morre por infortúnio, ele casa-se com Emma, que passa, então, a ser a
nova madame Bovary. No entanto, um sentimento, que torna-se cada dia mais forte
com o decorrer do casamento, toma conta de nossa "anti-heroína": a
insatisfação. Sua vida e seu marido lhes parecem monótonos e muito distantes
dos romances "românticos" que ela costumava ler em sua juventude. Ela
desejava algo novo, uma paixão dilacerada e arrebatadora. E, em meio a este
desespero trazido pela falta de alegria e dinâmica em sua vida, ela conhece
Léon e Rodolpho. Pelo primeiro, um rapaz mais novo, ela apaixona-se e é
retribuída, mas ambas ética e moral não lhe permitem dar o passo da traição.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT-BR"><i></i></span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT-BR"><i>"Léon não sabia, quando saía da casa dela desesperado, que Emma se levantava logo a seguir para o ver na rua. Preocupava-se com o que ele fazia, espiava-lhe o aspecto do rosto, inventou uma história complicada como pretexto para lhe visitar o quarto. [...]<i></i></i></span><br />
<div style="display: inline !important;">
<span lang="PT-BR"><i><i><br /></i></i></span></div>
<span lang="PT-BR"><i><i>
</i></i></span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT-BR"><i> Mas, quanto mais emma tomava consciência do amor, mais o recalcava, para que não aparecesse e o fazer diminuir. Sentia o desejo de que Léon lhe adivinhasse o sentimento, e imaginava circunstâncias de acaso, catástrofes que pudessem contribuir para isso. O que a detinha era, sem dúvida, a inércia ou o receio, e também o pudor. Imaginava que o tinha repelido demasiado, que já não havia oportunidade e que tudo estava perdido. Também o orgulho, a satisfação de poder dizer: "sou virtuosa", e de olhar para o espelho assumindo poses de resignação, a consolava um pouco pelo sacrifício que acreditava estar fazendo.<br />Então, os apetites da carne, as cobiças do dinheiro e as melancolias da paixão, tudo se confundia num mesmo sofrimento, e, em vez de procurar afastar daí o pensamento, ainda mais se prendia ao mesmo, excitando-se à dor e procurando para isso todas as ocasiões. Irritava-se com um prato mal servido ou com uma porta entreaberta, lastimava-se pelo veludo que lhe faltava, pela felicidade que não tinha, por as suas aspirações serem demasiado elevadas e por a casa ser acanhada de mais.<br />O que a exasperava é que Charles não dava a impressão de suspeitar do seu suplício. A convicção que ele tinha de a fazer feliz parecia-lhe um insulto imbecil e a segurança que revelava a esse respeito, ingratidão. Por causa de quem se comportava ela tão escrupulosamente? Não era ele o obstáculo a toda a felicidade, o motivo de toda a desgraça, como que o bico da fivela a travar aquela complexa correia que por todos os lados a amarrava?<br />Então voltou contra ele todo o ódio acumulado pelos seus aborrecimentos e cada esforço que fazia para o reduzir servia apenas para o aumentar, pois esse esforço inútil ia acrescentar-se aos outros motivos de desespero e contribuía ainda para maior afastamento. A sua própria docilidade lhe causava revolta. a mediocridade doméstica incitava-a a fantasias luxuosas; a ternura matrimonial, a desejos adúlteros.</i></span> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<span lang="PT-BR"><i>Preferiria que Charles lhe batesse, para poder com mais justiça detestá-lo, vingar-se dele. Por vezes assustava-se com as atrozes conjecturas que lhe vinham à ideia; e era necessário continuar a sorrir, escutar as suas próprias repetições de que ele era feliz, fazer de conta que o era, dar a entender isso aos outros!<br />Enojava-se, entretanto, daquela hipocrisia. Tinha tentações de fugir com Léon para qualquer parte, muito longe, tentar um destino novo; mas logo se lhe abria na alma um abismo de confusão, cheio de negrume. "Ainda por cima, não me ama", pensava ela; "Qual vai ser o meu futuro? Que ajuda posso esperar, que consolação, que alívio?"</i></span></blockquote>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.historiasdecinema.com/wp-content/uploads/2010/04/minnelli-madam-de.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="221" src="http://www.historiasdecinema.com/wp-content/uploads/2010/04/minnelli-madam-de.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Ainda apaixonada por Léon, Emma conhece Rodolpho que
lhe impõe um amor predatório, completamente oposto ao sentimento fascinado que
Charles possui por sua esposa. Assim, Rodolpho acaba levando-a ao adultério.
Ou, a princípio, é a isso que somos levados a crer, tendo em vista que Emma,
por já estar fragilizada e sendo deliberadamente seduzida pelo rapaz, não seria
a grande culpada. Madame Bovary, então, tem sua primeira decepção quando decide
fugir de seu marido com Rodolpho, levando sua pequena filha Berthe. Ele, porém,
recua e lhe escreve uma carta acabando com tudo que havia entre eles. Essa é
uma das artimanhas do autor para colocar abaixo os mitos românticos, onde o
mocinho e a mocinha estão sempre dispostos a fazerem tudo para ficarem juntos. O
romance na vida real não é nem um pouco lírico ou altruísta. Um amor assim, que
não beire a monotonia do casamento de Charles e Emma é, acima de tudo, utópico.
as nossa protagonista, uma mulher banal, adepta do idealismo romântico, prefere
viver em confronto com a realidade, morando dentro de seus próprios sonhos
ordinários.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Tempos depois, ela reencontra León e, desta vez, eles
consumam sua paixão fulminante. Com o passar do tempo, Emma começa a perceber
algo que antes não esperava: todo o fulgor que ela sentia por seu amante vai se
desvanecendo e, mais uma vez, temos a confirmação da irrealidade do Romantismo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">No decorrer de tudo isso, madame Bovary vai se
afundando em grandes dívidas e, sem ter como pagar, ela comete um suicídio, que
é, na realidade, uma ironia: a morte por um motivo tão banal e ridículo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<span lang="PT-BR">
</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Ao longo da obra, a denúncia de todas as extensões
românticas vai se repetindo. Por exemplo, na cena demasiado conhecida dos
leilões agrícolas, o diálogo amoroso entre Emma e Léon é constantemente atrapalhado
pelos gritos do júri, que remetem às recompensas. Essa inclusão da trivialidade
no drama romântico suscita em um efeito de ironia irresistível.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Madame Bovary pode ser vista como uma esposa entediada
que torna-se adúltera ou como uma mulher que teve coragem de ultrapassar os
obstáculos que seu tempo impunha à sua liberdade para buscar o direito de ser
feliz. Na época em que veio ao conhecimento público, ao passo que foi motivo de
grande polêmica, foi uma espécie de heroína para as mulheres que não tinham a
coragem, nem o direito de lutar pelo que queriam.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Escrito em um período onde a burguesia estava no
poder, o livro tem um aspecto irônico e busca retratar a realidade em razão de
opor-se ao período romântico constava na literatura um pouco antes. Um dos
personagens ilustra esse fato é o farmacêutico Homais. Ele é o típico burguês
em busca de capital e prestígio, que renega qualquer tipo de enlace religioso e
coloca-se como defensor da ciência. Por causa dessas ironias, a obra, por
vezes, beira o cômico. Pode ser visto, de fato, como uma tragicomédia.
Acontecimentos realmente trágicos são colocados de maneira tão ridícula e
caricata que tornam-se cômicos. Da mesma maneira, certos momentos que poderiam
vir a ser extremamente tristes e dolorosos, são visualizados de modo científico
e medicinal: cenas de amputação e morte são retratadas de um âmbito
criticamente biológico, apresentado todas as moléstias do momento, como o
sangue que escorre, o vômito e as dores de maneira nada eufêmica. Assim, o que
poderia vir a ter para nós um caráter de tristeza ou depressão, busca mostrar
ao leitor o nojo humano, o aspecto decrépito do homem, o que,, de certa
maneira, manifesta a pequenez e fragilidade de um ser que acredita-se mais
importante que os outros, através da exposição da realidade crua.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<span lang="PT-BR"><img height="320" src="http://marciacl.typepad.com/.a/6a00d83467174c53ef013484236067970c-800wi" width="222" />
</span><br />
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">O
verdadeiro sentido do Realismo é expor a realidade passivamente, de maneira que
o leitor seja capaz de tirar suas próprias conclusões dos acontecimentos, sem
terceiras influências, como a do narrador. Por isso, sua narração possui um
estilo de precisão documentário, que, até certo ponto, é seguido por Flaubert. Diversas
vezes, porém, como já foi dito, ele se utiliza da sátira e da ironia, ambos
métodos nada indiferentes, além do discurso indireto livre, que, por si só,
induz o pensamento do leitor à concordância com o personagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Um fato
interessante com relação a <i>“Madame Bovary”
</i>que apenas o introduz ainda mais no movimento literário realista é que sua
história foi inspirada numa notícia de jornal. Nossa “verdadeira” Emma chamava-se
Delphine Delamare e era a esposa de um médico que, após entediar-se de seu
casamento, deixa seu marido, antes de suicidar-se, para que também ele não faça
o mesmo, tendo em vista que eles tem uma filha pequena para criar (que seria
nossa ‘Berthe’).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">A obra é
recomendável não apenas por sua grande importância neste impressionante
movimento literário, como também, em termos de estudo histórico e sociológico.
O estilo de escrita do autor é impressionante e as ironias aparentemente
despretensiosas, assim como as caricaturas exageradas em momentos
inesperados constroem uma leitura
interessante e mesmo divertida, dependendo do gosto do leitor, pois, antes de
captarmos o constante sarcasmo de Flaubert, podemos ficar horrorizados com
algumas cenas. É, de qualquer modo, uma leitura imperdível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Video-curiosidades:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Foram diversas as adaptações deste livro para o cinema e a televisão. Dentre as mais conhecidas estão:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Em 1933, Jean Renoir dirige o que seria o primeiro grande filme "Madame Bovary", com Max Dearly e Valentine Tessier.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Em 1949, chega a vez de Jennifer Jones, James Manson e Van Heflin estrelarem o filme de Vicente Minnelli.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span lang="PT-BR">Em 1975, uma minissérie é gravada com o mesmo tema, apresentando Francesca Annis, Tom Conti e Gabrielle Lloyd.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O diretor Claude Chabrou retoma a história em 1991, com Isabelle Huppert Jean-François Balmer e Christophe Malavoy encarnando os conhecidos personagens.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Finalmente, em 2000 Tim Fywell dirige um filme, cujos personagens são representados por Frances O'Connor, High Bonneville e Eile Atkins.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A figura de Emma Bovary, no entanto, é indissociável de todas as histórias de esposas adúlteras que surgiram posteriormente, como é o caso de Mrs. Robinson (<i>"A primeira noite de um homem", </i>1967) e tantas outras que fizeram ou não tanto sucesso.</div>Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-66672912787003834622011-12-04T22:00:00.000-03:002012-01-02T15:14:39.983-03:00"Meu Pé de Laranja Lima", José Mauro de Vasconcelos<div style="text-align: justify;">
"Meu Pé de Laranja Lima", publicado em 1968 foi escrito por um carioca de família nordestina e pobre, que cresceu na minha amada cidade Natal, no Rio Grande do Norte. O histórico do autor foi imprescindível para o sucesso do livro como exposição realista da vida de uma família simples, na visão de um menino, que perdeu seu direito de ser criança cedo demais.</div>
<div style="text-align: justify;">
O livro conta a história de Zezé, um garotinho de apenas cinco anos que morava com sua família em uma casa muito simples próximo à avenida Rio-São Paulo. Seu pai estava desempregado e sua mãe que trabalha desde muito cedo da manhã, chegando em casa bastante tarde, para sustentar Zezé e seus irmãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nosso protagonista era um menino muito esperto e inteligente e, no decorrer da leitura, vamos notando um grande amadurecimento nele, em razão de todos os acontecimentos dolorosos que se passam na sua vida. O grande xodó da vida de Zezé era seu irmãozinho caçula, mas ele também possuía outro irmão e algumas irmãs, todos mais velhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por causa das dificuldades financeiras da família, devidas principalmente ao desemprego do pai do nosso pequeno herói, eles tiveram que se mudar de casa, coisa que não agradou muito Zezé. Ao chegar na nova casa, no entanto, havia muitas árvores grandes e bonitas e ele logo animou-se para ficar com uma para si. Entretanto, cada um de seus irmãos tomou uma árvore como posse e só o que restou para Zezé foi um pequenino pé de laranja-lima. No início, ele ficou muito contrariado com o que lhe foi designado, mas depois ele descobriu que conseguia "falar" com seu pé de laranja-lima, que era a única árvore do mundo capaz de conversar com ele, e assim, ficou extremamente satisfeito. Minguinho era o nome carinhoso pelo qual ele chamava seu pé de laranja lima e era a ele que eram dadas todas as suas confissões, e era ele o procurado nos momentos que Zezé sentia-se sozinho ou injustiçado, ou quando ele havia sofrido algum tipo de violência, física ou psicológica.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por ser extremamente travesso, a família e os vizinhos de Zezé costumavam dizer que no Natal, em vez de nascer para ele o Menino Deus, nascia o menino diabo. Desta feita e em decorrência não apenas da sua má fama, mas das próprias peças que ele pregava constantemente em todos, ele apanhava muito tanto de familiares, quanto de pessoas de fora. E numa dessas vezes, ele apanhou muito mesmo de um português. Neste dia, ele sentiu um ódio tremendo pelo homem e jurou que, quando crescesse, ia matá-lo. Mas o destino é capaz de fazer-nos ter que engolir coisas que falamos e prometemos na euforia da raiva, pois o camarada destino consegue ser ainda mais danado que o próprio Zezé. Por isso mesmo, em um dia que Zezé ia para a escola com o pé quebrado, o mesmo português lhe ofereceu carona e ele, sem opção, acabou por aceitar. A partir daí, nasceu uma amizade tão linda, tão profunda, que Zezé começou a ficar mais comportado e bonzinho. O tal do português tão antes odiado era o único capaz de ceder ao menino o carinho e amor familiar que ele não encontrava dentro de casa. Assim, em certo ponto, ele pede ao português que o adote e seja seu pai, porque "sua família nem vai se importar, mas sim vai achar muito bom".</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOjjw6Q-Ac0POciBWRC3Mcr1bY9Vk1cC2Rr9IiN_AC3-T1s5vVGge1_5Dw0x1xs-eHL9Og3nuCshS1AWeQHR6Fm-tzmjARKVb36qjB-TmfeTSr6evdibc96QPiGakmSvCM5vWbai6ML2ks/s1600/meu-pe-de-laranja-lima.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOjjw6Q-Ac0POciBWRC3Mcr1bY9Vk1cC2Rr9IiN_AC3-T1s5vVGge1_5Dw0x1xs-eHL9Og3nuCshS1AWeQHR6Fm-tzmjARKVb36qjB-TmfeTSr6evdibc96QPiGakmSvCM5vWbai6ML2ks/s320/meu-pe-de-laranja-lima.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em parte, esta passagem denota o pensamento infantil de Zezé, ainda incapaz de compreender o porquê de tanto desamor em sua família. Sua mãe, que vivia para trabalhar, sem descanso e sem alternativa, para sustentar os filhos, quando chegava em casa, estava sempre exausta e incapaz de um gesto de carinho. Seu pai, sentindo a depressão inerente ao desemprego, era incapaz de dar suporte à sua própria família e, sequer, conseguir que os filhos ganhassem um presente, por mais simples que fosse, no Natal. Nesta situação, para que houvesse alegria e amor na família, tinha também de haver muita força para aguentar tanto sofrimento. Abaixo, uma passagem do livro que realmente nos faz refletir:</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>"— Totóca. </i></div>
<i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Fale. </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Será que a gente não vai ganhar nada, nada, de Papai Noel? </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Acho que não.</i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Diga sério, você acha que eu sou tão ruim, tão malvado como todo mundo </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>diz? </i></i></i></div>
</div>
</div>
<i>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Malvado, malvado, não. O que acontece é que você tem o diabo no </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>sangue. </i></i></div>
</div>
</div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Quando chega o Natal eu queria tanto não ter! Eu gostava tanto que antes </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>de morrer, uma vez na vida, nascesse o Menino Jesus em vez do Menino Diabo, pra </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>mim. </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Quem sabe se ano que vem... Por que você não aprende e não faz como </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>eu? </i></i></div>
</div>
</div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E como é que você faz? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Não espero nada. Assim a gente não fica desapontado. Mesmo o Menino </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Jesus não é essa coisa tão boa que todo mundo fala. Que o padre conta nem que o </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Catecismo diz... </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Fez uma pausa e ficou indeciso se contava o resto do que pensava ou não. </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E como é então? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Bem, vamos dizer que você foi muito levado, não mereceu. Mas Luís? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— É um anjo. </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E Glória? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Também. </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E eu? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Bem, você às vezes é... é... meio pegador das minhas coisas, mas é muito </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>bonzinho. </i></i></div>
</div>
</div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E Lalá? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Bate com muita força, mas é boa. Um dia vai costurar minha gravata de </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>laço. </i></i></div>
</div>
</div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E Jandira? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Jandira é daquele jeito, mas não é ruim. </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E Mamãe? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Mamãe é muito boa; só me bate com pena e devagar.</i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— E Papai? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Ah! Esse eu não sei. Ele nunca tem sorte. Eu acho que ele deve ter sido </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>como eu, o ruim da família. </i></i></i></div>
</div>
</div>
<br /></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Pois então. Todo mundo é bom na família. E por que o Menino Jesus não </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>é bom pra gente? Vai na casa do Dr. Faulhaber e veja o tamanho da mesa cheia de </i></i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>coisas. Na casa dos Villas-Boas, também. Na casa do Dr. Adaucto Luz, nem se </i></i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;">
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>fala... </i></i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></i></div>
<br /></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>Pela primeira vez eu vi que Totóca estava quase chorando. </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Por isso que eu acho que o Menino Jesus só quis nascer pobre para se </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>mostrar. Depois Ele viu que só os ricos é que prestavam... Mas não vamos mais </i></i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>falar disso. Pode ser até que o que eu falei seja um pecado muito grande.</i></i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;">
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Ele ficou tão abatido que nem quis mais conversar. Nem mesmo queria </i></i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></i></div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>levantar os olhos do corpo do cavalo que alisava agora. </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>* * * </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>Foi uma ceia tão triste que nem dava vontade de pensar. Todo mundo comeu </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>em silêncio e Papai só provou um pouco de rabanada. Não quisera fazer a barba </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>nem nada. Nem foram à Missa do Galo. O pior era que ninguém falava nada com </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>ninguém. Parecia mais o velório do Menino Jesus do que o nascimento. </i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"> </span></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></div>
</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<i>[...]</i> </blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>Mamãe foi para o quarto. Garanto que ela estava chorando </i><i><i>escondido. E todos estavam com vontade de fazer o mesmo.</i><i> </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>[...]</i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"> </span></i></div>
<i>
</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>O mais triste é que o sino da igreja encheu a noite de vozes felizes. E alguns </i><i><i>foguetes se elevaram aos céus, para Deus espiar a alegria dos outros. </i></i><i><i>Quando voltamos para dentro, Glória e Jandira lavavam a louça usada e </i></i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Glória tinha os olhos vermelhos como se tivesse chorado doído. </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Disfarçou e disse para Totóca e eu: </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></div>
<i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Está na hora de criança ir para a cama. </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>Ela falava isso e olhava para a gente. Ela sabia que naquele momento não </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>havia criança mais ali. Todos eram grandes, grandes e tristes, ceando a mesma </i></i></i></div>
</div>
<i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>tristeza aos pedaços. </i></i></i></div>
</div>
<i><i style="text-align: -webkit-auto;">
</i></i></div>
<i>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>[...]</i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"> </span></div>
</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>Quando toda a casa estava às escuras eu perguntei </i><i><i>baixinho: </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Tava boa à rabanada, não estava Totóca? </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Nem sei. Não provei. </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Por quê?</i></i></div>
<i>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Fiquei com uma coisa entalada no gogó que não passava nada... Vamos </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>dormir. O sono faz a gente esquecer tudo. </i></i></div>
</div>
</div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>Eu me levantara e fazia barulho na cama. </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Aonde você vai, Zezé? </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Vou botar meus tênis do lado de fora da porta. </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Não ponha, não. É melhor. </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Vou pôr, sim. Quem sabe, se não vai acontecer um milagre. Sabe, Totóca, </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>eu queria um presente. Um só. Mas que fosse uma coisa novinha. Só pra mim... </i></i></div>
</div>
</div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>Ele virou para o outro lado e enfiou a cabeça embaixo do travesseiro.</i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"> </span></div>
</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
</div>
<i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>* * * </i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"> </span></i></div>
<i>
</i></blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>Mal acabei de acordar e chamei Totóca. </i></div>
<i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Vamos ver? Eu digo que tem. </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Eu não iria ver. </i></i></div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Pois eu vou. Abri a porta do quarto e os sapatinhos tênis estavam vazios </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i><i style="text-align: -webkit-auto;"><i>para a minha decepção. Totóca aproximou-se limpando os olhos. </i></i></i></div>
</div>
</div>
<i>
</i><i></i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><i>— Não falei? </i></i></div>
<i>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>Uma mistura de tudo criou-se na minha alma. Era ódio, revolta e tristeza. </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Sem poder me conter exclamei: </i></i></div>
</div>
</div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>— Como é ruim a gente ter pai pobre!... </i></div>
</i><i><div style="text-align: justify;">
<i>Desviei meus olhos do tênis para uns tamancos que estavam parados à minha </i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>frente. Papai estava em pé nos olhando. Seus olhos estavam enormes de tristeza. </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>Parecia que seus olhos tinham crescido tanto, mas crescido tanto que tomavam toda </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"></i><br />
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i style="text-align: -webkit-auto;"><i>a tela do cinema Bangu. Havia uma mágoa dolorida tão forte nos seus olhos que se </i></i></div>
</div>
<i style="text-align: -webkit-auto;">
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"><div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i>ele quisesse chorar não ia poder. Ficou um minuto que não acabava mais nos </i></div>
</div>
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"><div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i>fitando, depois em silêncio, passou por nós. Estávamos estatelados sem poder dizer </i></div>
</div>
</i><i style="text-align: -webkit-auto;"><div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<div style="display: inline !important;">
<i>nada. Ele apanhou o chapéu sobre a cômoda e foi de novo para rua."</i></div>
</div>
</i></div>
</i></blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Um certo dia, Zezé recebe a notícia de houve um grande acidente com o trem Mangaratiba, que passa próximo da estrada Rio-São Paulo, e o carro do português, o que significava que seu grande refúgio, seu melhor amigo, nunca mais estaria perto dele. Ao mesmo tempo, dá-se a notícia de que será cortado o pé de laranja-lima. Zezé havia ficado doente de tristeza pela morte de seu amigo, mas sua família pensa que ele está triste por perder seu Minguinho. E assim, apresenta-se uma incompreensão dos adultos do que está na mente das crianças. Muitas vezes, os mais velhos pensam que os pequenos não compreendem nada e, no entanto, a compreensão deles está muito além do imaginável. No caso de Zezé, essa compreensão já ultrapassava os limites de uma criança comum, pois a força das circunstâncias havia, muito cedo, lhe tirado o direito de ser o que, de fato, ele era. Na passagem seguinte, compreendemos, afinal, que, se no início o livro parecia de fato se tratar da história de amizade entre o menino e a árvore, ao fim, a árvore torna-se algo ainda mais profundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<blockquote class="tr_bq">
<i>"— Depois tem mais. Tão cedo não vão cortar o seu pé de Laranja Lima. Quando o cortarem você estará longe e nem sentirá.<br />Agarrei-me soluçando aos seus joelhos.<br />— Não adianta, Papai. Não adianta... <br />E olhando o seu rosto que também se encontrava cheio de lágrimas murmurei como um morto:<br />— Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima."</i> </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Ao mesmo tempo que ficamos indignados com a família de Zezé pela maneira como tratam o menino e pela sua incompreensão de que uma criança como ele não faz certas coisas por maldade, mas por falta de entendimento, entendemos que em uma situação de desespero como a deles, a capacidade de parar para refletir diminui e sentimos pena. Até porque, no fundo, sabemos que existe muito amor dos pais para os filhos e vice-versa, mas, por mais triste que possa parecer essa realidade, amor não põe mesa.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Com certeza, devemos ter a consciência de que dinheiro não está nem perto de ser uma das coisas mais importantes da vida, mas é muito fácil dizer isso quando se tem o suficiente e ainda mais quando se tem de sobra. Entretanto, é preciso atentar para o fato de que sem a obtenção das necessidades básicas, nenhum ser humano consegue ser feliz e, infelizmente, o que proporciona a capacidade de ter alimento na mesa, um lugar para viver e mesmo um pouco de lazer (como um brinquedo de Natal) é o dinheiro. Confesso que estas são algumas das concepções que mudaram em mim após a leitura deste livro. Não podemos recriminar a atitude do outro sem conhecer a fundo sua realidade, sua história. O mundo deste livro é extremamente real e atemporal, apesar de se passar em um período e lugar específicos. De minha parte, por ser uma realidade bastante distante da que vejo no cotidiano, eu tive que abrir meu coração e minha alma para tentar compreender todos os sentimentos que se passam em cada um dos personagens. Não é fácil não acusar a família de Zezé de desleixada e com falta de amor. Da mesma maneira, é difícil entender como Zezé pode preferir ficar com um estranho qualquer que com a própria família, escolher uma árvore como grande amigo e confidente, por haver uma necessidade de refúgio para todos os seus temores. Mas, abrindo nossos olhos para ver com mais clareza, somos capazes de perceber tudo isso e crescemos como seres humanos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Indico este livro a todos, sem exceção. Um livro que, por nos mostrar a dura realidade da vida através de olhos infantis, pode parecer escrito para crianças, mas que tem uma profundidade tamanha que não são todos os adultos que são capazes de compreender. O que eu recomento é tentar, pois quando abrimos nosso coração, este nos emociona com a história de um menino que aprende tudo cedo demais: não apenas a dor e a ternura, como também a saudade e o carinho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Video-curiosidades:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://oglobo.globo.com/fotos/2011/01/11/11_MHG_laranjalima.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="204" src="http://oglobo.globo.com/fotos/2011/01/11/11_MHG_laranjalima.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>"Meu Pé de Laranja Lima", 2011</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1970, a obra foi adaptada para os cinemas, com direção de Aurélio Teixeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1980, uma telenovela da Band contava a história da obra. Esta era uma regravação da telenovela da rede Tupi que havia sido gravada 10 anos antes.<br />
Em 1998, mais uma vez a Band reproduziu a telenovela.</div>
<div style="text-align: justify;">
Agora, em 2011, mais um longa-metragem é criado, dessa vez dirigido por Marcos Bernstein, para matar as saudades da geração que hoje tem por volta de 50 anos e, também, arrebatar as novas gerações com essa história que é linda e comovente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-9566719641181778812011-11-07T09:09:00.000-03:002011-11-07T09:23:21.631-03:00"Emma", Jane Austen<div style="text-align: justify;">
Uma das mais famosas obras de minha amada escritora, Jane Austen, foi publicada em 1815 e é entitulada "Emma". As críticas à sociedade da época, já encontradas em obras anteriores da autora, são, neste romance, enfatizadas, em decorrência de um amadurecimento de Austen como mulher e como escritora.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os contrastes na personalidade de nossa protagonista fizeram com que Austen, antes do lançamento do seu livro, fizesse a seguinte afirmação: "Eu vou criar uma heroína, a qual ninguém além de mim vai gostar". Os contrastes de sua personalidade surgem desde sua grande compaixão pelos mais necessitados até sua constante defesa pela divisão de classes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Algo que pode ser facilmente observado nesta, que é a obra-prima de Austen, em contraste com seus romances anteriores, é o fato de ela ser bastante rotineira. Particularmente, não me apaixonei pelo livro até conhecer a verdadeira intenção da autora, pois, por ser essencialmente embasado em rituais do cotidiano, por vezes, beira o tédio. Mais que em qualquer outro livro, em "Emma", a autora demonstra a habilidade de delinear um retrato realístico da sociedade, expondo os desejos e as debilidades dos habitantes da pequena cidade de Highbury, na Inglaterra, os quais possuem a irritante tendência de apontar defeitos uns nos outros. Apresenta também as rivalidades, pretensões, hierarquias e acontecimentos destes personagens de uma maneira tão convincente que dificilmente encontramos um trecho da história que não pudesse se passar na vida real do período em que foi escrito.É difícil para o leitor enxergar quando a realidade acaba e começa a ficção.</div>
<div style="text-align: justify;">
É interessante notar que as paixões que surgem no final da trama são praticamente imperceptíveis durante o decorrer dela. O leitor atento pode até tentar apostar em um outro casal e acertar, mas a escolha dos casais que nos são apresentados ao fim da trama pode ser considerada quase aleatória, o que é feito quase que propositalmente pela autora.</div>
<div style="text-align: justify;">
O livro não gira em torno do romance entre casais, pois a intenção de Austen era nos apresentar personagens, cujas vidas são vazias de paixão e preenchidas, em seu lugar, por fofocas e picuinhas. Desta maneira, não suspiramos de encanto quando lemos "Emma", como leitores de livros como "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com/2010/07/orgulho-e-preconceito-jane-austen.html">Orgulho e Preconceito</a>" e "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com/2011/04/razao-e-sensibilidade-jane-austen.html">Razão e Sensibilidade</a>" podiam esperar (e eu me incluo nesta lista). Para penetrar na história, portanto, temos de aprender a nos divertir com a confusão de sussurros e boatos, inerentes à fictícia cidade de Highbury.<br />
<div style="text-align: center;">
<img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_WUOR3KlK6gjvvZegzekK2ObaMkDXvbXCutY89WAz8xmG-c_XRVCEShUe4xTOTA8c_NRTGnocj6sevmcruHjjcv8PHDDJfk6sjHH2nxAmyqj4_nFRNn6EcgHC3b_EAV_co40Sfeqbf3Q/s400/emma.jpg" /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Logo no princípio da leitura, podemos sentir tudo que vai se passar no decorrer do livro. A Srta. Woodhouse logo demonstra sua mania de opinar sobre todas as coisas, que, no decorrer do livro, torna-se algo muito familiar ao leitor. O casamento de Miss Taylor, antiga tutora de Emma Woodhouse, dá início à trama. Nossa heroína, por imaginar-se a responsável pela prosperidade da união, demonstra seu desejo por continuar em seu papel de casamenteira. O Sr. Knightley nos mostra que está sempre atento a cortar os excessos de nossa linda e inteligente, porém, por vezes, iludida (ou sonhadora) e incômoda, protagonista. Uma vez que os personagens principais, com suas devidas características, são introduzidos, eles não saem muito do seu curso de personalidade, ou seja, não são personagens <i>cíclicos</i>. Outros indivíduos são acrescentados à trama somente para ajudá-los a afirmar seus caráteres imutáveis. Assim, muitos personagens passam pela história sem afetá-la e sem levar o leitor a grandes emoções, e, ao final, a maior parte deles acaba feliz em um bom casamento, como é típico de nossa querida Jane.</div>
<div style="text-align: justify;">
Harriet Smith, uma moça ingênua que surge na cidade, é "adotada" por Emma, que pretende introduzi-la no que ela considera "uma boa sociedade". Através das instruções da Srta. Woodhouse, Harriet alterna-se entre paixões impróprias e mal advertidas e um vazio emocional absurdo, de maneira autômata, ou seja, sem pensar agir por si mesma. Ela é, na realidade, o tipo de amiga que Emma sempre quis ter para sentir que possui o controle de todos os acontecimentos: alguém que nunca reclama e nunca discute, sempre acreditando que o que nossa protagonista diz é a verdade absoluta. Apesar de convencer a si mesma da propriedade e sabedoria de suas ações, Emma não consegue ver que está frequentemente enganada, apesar das tentativas de Knightley de dissuadí-la disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda, porém, que esqueçamos o foco principal da história, que são as intermináveis tentativas vãs de nossa protagonista de fazer os outros caírem em suas "armadilhas de amor", ainda podemos nos divertir com a maneira com que os habitantes de Highbury conspiram em passar o resto de suas vidas se desentendendo uns com os outros.</div>
<div style="text-align: justify;">
O primeiro caso de incompatibilidade na formulação de casais de nossa Emma surge quanto ela força Harriet a se apaixonar pelo Sr. Elton, ao passo que este ama a própria Srta. Woodhouse. O conceito de alguém ser <i>encorajado </i>a amar é uma coisa, mas a maneira ridícula com que Emma tenta convencer Harriet de que ela está tomando suas próprias decisões é absurda. O pior de toda essa embaralhamento emocional é que Harriet acredita que suas opiniões e ações são autônomas.</div>
<div style="text-align: justify;">
O romance possui um conhecimento profundo do caráter feminino e apresenta, com severidade, todas as falhas e debilidades que este possui. Ao mesmo tempo que nossa heroína mostra-se bela, sagaz e charmosa, vemos que ela possui um lado insensato ou, simplesmente, tolo, vaidoso, fútil e ilusório. Austen, no entanto, é capaz de nos mostrar sua criação com todos seus defeitos e, ainda assim, fazer-nos amá-la, enquanto que por outros personagens, como a Sra. Elton, que possui muitos dos defeitos da própria Emma, sentimos desprezo. A autora foi muito ousada em não fazer nenhum personagem completamente amável e, ao mesmo tempo, é por essa razão que a vida real está tão perfeitamente exposta neste livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Emma deve, com certeza, ser, em toda a literatura, o único exemplo de alguém que não faz nada, ainda que não intencionalmente. No entanto, nós, leitores, a perdoamos, porque, mesmo que suas fantasias acabem por machucar os sentimentos de outros, ela está tentando, com todas as suas forças, viver os delírios fictícios de sua mente. Uma pessoa que não ama o mundo das fantasias não deve ler essa obra-prima de Austen.<br />
A autora opõe-se a fórmula pré-estabelecida dos romances de uma maneira geral, no momento em que permite o triunfo de uma heroína egoísta e mimada, sem insistir que uma lição de moral lhe seja dada. A única coisa que ela parece "aprender" é que, apesar de seu desejo inicial de permanecer solteira para sempre, por fim, ela percebe que precisa de um marido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<img height="266" src="http://www.freewebs.com/janeaustenworld/photos/Emma%201996/emma60b.jpg" width="400" /></div>
No decorrer da trama, nosso subconsciente tende a se perguntar "quem será a próxima paixão de harriet" ou "por quem Frank Churchill estará realmente apaixonado". Apesar destes relacionamentos possuírem um caráter quase infantil diante de romances românticos, eles demonstram a real interação entre homens e mulheres quando estes não sabem nada sobre as verdadeiras intenções do outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
No século XIX, o matrimônio era tão importante que sua busca é pauta de preocupação e urgência. Por esse motivo, mesmo diante do grande do número de casais formados ao final do romance, muitos por força da comodidade ou interesse, apenas um deles possui perceptível amor romântico: o de Jane Fairfaix e Frank Churchill. O amor que Knithley sente por Emma possui um tom paternalista, ainda que seja bastante afetuoso. Podemos facilmente prever que seu papel de anjo guardião permanecerá imutável após o casamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto em outros romances, o amor é destruidor e capaz de mudar vidas, neste livro, ele é apenas uma maneira trivial de se passar os dias. Percebemos como as pessoas são tolas no que diz respeito às possibilidades do amor: facilmente enganadas, inconstantes e vaidosas, muitas vezes buscando não o amor, mas o status, o bom posicionamento diante da sociedade. A autora foi bem honesta neste sentido ao escrever a obra e é surpreendente que, apesar de todas essas verdades tão inconstantemente reveladas e até um pouco dolorosas, o livro tenha tornado-se duradouramente popular.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ao fim, por tanto, como o título sugere, este é apenas um livro sobre Emma Woodhouse: um estudo da imperfeição, uma história sobre um doce <i>nada</i>. Se há um comparativo que pode encaixar-se perfeitamente no significado deste livro, ei-lo: enquanto que outros romances buscam dar-nos ideais no lugar de pessoas, este nos dá pessoas, com todos os seus trejeitos e imperfeições. Contemporâneas de Austen, como Mary Shelley (escritora de<span class="apple-converted-space"> </span><i>Frankestein</i>) tentavam desafiar os homens utilizando-se de seus próprios jogos sobre ciência e religião, ao passo que nossa autora buscou ainda mais expor a essência da mulher de sua época, ou seja, como são as pessoas, de fato. Ela escreveu um livro que somente uma mulher poderia escrever, mas que todos, inclusive os homens, deveriam ler.<br />
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Video-curiosidades:<br />
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São muitas as adaptações desta obra tão magnífica em sua simplicidade rotineira.<br />
Séries de televisão mais aintigas sobre a obra foram apresentadas em 1948 e em 1972.<br />
Em 1995, o filme <i>Clueless</i>, ou, em português, <i>As patricinhas de Beverly Hills</i>, trouxe uma modernização da trama, ou seja, uma adaptação teen. Diferente de outras modernizações, nesta podemos facilmente perceber cada um dos personagens com suas respectivas características bem enfatizadas. Apesar de ser, a príncipio, um filme bobo de adolescentes, ele remete com ênfase à verdadeira essência do livro de Austen. Afinal, onde há mais fofocas, boatos e sussurros que no mundo da high school americana? Eu, particularmente, posso afirmar que adorei o filme na época que assisti (o que já faz um tempo). Outras séries americanas posteriores e mesmo atuais, mesmo sem a intenção, acabam, em sua futilidade, remetendo a uma das maiores escritoras de todos os tempos.<br />
Em 1996, um filme, estrelando Gwineth Paltrow como Emma, trouxe ao cinema uma das melhores adaptações da trama, que tornou-se, por ser menor e, consequentemente menos cansativa, um pouco mais interessante que o próprio livro. Muitos díálogos são mantidos e as características dos personagens, bem como os acontecimentos mais importantes são muito bem estabelecidos no filme, sem mais delongas e excessos.<br />
Ainda no ano de 1996, uma série de TV foi produzida, em que Kate Beckinsale fazia o papel de nossa adorada protagonista. Em 2009, foi a vez de Romola Garai introduzir-se no papel principal.<br />
Recentemente, em 2010, uma comédia romântica indiana trouxe o tema à tona mais uma vez, com o filme <i>Aisha</i>, mais uma vez nos dando uma versão moderna do livro.<br />
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Estas são apenas algumas das adaptações existentes, que são muitas e variadas.<br />
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<span lang="PT-BR" style="color: black; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
</div>Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-422584857103098956.post-90352258721690445672011-10-02T12:53:00.000-03:002011-10-02T12:59:32.695-03:00"Cem Anos de Solidão", Gabriel Garcia Márquez<div style="text-align: justify;">Publicado em 1967, "Cien Años de Soledad" ("Cem anos de solidão") é o segundo e uma das mais aclamadas obras do ganhador do prêmio Nobel da literatura, Gabriel Garcia Márquez.</div><div style="text-align: justify;">Com a mesma sintonia realística do seu último romance, já aqui postado, "<a href="http://literaturaparaasobremesa.blogspot.com/2010/07/o-amor-nos-tempos-de-colera-gabriel.html">El amor en los tiempos del cólera</a>", e, no entanto, possuindo um caráter hiperbólico a ponto de aprofundá-lo na fantasia, o livro pode ser interpretado como uma síntese da história da humanidade.</div><div style="text-align: justify;">Conta a história de uma família, de geração em geração, desde sua chegada e fundação da remota e fictícia cidade chamada Macondo até sua completa extinção, com a morte dos últimos membros da família.</div><div style="text-align: justify;">O romance é muito rico em detalhes e buscar interpretá-lo iria reduzir o gigantesco leque de perspectivas, descobertas e mensagens que este transmite. Há um grande número de personagens, cujas histórias se entrelaçam, surgem e desvanecem a cada geração. Nossos muitos protagonistas (e, ao mesmo tempo, coadjuvantes) possuem os caráteres mais diversos. Uns são caricaturas dos seres humanos que nós conhecemos, outros são tão diferentes de qualquer pessoa já vista que é difícil acreditar que exista alguém assim. Mas, como é comum das famílias, percebemos um estereótipo nos seus integrantes, traços hereditários que, de uma maneira ou outra acabam por convergir em um ponto forte na personalidade da grande maioria: a <i>solidão</i>. É aí que encontramos a justificativa para o título de um livro que retrata a história de uma família tão grande que, em todas as gerações, possui muitos componentes (com exceção das gerações finais) convivendo juntos, inúmeras festas e grandes banquetes.</div><div style="text-align: justify;">É um livro que apresenta os devaneios do homem, desde a lúcida loucura do primeiro José Arcadio Buendía até a história de Rebeca, a órfã que comia areia e cal de paredes.<br />
<div style="text-align: center;"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtjMFfLphMr7mMzSFlfaYB2xqsD4RVgLENhYvyGJRnkOeuEAwQ3OiirSfACbj4Rvmp40WQ0g0YndmJp8HNTn8YHj2VKY1tXOhIt826XlQfDhiaUM80Mshla-F7Rj4E5KcYW2AepNxFVjw-/s1600/cem-anos.jpg" /></div></div><div style="text-align: justify;">As marcas de sofrimento das pessoas tornam-se físicas, palpáveis, fazem com que elas se tranquem em um mundo só delas. São muitos os exemplos dessa afirmação, mas a primeira Amaranta, que carrega eternamente uma atadura preta representativa de sua tristeza pela morte de Pietro Crespi é uma boa amostra.</div><div style="text-align: justify;">Uma coisa torna-se vulgar ao leitor na narrativa, não por seu significado real, mas por sua naturalmente constante repetição no decorrer de cem anos: a morte.</div><div style="text-align: justify;">A existência da família toma um caráter de parábole invertida (permita-me, matematicamente, afirmar), visto que inicia-se de um nada, aos poucos enchendo-se de glórias, atinge seu auge em determinado ponto, onde todos tomam conhecimento de sua existência, e volta a decair, entrando no esquecimento.</div><div style="text-align: justify;">Um ponto muito forte que o livro aborda e muito me interessou é o fato de que certos acontecimentos que provocaram um extermínio de três mil homens na cidade são, através de artimanhas políticas, completamente apagados da memória da população e os poucos que conhecem e afirmam a ocorrência real dos fatos são tidos como loucos. Os livros de geografia e histórica desconhecem os fatos, o que acarreta na ignorância também de gerações futuras. Essa passagem é extremamente verossímil a qualquer realidade da humanidade, em qualquer tempo.</div><div style="text-align: justify;">A passagem a seguir não é destacada por mim, mas por minha paixão pela literatura, comum à do personagem que a compõe.</div><blockquote><div style="text-align: justify;"><i>"Em compensação, não houve poder humano capaz de persuadi-lo a não levar os três</i></div><i>caixotes quando regressou à sua aldeia natal, e soltou impropérios cartagineses</i><i> contra os inspetores da estrada de ferro que tentavam mandá-los como carga, até que conseguiu ficar com eles no vagão de passageiros. “O mundo terá acabado de se foder”, </i><i>disse então, “no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no </i><i>vagão de carga.” Isso foi a última coisa que o ouviram dizer."</i></blockquote><div style="text-align: justify;">Abaixo, apresento uma árvore genealógica da família (que não está com uma visualização muito boa, mas é só clicar na figura), que seria de grande ajuda para melhor localização dos fatos e dos personagens durante a leitura do livro:</div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><img alt="Ficheiro:Buendia.gif" height="206" src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/99/Buendia.gif/800px-Buendia.gif" width="400" /></div></div><div style="text-align: justify;">Dentre tantas outras artimanhas, o livro apresenta as evoluções tecnológicas de um centenário, bem como suas involuções, como já afirmei com o comparativo da parábola. A história inicia-se quando as coisas não possuíam sequer um nome e passa pela chegada do telefone.</div><br />
<blockquote><div style="text-align: justify;"><i>"O público, que pagava dois centavos para partilhar das vicissitudes dos</i></div><i>personagens, não pôde suportar aquele logro inaudito e quebrou as poltronas. O </i><i>alcaide, por insistência do Sr. Bruno Crespi, explicou num decreto que o cinema era </i><i>uma máquina de ilusão que não merecia os arroubos passionais do público. Diante da </i><i>desalentadora explicação, muitos acharam que tinham sido vítimas de um novo e </i><i>aparatoso negócio de cigano, de modo que optaram por não voltar ao cinema,</i><i>considerando que já tinham o suficiente com os seus próprios sofrimentos para chorar </i><i>por infelicidades fingidas de seres imaginários. Alguma coisa de semelhante aconteceu </i><i>com os gramofones de manivela que as alegres matronas da França trouxeram, em </i><i>substituição aos antiquados realejos, e que tão profundamente afetaram por algum </i><i>tempo os interesses da banda de música. No princípio, a curiosidade multiplicou a </i><i>clientela da rua proibida, e soube-se até de senhoras respeitáveis que se disfarçaram de </i><i>malandro para observar de perto a novidade do gramofone, mas o observaram tanto e </i><i>de tão perto que muito rapidamente chegaram à conclusão de que não era um moinho </i><i>de brinquedo, como todos pensavam e como as matronas diziam, mas um truque </i><i>mecânico que não podia se comparar com uma coisa tão comovedora, tão humana e tão </i><i>cheia de verdade cotidiana como uma banda de música.</i> </blockquote><blockquote style="text-align: justify;"><i> [...] </i><i>Era como se Deus </i><i>tivesse resolvido pôr à prova toda a capacidade de assombro e mantivesse os</i><i>habitantes de Macondo num permanente vaivém do alvoroço ao desencanto, da dúvida </i><i>à revelação, ao extremo de já ninguém poder saber com certeza onde estavam os</i><i>limites da realidade"</i></blockquote><br />
<div style="text-align: justify;">O último personagem a desaparecer do mapa é Aureliano Babilônia. Seu sobrenome, acredito eu, como tudo nos livros do aclamadíssimo Gabriel, não é um mero acaso. Ele remete aos Jardins da Babilônia, dos quais tanto escutamos falar e, no entanto, não há evidências de sua existência.</div><div style="text-align: justify;">O capítulo final do livro é, com absoluta certeza o mais interessante, talvez por ser mais explicativo. Ele é constitui a parte feliz da história de Aureliano da Babilônia, fazendo uma retrospectiva de todos os contextos marcantes da família (que não são parcos) e decifrando o enigma dos pergaminhos deixados por Melquíados (cigano que surge logo no início da obra e toma grande importante em toda sua duração por causa de seus ensinamentos).</div><blockquote style="text-align: justify;"><i>"Naquele Macondo esquecido até pelos pássaros, onde a poeira e o calor se fizeram tão tenazes que dava trabalho respirar, enclausurados pela solidão e pelo amor e pela solidão do amor numa casa onde era quase impossível dormir por causa do barulho das formigas ruivas, Aureliano e Amaranta Úrsula eram os únicos seres felizes, e os mais felizes sobre a terra.</i></blockquote><blockquote style="text-align: justify;"> <i>[...]</i></blockquote><blockquote style="text-align: justify;"><i>Entretanto, as notícias se foram fazendo pouco a pouco tão </i><i>incertas, e tão esporádicas e melancólicas as cartas do sábio, que Aureliano se </i><i>acostumou a pensar neles como Amaranta Úrsula pensava no marido, e ambos ficaram </i><i>boiando num universo vazio, onde a única realidade cotidiana e eterna era o amor </i></blockquote><br />
<blockquote style="text-align: justify;"> <i>[...]</i></blockquote><blockquote><div style="text-align: justify;"><i>Muitas vezes foram </i><i>acordados pelo tráfego dos mortos. Ouviram Úrsula lutando contra as leis da criação </i><i>para preservar a estirpe, e José Arcadio Buendía procurando a verdade quimérica dos </i><i>grandes inventos, e Fernanda rezando, e o Coronel Aureliano Buendía seembrutecendo com os enganos da guerra e os peixinhos de ouro, e Aureliano Segundo </i></div><i>agonizando de solidão no aturdimento das farras, e então aprenderam que as </i><i>obsessões dominantes prevalecem contra a morte e tornaram a ser felizes com a </i><i>certeza de que eles continuariam a se amar com as suas naturezas de fantasmas, muito </i><i>depois de que as outras espécies de animais futuros arrebatassem dos insetos o paraíso </i><i>da miséria que os insetos estavam acabando de arrebatar dos homens."</i></blockquote><div style="text-align: justify;">A obra entrelaça revoluções e fantasma; incesto, corrupção e loucura, tratando tudo com uma naturalidade inerente somente ao realismo fantástico, ao qual pertence. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nas notas da tradutora, podemos encontrar: <i>"A importância contrapontística existencial dos insetos no romance é facilmente verificável. Basta lembrar as borboletas amarelas de Mauricio Babilonia, os escorpiões que rondavam o banho de Meme e de Rebeca, a entomologia de Gastón, as formigas ruivas decisivas neste capítulo final, as sanguessugas que quase matam Úrsula , a mordida de escorpião que deixa Arnaldo de Vilanova impotente etc... "</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />
</i></div><div style="text-align: justify;">Coincidência ou não, minha edição de "Cem Anos de Solidão" é o único livro que possuo que está sendo carcomido pelas traças.</div><div style="text-align: justify;">De estilo único e excêntrico, esta obra, que edifica-se entre as mais importantes da literatura latino-americana, é uma leitura mais que prazerosa, surreal.<br />
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Acredito que um filme não conseguiria contemplar com louvor as inúmeras tramas e enlaces desta obra magnífica.</div>Yannahttp://www.blogger.com/profile/09658504464638836216noreply@blogger.com0