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quinta-feira, 24 de junho de 2010

"Pollyanna Moça", Eleanor H. Porter

O livro "Pollyanna", escrito por Eleanor H. Porter, é um clássico da literatura infanto-juvenil, publicado em 1913. A primeira das diversas sequências da obra é "Pollyanna Moça", escrita em 1915.
Pollyanna Whittier, nossa protagonista, é uma jovem órfã que vai viver com a tia em Beldingsville no primeiro livro. Com a sua mágica maneira de ver e viver a vida, ela abre sorrisos e traz a felicidade para a pequena cidade onde vai morar.
Após ter transformado a vida de todos na cidadezinha, as virtudes e benevolência de Pollyanna, bem como sua capacidade de levar alegria por onde passa, fazem com que ela receba um convite para passar o verão com Mrs. Carrew, uma senhora viúva, que sofre pelo desaparecimento de seu querido sobrinho, Jamie. Mrs. Carrew é uma senhora amarga, que Pollyanna tem dificuldade de conquistar e a cidade grande onde ela mora é cheia de pessoas frias, que não sorriem e não se comprimentam ao passar uns pelos outros na rua, como nota Pollyanna. Isso faz com que a menina comece a se sentir muito mal por não conseguir fazer amigos. Até que ela conhece, em um parque da cidade, um garoto deficiente físico chamado Jamie, que se torna mais um de seus grandes amigos. Ele é muito pobre e tem condições de vida muito precárias, ao passo que Mrs. Carrew é extremamente rica, cheia de posses. Além disso, Jamie poderia ter a mesma idade do sobrinho desaparecido de Mrs. Carrew. É o suficiente para Pollyanna, que, apesar de não conseguir fazer Mrs. Carrew acreditar completamente que aquele seria seu verdadeiro Jamie, consegue fazer com que ela o ame como tal. Assim, Pollyanna consegue transformar mais vidas e fazer mais sorrisos.
Anos depois, com Pollyanna já crescida, o marido de sua tia falece e a família se vê em uma situação financeira bastante desgradável. No entanto, aos poucos essa situação vai sendo amenizada com a ajuda dos amigos feitos e os corações que a menina alegrou durante a vida.
O encanto de ambos os livros, no entanto, não está em sua história, nem nas características de seus personagens, mas na lição de otimismo e esperança que nossa protagonista transmite com seu "jogo do contente", a verdadeira mágica de Pollyanna. A seguir, um trecho do livro, onde a irmã de Mrs. Carrew explica a ela o que seria o jogo do contente de Pollyanna:

"[...] Parece que ela era órfã de mãe e filha de um pastor pobre do Oeste, criada pela Sociedade das Senhoras Auxiliadoras com doações de Missionários, vindas em barris. Quando era uma menininha, quis uma boneca, e tinha confiança que ela viesse no próximo barril de doações; acontece que nada veio, a não ser um par de muletas. Claro, ela começou a chorar, e foi então que o pai lhe ensinou um jogo para descobrir algo de bom em todas as coisas que aconteciam. Ele disse a ela que podia começar ficando muito contente por não precisar das muletas. Esse foi o início. Pollyanna disse que era um jogo adorável, que vinha jogando desde então; e que quanto mais difícil fosse encontrar um motivo para ficar alegre, mais divertido era, a não ser quando parecia impossível, como às vezes acontecia."

A filosofia de Pollyanna não é apenas absolutamente linda, como é também recomendável, afinal, por mais difícil que a vida e as situações que ela impõe possam parecer, nada deve acabar com nossa alegria de viver. Há quem diga que o jogo é coisa para bobos, enquanto isso, eu gostaria de ter a sabedoria e a nobreza de espírito suficientes para conseguir jogá-lo sempre. Devemos tentar, ao máximo, fazer de nossos momentos tristes apenas momentos e não transformá-los em amargura, ódio ou rancor, porque esses sentimentos são terrivelmente desastrosos não apenas para os que estão perto de nós, mas, principalmente, para nós mesmos. Adotar a filosofia de Pollyanna não é se contentar com o que se tem e parar de lutar, de planejar, mas sim não se deixar esmorecer permanentemente com as perdas e os obstáculos. A menina nos ensina a ir em frente e que a vida só vale a pena se tivermos com quem dividí-la, porque o amor e a amizade são nossos bens mais preciosos; sem eles não somos nada.
Crianças, jovens, adultos, idosos, todos merecem uma "dose" de Pollyanna. É por isso que os livros são recomendáveis para todas as idades e todas as histórias de vida. Infelizmente, nunca tive a oportunidade de ler o primeiro livro, mas verdadeiramente acredito que "Pollyanna" seja um romance capaz de superar todas as expectativas.

Video-curiosidades:

Não existe adaptação cinematográfica ou televisiva para o livro "Pollyanna Moça".

Em 1920, o cinema mudo trouxe, com a direção de Paul Powell, uma clássica adaptação do livro "Pollyanna" de Eleanor H. Porter.
Em 1960, foi lançado, na direção de David Swift, o filme "Pollyanna", com o qual tive contato e posso afirmar que parar para ver esse filme é um ganho de tempo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder

"Querida Hilde,Se o cerébro humano fosse tão simples ao ponto de podermos entendê-lo, nós seríamos tão idiotas que não conseguiríamos entendê-lo.     Um abraço,                                                                                               Papai"O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder


Editado pela primeira vez em 1991, “O Mundo de Sofia” (cujo título original é Sofies verden), de Jostein Gaarder, não é apenas um livro sobre filosofia, nem tampouco um mero romance fictício. É um inteligentíssimo artifício utilizado pelo apaixonado autor para encantar o público leigo com relação à filosofia.
O Mundo de Sofia faz um paralelo entre a história de Sofia Amundsen, uma menina de 14 anos, que vive na Noruega no ano de 1990, e a história da busca da humanidade pela sabedoria (sophia, em grego). O próprio título da obra é, portanto, uma metáfora, que enfatiza sua duplicidade.
Próximo a seu aniversário de 15 anos, a garota começa a receber cartões postais, vindos do Líbano, de um major misterioso para uma tal de Hilde Muller. Concomitantemente, um filósofo desconhecido começa a lhe mandar um curso de filosofia pelo correio. Cada momento da vida de Sofia, a partir de então, se entrelaça com os conhecimentos adquiridos no curso de uma maneira criativa e instigante. Sofia começa a questionar o mundo em que vive e descobre, por fim, que tudo que está a sua volta nada mais é que um fruto da imaginação do mesmo homem que lhe manda cartões postais, impressa em um livro que este escreveu para dar de presente a filha dele no aniversário de 15 anos dela.
O best-seller, que foi traduzido para mais de 40 idiomas, atravessa a história da filosofia desde os filósofos naturalistas, passando por grandes nomes como Sócrates, Descartes e Freud, até os filósofos contemporâneos. Porém, o que mais me encantou na obra foi a capacidade do autor de conseguir apresentar as respostas que cada filósofo encontrou para os mistérios da vida e, ao mesmo tempo, dar margem para o leitor construir sua  própria linha de pensamento. O livro nos faz "sair da proteção dos pêlos do coelho" e nos mostra a importância dos questionamentos filosóficos nas nossas vidas e na evolução de toda a ciência. Perguntas simples como "quem somos", "de onde viemos" e "existe verdadeiramente um Deus" tomam conotações completamente diferentes através da visão do autor e dos filósofos de outrora. O fascínio da obra, no entanto, está no fato de que ela não nos dá as respostas, mas nos incita a fazer as perguntas, para, assim, chegarmos a nossas próprias conclusões ou, pelo menos, iniciar o processo de questionamento sobre a vida, o mundo e a natureza.
"Penso, logo existo", disse Descartes. Precisamos, portanto, aprender a pensar filosoficamente e analisar as coisas que estão a nossa volta e dentro de nós para, assim, concretizar nossa existência como indivíduos singulares, naturais e como cidadãos. Ou seja, só seremos seres reais para nós mesmos, para o meio em que vivemos e para as pessoas com quem convivemos quando sairmos da alienação do cotidiano e começarmos a tentar desvendar nossa existência, através de questionamentos que poderão ou não nos dar as respostas que almejamos. O livro nos ajuda a fugir da ignorância rotineira e perceber que há algo muito maior acima, em meio e dentro de nós, que só precisamos prestar um pouco mais de atenção para conseguir enxergar.
Finalizadas as divagações, espero ter conseguido apresentar a tamanha riqueza e beleza do livro, que vai muito além da própria literatura. Para os leigos em filosofia, como eu, é o livro ideal para compreender um pouco melhor a história da humanidade, que é a nossa própria história, e a busca pela sabedoria. Apesar de ser um pouco longo e, por vezes, cansativo, acredito que essa leitura é um ganho não apenas literário, mas principalmente humano, afinal:

"Quem, de três milênios, não é capaz de se dar conta, vive na ignorância, na sombra, à mercê dos dias, do tempo"Johaan Goethe


Video-curiosidades:

Em 1999, o livro foi adaptado para um filme norueguês que não foi, porém, muito divulgado para além da Noruega.
Na Austrália, a obra foi apresentada em uma minissérie.