"A Megera Domada", cujo título original é "The Taming of the Shrew", é uma comédia de costumes escrita por William Shakespeare entre 1593 e 1594. A peça nasceu de uma adaptação feita pelo autor de antigos contos de tradição oral.
É a história de Catarina, a indomável filha mais velha do senhor Batista, que, aparentemente, não se deixa subjugar por homem nenhum. O pai, que possui também a doce Bianca como filha, impõe, então, que a caçula só se case depois de sua irmã. Assim, inicia-se o tormento dos inúmeros pretendentes de Bianca, que arquitetam um plano para fazer a "brusca, irritada e voluntariosa" Catarina casar-se e encontram como pretendente Petruchio, um fidalgo de Verona, que tudo que busca é um bom dote. A brutalidade de Petruchio em meio à polidez dos cavalheiros pretendentes de Bianca faz parte da satirização da sociedade dada pelo autor.
O casamento acontece, aparentemente, sem a permissão da moça e, após um árduo tratamento psicológico, Petruchio finalmente consegue "domar" a megera Catarina, que finaliza com um discurso, que possui o seguinte trecho:
"[...] O mesmo dever que prende o servo ao soberano prende, ao marido, a mulher. E quando ela é teimosa, impertinente, azeda, desabrida, não obedecendo às suas ordens justas, que é então senão rebelde, infame, uma traidora que não merece as graças de seu amo e amante? Tenho vergonha de ver mulheres tão ingênuas que pensam em fazer guerra quando deviam ajoelhar e pedir paz. Ou procurando poder, supremacia e força quando deviam amar, servir, obedecer. Por que razão o nosso corpo é liso, macio, delicado, não preparado para a fadiga e a confusão do mundo, senão para que o nosso coração e o nosso espírito tenham delicadeza igual ao exterior? Vamos, vamos, vermes teimosos e impotentes. Também já tive um gênio tão difícil, um coração pior. E mais razão, talvez, pra revidar palavra por palavra, ofensa por ofensa. Vejo agora, porém, que nossas lanças são de palha. Nossa força é fraqueza, nossa fraqueza, sem remédio. E quanto mais queremos ser, menos nós somos. Assim, compreendido o inútil desse orgulho, devemos colocar as mãos, humildemente, sob os pés do senhor. Para esse dever, quando meu esposo quiser, a minha mão está pronta, se isso causar-lhe prazer."
Como é próprio da comédia de costumes, a peça satiriza as tradições e as situações rotineiras daquele contexto social, proporcionando uma análise dos costumes e comportamentos humanos. São exemplos de códigos sociais da época: o costume do primeiro casamento ser o da irmã mais velha, a necessidade de obter a permissão do pai antes de cortejar a filha e a submissão da mulher com relação a seu esposo. A obra tem como temas principais: o matrimônio, a guerra entre os sexos e as conquistas amorosas, como é típico dos teatros shakespeareanos. O que diferencia essa peça de outras, como "Sonho de uma Noite de Verão" (1595-1596) e "Muito Barulho por Nada" (1598-1599), é a dedicação de boa parte da obra à vida matrimonial, ou seja, às situações que sucedem a cerimônia do casamento.
A obra escrita por William Shakespeare me agradou muito de início, por seu caráter cômico e divertido. No entanto, a submissão de Catarina e o machismo de seu discurso final me decepcionaram, apesar de retratarem uma realidade, que, na época, era incontestável. Não obstante o caráter machista da obra, o autor foi audacioso ao demonstrar um outro ponto de vista, que, mais tarde, seria chamado de feminismo e ganharia um grande espaço na sociedade.
Apesar da decepção final, posso afirmar que "A Megera Domada" é uma bela e curta comédia de costumes, interessante para todos aqueles que gostem do teatro como estilo literário e apreciem uma escrita divertida, interessante e original, digna somente de Shakespeare.
Video-curiosidades:
Em 1967, ninguém menos que Elizabeth Taylor e Richard Burton deram vida à Catarina e Petruchio, em um filme de Franco Zefirelli.
Em 1999, Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith tiveram a originalidade da obra de Shakespeare como base para a comédia romântica moderna "Ten things I hate about you" ("Dez coisas que eu odeio em você), um filme que eu, particularmente, adoro.
No Brasil, a história foi adaptada e transformada, por Walcyr Carrasco, na telenovela "O Cravo e a Rosa" (2000-2001), tendo os atores Adriana Esteves e Eduardo Moscovis, como a Catarina e o Petruchio brasileiros.
As adaptações tem uma maior capacidade de conquistar o público de hoje por se adequarem melhor à mentalidade da sociedade atual.