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terça-feira, 18 de maio de 2010

"A Megera Domada", William Shakespeare

"A Megera Domada", cujo título original é "The Taming of the Shrew", é uma comédia de costumes escrita por William Shakespeare entre 1593 e 1594. A peça nasceu de uma adaptação feita pelo autor de antigos contos de tradição oral.
É a história de Catarina, a indomável filha mais velha do senhor Batista, que, aparentemente, não se deixa subjugar por homem nenhum. O pai, que possui também a doce Bianca como filha, impõe, então, que a caçula só se case depois de sua irmã. Assim, inicia-se o tormento dos inúmeros pretendentes de Bianca, que arquitetam um plano para fazer a "brusca, irritada e voluntariosa" Catarina casar-se e encontram como pretendente Petruchio, um fidalgo de Verona, que tudo que busca é um bom dote. A brutalidade de Petruchio em meio à polidez dos cavalheiros pretendentes de Bianca faz parte da satirização da sociedade dada pelo autor.
O casamento acontece, aparentemente, sem a permissão da moça e, após um árduo tratamento psicológico, Petruchio finalmente consegue "domar" a megera Catarina, que finaliza com um discurso, que possui o seguinte trecho:

 "[...] O mesmo dever que prende o servo ao soberano prende, ao marido, a mulher. E quando ela é teimosa, impertinente, azeda, desabrida, não obedecendo às suas ordens justas, que é então senão rebelde, infame, uma traidora que não merece as graças de seu amo e amante? Tenho vergonha de ver mulheres tão ingênuas que pensam em fazer guerra quando deviam ajoelhar e pedir paz. Ou procurando poder, supremacia e força quando deviam amar, servir, obedecer. Por que razão o nosso corpo é liso, macio, delicado, não preparado para a fadiga e a confusão do mundo, senão para que o nosso coração e o nosso espírito tenham delicadeza igual ao exterior? Vamos, vamos, vermes teimosos e impotentes. Também já tive um gênio tão difícil, um coração pior. E mais razão, talvez, pra revidar palavra por palavra, ofensa por ofensa. Vejo agora, porém, que nossas lanças são de palha. Nossa força é fraqueza, nossa fraqueza, sem remédio. E quanto mais queremos ser, menos nós somos. Assim, compreendido o inútil desse orgulho, devemos colocar as mãos, humildemente, sob os pés do senhor. Para esse dever, quando meu esposo quiser, a minha mão está pronta, se isso causar-lhe prazer."

Como é próprio da comédia de costumes, a peça satiriza as tradições e as situações rotineiras daquele contexto social, proporcionando uma análise dos costumes e comportamentos humanos. São exemplos de códigos sociais da época: o costume do primeiro casamento ser o da irmã mais velha, a necessidade de obter a permissão do pai antes de cortejar a filha e a submissão da mulher com relação a seu esposo. A obra tem como temas principais: o matrimônio, a guerra entre os sexos e as conquistas amorosas, como é típico dos teatros shakespeareanos. O que diferencia essa peça de outras, como "Sonho de uma Noite de Verão" (1595-1596) e "Muito Barulho por Nada" (1598-1599), é a dedicação de boa parte da obra à vida matrimonial, ou seja, às situações que sucedem a cerimônia do casamento.

A obra escrita por William Shakespeare me agradou muito de início, por seu caráter cômico e divertido. No entanto, a submissão de Catarina e o machismo de seu discurso final me decepcionaram, apesar de retratarem uma realidade, que, na época, era incontestável. Não obstante o caráter machista da obra, o autor foi audacioso ao demonstrar um outro ponto de vista, que, mais tarde, seria chamado de feminismo e ganharia um grande espaço na sociedade.
Apesar da decepção final, posso afirmar que "A Megera Domada" é uma bela e curta comédia de costumes, interessante para todos aqueles que gostem do teatro como estilo literário e apreciem uma escrita divertida, interessante e original, digna somente de Shakespeare.

Video-curiosidades:




Em 1967, ninguém menos que Elizabeth Taylor e Richard Burton deram vida à Catarina e Petruchio, em um filme de Franco Zefirelli.

Em 1999, Karen McCullah Lutz e Kirsten Smith tiveram a originalidade da obra de Shakespeare como base para a comédia romântica moderna "Ten things I hate about you" ("Dez coisas que eu odeio em você), um filme que eu, particularmente, adoro.

No Brasil, a história foi adaptada e transformada, por Walcyr Carrasco, na telenovela "O Cravo e a Rosa" (2000-2001), tendo os atores Adriana Esteves e Eduardo Moscovis, como a Catarina e o Petruchio brasileiros.

As adaptações tem uma maior capacidade de conquistar o público de hoje por se adequarem melhor à mentalidade da sociedade atual.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

"Helena", Machado de Assis

"Helena" é um romance urbano pacato que, não por sua história em si, mas por possuir um caráter muito semelhante aos das obras de José de Alencar (como "Cinco Minutos" e "A Viuvinha"), me intrigou bastante desde o início da leitura.
A história se inicia com a morte do Conselheiro Vale e, como consequencia de seu testamento, a entrada de Helena, filha do Conselheiro, na vida e na casa de Estácio e Dona Úrsula, irmão e tia de Helena, respectivamente. A trama se desenrola em volta de duas situações: a primeira é que Helena costuma, por motivos misteriosos, visitar uma casa, onde mora um homem desconhecido e a segunda é que, enquanto a trama se desenrola, os dois irmãos se apaixonam.
No final do livro, descobrimos, enfim, que o homem desconhecido é o verdadeiro pai de Helena, mas, ainda que ela e Estácio não sejam irmãos, o amor deles é impossível perante a sociedade, o que nos retrata levemente o caráter conservador de Machado de Assis. O desfecho do livro se dá com a morte de Helena, por vergonha e por amor, como é típico do romantismo.

Antes de "Helena", tive duas experiências com o autor: "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas". O que me intrigou no livro, portanto, foi não encontrar abertamente a crítica, ironia ou qualquer expressão de caráter realista que estavam em minhas expectativas, já que são próprias das outras obras que havia lido. Muitas vezes no decorrer da leitura, o romance exacerbado e a personalidade nobre de todos os personagens adquiriu, para mim, em vista do histórico que eu atribuía ao autor, uma aparência irônica, que logo nas próximas linhas se esfacelava. Aos poucos, eu pude perceber que aquela não se tratava de uma obra realista, mas sim própria do romantismo.
Na verdade, "Helena", escrita no ano de 1876, é uma obra atribuída à primeira fase da carreira de Machado de Assis e, bem como "Ressurreição" (1872), "A Mão e a Luva" (1874) e "Iaiá Garcia" (1878), possui um caráter romântico. A partir de 1881 inicia-se a segunda fase, onde é escrito o primeiro romance realista brasileiro: "Memórias Póstumas de Brás Cubas", que, de tão realista, não adquiriu minha afinidade, confesso.
"Helena" é uma leitura leve e curta que indico para aqueles que apreciam o romantismo ou para os que procuram conhecer melhor a literatura brasileira.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Apresentação

Me sinto, no mínimo, audaciosa ao criar esse blog, onde não somente farei críticas amadoras sobre livros da literatura nacional e internacional, mas também reflexões a partir dos temas abordados nesses (na maioria das vezes, diversos). A ousadia está no fato de divagar sobre assuntos que não são de minha área de estudo e que já foram abordados e analisados por pessoas que tem mais “autoridade” que eu no quesito literatura. Assim, estando sujeita ao erro na palavra, farei grande esforço para dar minha opinião, sem fazer comentários e interpretações possivelmente errôneas sobre essa arte. Após expor minha imaturidade literária, espero que o leitor, amante da literatura, como eu, perdoe minhas possíveis falhas nas postagens futuras e até apresente uma opinião ou conhecimento divergente do meu para que, assim, possamos construir um alto nível de análise das obras e experiência no mundo da livros.